Nos corredores
Atraso de Lenine
O possível depoimento de Carlinhos Cachoeira amanhã à CPMI deve atrasar a audiência de um de seus parceiros que supostamente tem mais ligações com Paraná. Flagrado em interceptações telefônicas e de e-mails, Lenine Araújo de Souza mencionou várias vezes a possibilidade da expansão dos negócios do grupo no estado. Ele deve falar à comissão na semana que vem.
No pé da subprocuradora
O senador paranaense Sérgio Souza (PMDB) foi o autor do requerimento que pede a quebra de sigilo telefônico da subprocuradora da República, Claudia Sampaio. A proposta estava entre as que deveriam ser analisadas pela CPMI do Cachoeira na semana passada, mas perdeu espaço quando a comissão decidiu enviar um questionário por escrito para o procurador-geral, Roberto Gurgel, sobre as investigações que envolvem o contraventor. Gurgel é marido de Claudia.
Lei de Acesso à Licitação
Na onda da transparência da Lei de Acesso à Informação, o deputado federal Zeca Dirceu (PT) apresentou neste mês um projeto para que todas as licitações públicas sejam transmitidas em tempo real pela internet. Segundo ele, a ideia é evitar "todo tipo de privilégio e benefício que não seja direcionado ao interesse público". Pela proposta, a regra deve valer para municípios, estados e União.
Se uma CPI fosse um programa de televisão, Carlinhos Cachoeira teria várias perguntas de R$ 1 milhão para responder. Como não é, dava para sintetizar tudo em uma só questão. Afinal, quais figurões da política receberam dinheiro do bicheiro e o que eles ofereceram em troca? A resposta mais provável, claro, será um sonoro silêncio. Mas e se ele resolvesse contar tudo? Na verdade, seria o único jeito de tirar a comissão de um rumo cada vez mais patético.
Desde a semana passada, quando o ex-líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi flagrado enviando um torpedo "tranquilizando" o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), paira um clima de que os parlamentares não estão na CPMI para investigar, mas para apaziguar. É como um jogo de xadrez em que os oponentes abdicaram das jogadas ofensivas e só fazem movimentos para proteger seus reis.
As majestades, no caso, são três governadores além de Cabral, o goiano Marconi Perillo (PSDB) e o brasiliense Agnelo Queiroz (PT). Ao não convocá-los para falar sobre as supostas ligações com o grupo de Cachoeira, deputados e senadores dão uma tacada perigosa. Atraem um problema que seria externo ao Congresso Nacional para dentro do Legislativo.
Exemplo disso é que nos últimos dias se fala menos do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e mais dos três governadores. Outros deputados federais ligados a Cachoeira também caíram no ostracismo do noticiário. Se não falar de gente de fora, a CPMI vai precisar mirar em alvos internos.
Não que não interessem as relações parlamentares do bicheiro, mas os vínculos dele com o Poder Executivo pelo Brasil afora precisam de respostas mais urgentes. Demóstenes era realmente um congressista influente, mas não tinha o orçamento de um estado inteiro na mão. E, no caso do Rio, trata-se do segundo maior orçamento entre as 27 unidades da federação.
Pouco se aprofundou também a discussão sobre os interesses de parceiros do contraventor em outros estados, como Paraná, Mato Grosso e Santa Catarina. Segundo interceptações feitas pela Polícia Federal na operação Monte Carlo, foram detectadas movimentações do grupo para reativar o serviço de loterias nesses três estados. E no Paraná, vale destacar, Cachoeira continua sendo sócio de uma empresa que controlou um sistema legal de apostas eletrônicas autorizado pelo governo entre 2002 e 2004.
Tudo passa por uma necessidade de se fechar o ciclo de investigações, de esclarecer dúvidas. Não custa nada a Marconi Perillo, por exemplo, ir à comissão para falar porque seu nome foi citado 237 vezes em conversas de Cachoeira com parceiros. Cabral também não sofrerá um constrangimento maior do que a dancinha do guardanapo na cabeça em Paris.
Por enquanto, contudo, é mais fácil acreditar na lei do silêncio. Caso Cachoeira deponha mesmo amanhã o que depende mais uma vez do Supremo Tribunal Federal , deve entrar mudo e sair calado. Mesmo gostando de jogo, ele não deve encarar de frente a pergunta de R$ 1 milhão.