Eram quase 23 horas do dia 17 de junho quando os deputados federais Afonso Florence (PT-BA) e Fernando Francischini (SD-PR) travaram no plenário da Câmara a discussão que sintetiza o primeiro semestre da política paranaense e nacional. Florence foi ministro do Desenvolvimento Agrário do governo Dilma Rousseff (PT), entre janeiro de 2011 e março de 2012. Francischini, secretário de Segurança Pública da gestão Beto Richa (PSDB), entre dezembro de 2014 e maio de 2015.
Em meio à votação de uma emenda que previa dedução de impostos para professores, o petista baiano resolveu tirar uma casquinha da trágica operação policial que acabou nos 213 feridos da Batalha do Centro Cívico. “Eu quero dizer que o DEM e o PSDB – o exemplo é o PSDB do Paraná – não deviam dar cacetada em professor quando este luta por salário.”
Nova batalha
Aliados de Beto Richa em Brasília antecipam que o governador está preparando esforços para uma nova batalha na Assembleia Legislativa: a aprovação de uma proposta de previdência complementar para os servidores. O projeto já fazia parte das primeiras versões do pacotaço enviado pelo governo ao Legislativo.
Mudança de estratégia?
A necessidade de uma vitória rápida teria feito o governador pensar novamente em mudanças no governo. A principal delas seria a substituição de Eduardo Sciarra (PSD) pelo deputado federal Valdir Rossoni (PSDB) na Casa Civil. Sciarra iria para a presidência da Copel.
Efeito colateral
A troca na articulação da gestão Richa poderia gerar um efeito colateral negativo e imediato na Assembleia. Se Rossoni entrar no governo, o Solidariedade do ex-secretário de Segurança Fernando Francischini sai imediatamente da base de Richa. O mesmo pode acontecer com DEM e PSD.
Falando em nome da liderança do Solidariedade, o paranaense retrucou e disse que não entendia de onde havia surgido “essa fixação pelo PSDB do Paraná”. “Mas, se formos mais a fundo, sua excelência teria que olhar para o próprio umbigo, porque a presidente Dilma daqui a pouco estará presa. Daqui a pouco estará com o impeachment batendo à porta.”
Na tréplica, Florence cravou: “Richa vai antes! Richa vai antes!” Ao fundo, é possível escutar manifestações de outros deputados no plenário com gritos de “Richa, Richa”. Foi assim durante todos os últimos meses – quando a oposição aperta as acusações contra o governo federal, petistas usam Richa como válvula de escape.
A fórmula inclusive tem sido usada como argumento de defesa pelo governador. A ideia difundida por ele é que a crise no estado foi inflada para servir como instrumento da guerra política nacional pelos petistas. Cada um encara a realidade como quer.
O fato é que a paridade nos escândalos estaduais e federais é ruim para os dois lados. Exemplo disso é que a aprovação de Dilma no Paraná não aumentou após a batalha do Centro Cívico e as investigações sobre corrupção na Receita Estadual. Ambos foram de mãos dadas para o buraco da impopularidade, um sinal de que a infantil teoria do “inimigo do meu inimigo é meu amigo” não funciona assim tão bem quanto os dois lados tentam mostrar.
Dilma e Richa são protagonistas de dois dramas com roteiros parecidíssimos, mas que não são necessariamente interligados. Correm em paralelo. Pedaladas fiscais e denúncias de uso de dinheiro ilícito nas campanhas permeiam perigosamente ambas as histórias.
Outras coincidências intrigantes são a “sede” dos escândalos, Londrina, e a presença do mesmo personagem-bomba, Alberto Yousseff. O doleiro-delator que distribuía dinheiro desviado da Petrobras colabora desde a semana passada com as investigações sobre a máfia da Receita paranaense. Ainda assim, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa – e ambas não cheiram bem.
Nessa linha, o debate acalorado da dupla Florence-Francischini termina com a dúvida do quem vai antes. Aliás, só o uso da palavra “antes” e da expressão “olhar para o próprio umbigo” mostra que ambos os lados sabem que não vão se salvar. Na prática, estão à espera de um empate técnico – afinal, a derrota já foi empurrada para as costas da sociedade faz tempo.
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