A declaração de amor de Carlos Lupi a Dilma Rousseff soa apenas à canastrice, mas diz muita coisa sobre o momento político em Brasília. O ministro do Trabalho pode até ser um admirador da presidente. Só que o que ele parece amar mesmo é o poder.
Caso Lupi seja obrigado a tomar o caminho da roça, como já ocorreu com outros cinco ex-colegas envolvidos em denúncias de corrupção, vai ficar num mato sem cachorro. Tudo indica que ele forçaria a bancada de 26 deputados federais e cinco senadores do PDT a migrar para a oposição. A mudança provocaria estragos profundos no planejamento da legenda pelo Brasil afora os maiores deles no Paraná e no Rio Grande do Sul.
Enfraquecido no restante do país, o partido tem candidatos competitivos nas eleições para as capitais dos dois estados. O problema é que o sucesso de Gustavo Fruet, em Curitiba, e de José Fortunati, em Porto Alegre, depende diretamente do apoio da base aliada de Dilma. Mudar a estratégia a menos de um ano da disputa seria suicídio.
Caso Lupi seja mesmo demitido, ainda há a possibilidade de a presidente conseguir manobrar e manter os pedetistas no governo. Nesse xadrez, surgem sinais de uma troca no primeiro escalão o PDT assumiria o Ministério da Agricultura e o PMDB ficaria com o Trabalho. Presidente do PDT no Paraná, Osmar Dias seria peça-chave dessas alterações, assumindo a Agricultura.
À primeira vista, as substituições não são tão complexas. O problema é que, apesar de terem o mesmo enredo, nenhuma crise política recente no governo Dilma é igual. O PDT não é o PR, o PMDB ou o PCdoB de Orlando Silva e Aldo Rebelo. É um partido que precisa ser abatido à bala, como diria Lupi.
Qualquer movimento brusco nas próximas semanas pode ser fatal para a votação mais importante para o governo neste fim de ano no Congresso Nacional. O principal motivo: a proposta de emenda à Constituição que renova a Desvinculação das Receitas da União (DRU) até 2015 já passou em primeiro turno pela Câmara dos Deputados na semana passada, porém ainda sobra tempo para transformá-la em uma guerra. Com a prorrogação da DRU, o governo manterá o direito de usar livremente 20% da arrecadação federal.
O texto precisa ser votado em dois turnos na Câmara e no Senado e a aprovação depende de maioria de três quintos. No primeiro teste entre os deputados, o governo conseguiu 369 votos 61 a mais do que os 308 necessários. Portanto, seria correto imaginar que os 26 votos do PDT não fariam diferença no segundo turno.
A questão é que não é bem assim que a banda toca na Praça dos Três Poderes. Qualquer mudança na maré serve para atiçar a chamada "bancada gelatina" na Câmara, um grupo de aproximadamente 80 deputados do PR, PTB, PP e PSC que barganha a cada votação com o Palácio do Planalto. Somando o PDT e a oposição ao pessoal da gelatina, o time fica com cerca de 200 nomes, grande o suficiente para atrapalhar a aprovação de emendas.
Aí nascem os pesadelos de Dilma o momento em que a presidente é forçada a negociar dificuldades no parlamento em troca de facilidades no governo. É essa engrenagem que se transforma em uma fonte inacabável de escândalos e corrupção. O pior é que em cada crise ela parece mais forte.
Com tantos interesses em jogo, fica difícil imaginar qualquer brecha para o "amor", como tentou tergiversar Lupi. Não há perspectiva de um final feliz, como nas comédias românticas. Estamos assistindo a um filme de terror.
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Nos corredores
Vargas e o Senado
Enquanto há indefinições sobre a possível candidatura de Gleisi Hoffmann a governadora em 2014, o deputado André Vargas já se articula em Brasília como nome do PT para o Senado. O melhor cenário para essa hipótese é que Osmar Dias (PDT) volte a concorrer ao Palácio Iguaçu. A composição também evitaria um confronto entre Osmar e o irmão Alvaro (PSDB) pela única vaga para senador em disputa.
Em busca de um relator
Com a ida de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para o Ministério do Esporte, o governo está à caça de um novo relator para o Código Florestal na Câmara. A proposta, que deve ser votada no Senado até o final do mês, sofreu modificações e voltará à análise dos deputados. Por enquanto, o favorito na disputa é o deputado paranaense e ex-ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, que acaba de trocar o PMDB pelo PSD.
FAO no Paraná
Ex-secretário estadual da Agricultura, Walter Bianchini tem participado de discussões preliminares sobre a instalação de um escritório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no Paraná. Pioneira, a ideia é fazer uma parceria com a hidrelétrica de Itaipu para o desenvolvimento de projetos de cooperação entre países emergentes e em desenvolvimento. Desde junho a FAO é dirigida pelo brasileiro José Graziano.
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Qualquer movimento brusco nas próximas semanas [de demissão de ministros] pode ser fatal para a votação mais importante para o governo neste fim de ano no Congresso. O principal motivo: a proposta de emenda à Constituição que renova a Desvinculação das Receitas da União (DRU) até 2015.
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