Nos corredores
De Aécio para Fruet
O senador tucano Aécio Neves comentou na última terça-feira o que pensa sobre o destino do ex-companheiro de PSDB, Gustavo Fruet. Além de chamar o ex-deputado de "amigo", Aécio fez questão de deixar portas abertas. "Não é pelo fato de alguém estar em outro partido político que vai deixar de ter afinidades conosco ou que uma nova filiação vai impedir uma convergência futura", disse.
Efeito Jaqueline
Sob efeito da absolvição de Jaqueline Roriz (PMN) na semana passada, o deputado paranaense Fernando Francischini (PSDB) vai pedir mais uma semana para entregar o relatório do pedido de cassação do colega Valdemar da Costa Neto (PR), supostamente envolvido em irregularidades no Ministério do Transporte. O tucano estuda maneiras de não deixar o caso esfriar. A votação do relatório no Conselho de Ética deve ficar para o dia 21 de setembro.
Encruzilhada policial
Dilma está enquadrando toda a base aliada no Congresso para barrar o atual formato de regulamentação da Emenda 29 e, principalmente, engavetar a PEC 300, que trata do piso salarial nacional de bombeiros e policiais militares. Entre os mais desconfortáveis com a situação está o deputado paranaense Ratinho Júnior, líder do PSC. Ele acabou de declarar apoio formal à PEC 300.
Nem bem chegou ao nono mês no Palácio do Planalto e Dilma Rousseff parece ter contraído o mesmo vírus que abateu Lula quatro anos atrás. Transtornado pela possibilidade de perder R$ 40 bilhões na arrecadação com o fim da CPMF, o então presidente definiu-se na época como uma "metamorfose ambulante". O autorretrato era uma tentativa de justificar o fato de ter sido um ferrenho opositor à cobrança do tributo no governo Fernando Henrique Cardoso, mas que de repente mudou de ideia.
Durante a campanha eleitoral de 2010, Dilma jurou de pés juntos que era favorável à regulamentação da Emenda 29 e que não patrocinaria a criação de um novo imposto para financiar a saúde. Desde a última segunda-feira, no entanto, passou a dar sinais camaleônicos de que também tem exagerado nas doses de Raul Seixas. Deixou claro que não é mais favorável à emenda do jeito que está, apenas com uma nova fonte de recursos para o setor.
De volta ao passado, vale recordar que Lula ficou ensandecido quando a oposição conseguiu barrar a CPMF no Senado. Em dezembro de 2007, o governo precisava de 49 votos para prorrogar a cobrança por mais quatro anos. Conseguiu apenas 45.
Vários artífices da derrota entre os 35 senadores que votaram contra a proposta acabaram perseguidos pessoalmente por Lula nas eleições do ano passado. Entre eles, não se reelegeram os tucanos Arthur Virgilio (AM) e Tasso Jereissati (CE). Em parte por remorso da CPMF, o ex-presidente também chegou a falar em extirpar o DEM da política.
Está certo que o PSDB tem pouca autoridade no assunto (o governo FHC tirou várias lasquinhas da CPMF), mas é terrível aceitar que o debate seja interditado pelos maus bofes do governante de plantão. Como Lula fez há quatro anos, Dilma dá a deixa de que vai tratar o tema como uma guerra entre pobres e ricos. Uma pena.
Em um ambiente político dominado por denúncias de corrupção, é mais do que interessante aprofundar a discussão sobre carga tributária e saúde. Seria um sinal de evolução democrática. É aí que se distinguem (ou pelo menos deveriam se distinguir) as ideologias.
Não há problema no fato de o PT, um partido originalmente de esquerda, defender um novo imposto para a saúde. A deformação é prometer uma coisa na eleição e fazer outra quando chega ao poder. Exemplo: será preciso explicar à nova classe média da qual o partido tanto se orgulha o motivo de mais um tributo, apesar dos sucessivos recordes de arrecadação.
Do outro lado, sem os sociais-democratas do PSDB, não sobra muita gente para apimentar a discussão. O DEM até vem tentando se articular como legítimo herdeiro da direita liberal, mas tropeça pelos pecados recentes e pelo mais do mesmo. Caberá a setores da sociedade civil fazer pressão como já aconteceu em 2007.
De qualquer jeito, o episódio será um excelente estudo de caso sobre como se comportam as atuais lideranças políticas brasileiras. Como Dilma vai justificar a mudança repentina de posição? Lula era Lula e a paródia com a metamorfose ambulante era só mais um capítulo do seu enorme anedotário.
Durona e técnica, a atual presidente vai precisar tirar outro coelho da cartola. Se fosse para apostar, diria que ela vai se fazer de estátua a enorme base aliada no Congresso, aquela tão agraciada com ministérios, emendas e cargos, que se vire nos 30 com o novo imposto. A população, como sempre, vai pagar a conta.
Mas será que dessa vez vai deixar barato?
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