Senador-garçom

Roberto Requião (PMDB) fez troça de projetos apresentados no começo do ano legislativo para tentar diminuir benefícios dos senadores. Disse que irá apresentar uma proposta "adaptando" o expediente na Casa para permitir que os senadores possam trabalhar como garçons para complementar a renda. "Há tantos bons restaurantes em Brasília que ninguém vai ficar desempregado", explicou.

Indireta

As três primeiras proposições de Gleisi Hoffmann (PT) justamente cortam regalias. A primeira proíbe a posse de suplentes durante o recesso parlamentar, outra acaba com os 14.º e 15.º salários dos senadores e a terceira regulamenta o teto do funcionalismo público. Com o teto, políticos em mandato seriam proibidos de ultrapassar a remuneração mensal de ministro do STF (R$ 26,7 mil), somando salário à aposentadoria, por exemplo, de ex-governador.

Mistério

Deve ficar só para a próxima semana o anúncio dos escalados para as últimas vagas do segundo escalão do governo federal. Em acordo com o PMDB, Dilma deve apresentar um pacote fechado de nomeações para evitar confusões. Entre os paranaenses, Osmar Dias (PDT), Orlando Pessuti (PMDB) e Rodrigo Rocha Loures (PMDB) devem ser contemplados, mas o suspense sobre o que está sendo oferecido continua.

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Virou coqueluche em Brasília pregar que uma reforma política resolverá tudo o que há de ruim no país. Ao deixar o governo, Lula prometeu dedicar todas as suas forças à proposta, enquanto Dilma Rousseff só se refere a ela como "mãe de todas as reformas" e o Congresso Nacional articula comissões especiais embaladas como celeiros de mudanças revolucionárias. Sim, é muita espuma para pouco chope.Como já ocorreu em 2007, sem sucesso, o cerne da reforma vai girar em torno de alterações nas regras eleitorais, em especial na disputa proporcional (para vereador, deputado estadual e federal). Atualmente, o eleitor vota em um sistema de lista aberta, na qual escolhe primeiro o partido e depois o candidato. Três novas fórmulas serão colocadas à mesa – voto em lista fechada, distrital ou distrital misto.

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Na primeira hipótese, o eleitor escolhe apenas o partido, que apresenta uma lista preordenada de candidatos. Na segunda, o país é dividido em distritos com o mesmo número de eleitores e vencem os candidatos com mais votos, independentemente da sigla. A terceira é um híbrido das duas, metade das cadeiras do parlamento é preenchida por parlamentares distritais e os outros 50% pelos indicados nas listas partidárias.

O resultado dessa discussão desencadeará o andamento dos demais temas. O mais importante deles é o financiamento público de campanha, que abriria a possibilidade de disputas eleitorais mais justas e menos nababescas. Há consenso no Congresso de que o financiamento público só caberia em eleições majoritárias (para prefeito, senador, governador e presidente) e nas proporcionais com voto em lista fechada ou distrital misto – embora especialistas defendam que ele é possível inclusive no modelo atual.

Está bem claro que as regras aplicadas hoje têm problemas. O sujeito que votou no palhaço Tiririca (PR) para "protestar" ajudou indiretamente a eleger candidatos a deputado federal do PT, PC do B, PRB e PT do B. Se a reforma ao menos acabar com as coligações nas eleições proporcionais, já será uma enorme vitória.

O problema, contudo, não está exatamente na lei vigente, mas no desconhecimento das normas e, principalmente, na falência do formato de política partidária adotado no Brasil. De maneira geral, os políticos usam e abusam da desinformação dos eleitores para manter nacos de poder. Em grande parte, as pessoas votam pensando no candidato e não no partido para deputado porque simplesmente se embananam em uma eleição na qual ainda precisam escolher senador, governador e presidente – cargos considerados mais "nobres".

Nada garante que o esconde-esconde vai acabar com uma mudança para listas fechadas, voto distrital ou distrital misto. Claro, há também a falta de interesse popular. Mas isso se deve em grande parte à jocosidade dos partidos, transformados em clubes de cavalheiros (para não dizer outra coisa).

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São eles, os partidos, que precisam de uma reforma urgente. Não adianta voto em lista ou distrital misto se as legendas não têm qualquer tipo de interface com o mundo real. Nada mais deprimente, por exemplo, do que ver os movimentos "jovens" e de "renovação" das siglas nas mãos de filhos e netos de quem está na política desde sempre.

O curioso é que, para isso, não é necessário qualquer mudança legal. O duro é acreditar que os partidos topam mudar de dentro para fora. É bem mais prático jogar a sujeira para baixo do tapete e culpar o sistema, esse malvado.