Beto Richa (PSDB) começou a construir a vitória acachapante de ontem em 2011, pouco depois de colocar os pés no Palácio Iguaçu. Primeiro, ao juntar os espólios deixados por Osmar Dias (PDT) e Roberto Requião (PMDB), cooptando nomes influentes dos partidos de ambos. Depois, quando desenvolveu um método eficaz para anular a única adversária que poderia causar incômodo em 2014, Gleisi Hoffmann (PT).
Negociar com gente que historicamente nunca topou ficar longe do poder foi fácil. A segunda parte é que exigiu bem mais planejamento. Ainda mais quando Gleisi ascendeu ao posto de gerente do governo federal, como ministra da Casa Civil da presidente Dilma Rousseff.
Se a escolha de Gleisi pegou o Brasil de surpresa, imagina o impacto no Paraná. Senadora mais votada no estado em 2010, a petista despontava como uma novidade capaz de preencher espaços políticos que naturalmente seriam deixados por Requião e os irmãos Dias. Não foi bem assim que a situação se desenvolveu.
Gleisi e Richa tocaram suas vidas em paralelo até que, em 2012, começaram a aparecer dificuldades para a liberação de mais de R$ 3 bilhões em empréstimos negociados pelo Paraná que dependiam de aval do governo federal. A Secretaria do Tesouro Nacional passou a questionar as contas estaduais em especial, o excesso de gastos com pessoal e Richa contra-atacou, reclamando de perseguição política. Como o Paraná nunca esteve entre os preferidos da União, foi bem mais fácil emplacar a segunda versão entre a população.
No mesmo ano, Gleisi pegou carona com Gustavo Fruet (PDT) e conseguiu uma vitória histórica em Curitiba, onde o grupo de Richa sempre foi considerado imbatível. O governador entrou em 2013 juntando os cacos das eleições municipais, com problemas de caixa (também em função do atraso nos empréstimos). O jeito foi ampliar as reclamações de que vinha sendo prejudicado pela gestão Dilma para favorecer Gleisi outra ajudinha veio das manifestações de junho, que reforçaram enormemente o sentimento antipetista.
Além disso, Richa teve habilidade para reconstruir pontes com antigos aliados e apostou na imagem de homem de diálogo. Enquanto a ministra tinha dificuldades para se dedicar às questões paroquiais e até para receber os conterrâneos no Planalto , o tucano abria as portas do gabinete para todo mundo. E, em política, o afago pessoal conta muito mais do que ações práticas para a população.
Quando 2014 começou, Richa estava a léguas de distância nas conversas com outras legendas. Não à toa, conseguiu uma coligação com 17 partidos. Ficou sem o PMDB, mas esse talvez tenha sido o trunfo que ele ganhou de graça. Requião voltou para o jogo com um discurso tão ultrapassado e sem noção que só contribuiu para lapidar a imagem de bom moço do adversário.
A rejeição ao PT destroçou Gleisi, que também teve os votos canibalizados pelo eleitorado cativo de Requião. Ao final, a oposição a Richa acabou a eleição no pior dos mundos saiu bem menor do que entrou, mancha que inevitavelmente vai permanecer até 2018. Se não cometer as mesmas falhas de 2012 em Curitiba, Richa começa com tudo para fazer o sucessor e se manter como principal liderança do estado por até mais uma década.
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