Nos corredores
Até onde der
Beto Richa vai continuar conciliando a campanha com o cargo de governador pelo menos até setembro. Segundo ele, a agenda "ainda permite" que ele não se licencie. Parceiro de Richa, o senador Alvaro Dias (PSDB) deixará a cadeira por 120 dias a partir desta semana.
Consolação
O substituto de Alvaro é o atual primeiro suplente, Wilson Matos (PSDB). Diretor do Centro Universitário Cesumar, de Maringá, Matos ficou de fora da chapa pela reeleição do tucano. Acabou preterido pelo empresário Joel Malucelli (PSD), outro milionário de sucesso.
Como é que fica
As licenças de Beto e Alvaro jogam pressão sobre os também senadores Gleisi Hoffmann e Roberto Requião. Na prática, porém, a agenda do Senado será bem folgada nos próximos meses só deve haver mais duas semanas de "esforço concentrado" antes das eleições. A primeira delas começa amanhã.
Acima dos partidos e de ideologia, os laços familiares estão no cerne da campanha pelo governo do Paraná. É impossível descolar as trajetórias de Beto Richa (PSDB), Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB) de parentes próximos que abriram caminho antes deles. O confronto entre o tucano e o peemedebista, em especial, tem todos os ingredientes para a reedição de uma batalha entre clãs.
Beto é filho de José Richa, espécie de "pai de todos" na política paranaense. Eleito governador na efervescência da redemocratização, em 1982, Zé Richa foi para o Senado em 1986, teve papel de destaque na Constituinte de 1988 e era favoritíssimo para voltar ao Palácio Iguaçu, em 1990. Acabou fora do segundo turno, derrubado pela impetuosidade de um ainda jovem Requião e pelos ares de novidade de José Carlos Martinez, candidato do então presidente Fernando Collor.
Requião tem uma trilha sanguínea ainda maior. O bisavô dele, Justiniano de Mello e Silva, trocou Sergipe pelo Paraná no final do século 19 graças a uma indicação política para ser secretário da presidência da província.
Depois disso, o pai de Requião, Wallace Tadeu de Mello e Silva, foi prefeito de Curitiba, cargo também ocupado por Requião entre 1985 e 1989. No primeiro confronto contra a família Richa, em 1990, Requião escolheu uma arma mortal a aposentadoria recebida por Zé Richa como ex-governador. Em tempos de caçadores de marajás, não houve escapatória.
Em 2002, foi a vez do primeiro duelo direto contra Beto. Ainda café-com-leite nas urnas, o tucano não ameaçou a polarização entre Alvaro Dias (então no PDT) e Requião, que venceu novamente no segundo turno. O resultado não foi exatamente uma derrota para Beto, que somou experiência para chegar à Prefeitura de Curitiba, dois anos depois.
Em 2010, Beto não enfrentou Requião nas urnas, mas foi eleito graças a um discurso de mudança em relação ao rival, que completava o terceiro mandato no Palácio Iguaçu. Beto era o novo, contra um Osmar Dias (PDT) que se enrolou para explicar a aliança de última hora com petistas e peemedebistas. No cargo, repetiu o antecessor cercando-se de parentes no primeiro escalão e fazendo todo tipo de negociação política, inclusive com o PMDB.
Durante mais de três anos, imaginou que Requião era página virada. A disputa seria com o PT de Gleisi. Recordista de votos para o Senado em 2010 e alçada à Casa Civil da Presidência da República, em 2011, a petista também tem a política dentro de casa é esposa de Paulo Bernardo, ministro com cadeira cativa na Esplanada desde 2005.
Aí misturam-se novos temperos de família: Requião detesta Paulo Bernardo (e vice-versa). Some-se a isso o fato de que agora é o peemedebista quem precisa justificar a polpuda aposentadoria de governador. E que, no contra-ataque, pode lembrar que a pensão de Zé Richa foi herdada pela mãe de Beto.
No final das contas, a campanha que ainda começa a esquentar tem tudo para trazer pouquíssimas novidades sobre o futuro do Paraná. O clima é mais de tira-teima histórico que de perspectiva estratégica. Tomara que a evolução do debate mude esse pressentimento.
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