Nos corredores
PC Farias
A CPMI do Cachoeira transcorre na mesma sala do Senado que, há 20 anos, abrigou a CPMI do caso PC Farias. Na época, o relatório final da comissão foi fundamental para o pedido de impeachment do então presidente Fernando Collor. Atualmente senador pelo PTB de Alagoas, Collor é um dos integrantes do grupo que investiga as ligações políticas do bicheiro.
Gente conhecida
Sobre os "recados" históricos de CPMIs, as poucas declarações de Cachoeira lembraram as primeiras palavras do depoimento de PC Farias, em 1992. "Bom rever tanta gente conhecida", disse o tesoureiro da campanha de Collor. Depois, PC dedicou-se a desmentir todas as acusações de Pedro Collor contra o irmão Fernando.
Lenine na quarta
Um dos membros do grupo de Cachoeira que mais mencionam interesses no Paraná nas interceptações de conversas feitas pela Polícia Federal, Lenine Araújo de Souza teve o depoimento na CPMI transferido de ontem para a próxima quarta-feira. Segundo o requerimento de convocação, ele seria responsável pela contabilidade do grupo.
Há jogadores de pôquer que usam óculos escuros para tentar não revelar algum tique para os adversários. Outros forçam expressões para induzir ao erro. Sinais, verdadeiros ou falsos, fazem parte da estratégia de qualquer jogo.
Dizem aqui pelas bandas do Centro-Oeste que o bicheiro Carlinhos Cachoeira nem gosta de jogar. Que gasta a inteligência com outras coisas. No confronto com a CPMI desta semana, entrou trêmulo, abatido, fugiu das perguntas, mas deu o recado: "Tenho muito a dizer".
Claro que todos os parlamentares (ou quase todos) entenderam o sinal. Muita gente da comissão vai se dar mal se Cachoeira realmente abrir a boca como prometeu fazer depois de prestar depoimento à Justiça Federal de Goiás. Não se trata apenas de um blefe.
Outra mensagem do bicheiro, talvez mais eficaz, foi a presença do advogado Márcio Thomaz Bastos ao seu lado. Impressionante como ele causou impacto entre os parlamentares. Quase todos fizeram questão de saudá-lo elogiosamente.
Durante quase duas horas e meia, o cenário foi de agressões a Cachoeira e afagos para Thomaz Bastos. Só dois deputados federais ressaltaram controvérsias da presença do advogado. Chico Alencar (PSol-RJ) fez questão de grifar jocosamente que tratava-se de um ex-ministro da "Justiça".
Já o paranaense Rubens Bueno (PPS) levantou a questão mais importante: como Cachoeira, que tem uma movimentação financeira irrisória declarada à Receita Federal, conseguiu levantar recursos para contratar o advogado mais venerado entre os políticos brasileiros? A pergunta, como todas as outras, ficou no ar. Mas Cachoeira poderia ter entrado no jogo e dito: respondo se vocês também disserem de onde veio a grana para financiar suas campanhas.
Sabe-se lá o quanto ele paga por sua defesa obviamente, não deve ser pouco. O fato é que ela traz resultados. O mais instantâneo é psicológico muitos congressistas não querem se chocar com Thomaz Bastos porque temem não poder contratá-lo no futuro. Como bem poderia ensinar o senador Demóstenes Torres, ninguém sabe como será o amanhã.
Thomaz Bastos não é só imagem, é também um advogado com carreira brilhante. Criminalista, foi um dos criadores do Instituto Brasileiro de Direito de Defesa, junto com o igualmente renomado Arnaldo Malheiros Filho. Foi também um dos principais ministros do conturbado primeiro mandato do ex-presidente Lula.
Aliás, é recorrente a versão em Brasília de que, sem a orientação dele, Lula não teria escapado do impeachment no episódio do mensalão. Vem daí a aura mitológica de Thomaz Bastos e a mensagem transmitida pelo bicheiro durante a sessão da CPMI desta semana.
Cachoeira não desmoralizou a comissão ao ficar calado. A desmoralização ocorreu dias antes, quando as excelências protelaram a convocação dos três governadores suspeitos de envolvimento com o grupo do bicheiro Agnelo Queiroz (PT-DF), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Esse sim foi o sinal da estratégia política da CPMI.
Um jogo que não dá para esconder nem de óculos escuros.
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