O partido já foi influente e essencial: dividiu o poder com todos os governos da ditadura até a eleição de Lula e teve papel decisivo para a redemocratização, quando abandonou a candidatura presidencial apoiada pelo regime militar e se aliou à oposição para eleger Tancredo Neves no colégio eleitoral de 1985.
De Arena mudou para PDS, tornando-se Frente Liberal (PFL) ao se juntar com o MDB de Ulysses Guimarães. Virou Democratas em 2007 com o plano de se modernizar e livrar-se do estigma da ditadura, mas deu errado. Hoje o partido se reúne em convenção extraordinária para juntar os cacos e tentar sobreviver à derrocada total.
O DEM que nesta terça-feira elege presidente o senador José Agripino Maia é um partido em petição de miséria: bancada minguante no Congresso, quantidade decrescente de interessados em se candidatar pela legenda, destituído de base social, sem perspectiva eleitoral para 2012, desprovido de seu tradicional combustível (o poder) e com a imagem marcada pela cena de sua última aposta política de fôlego José Roberto Arruda recebendo dinheiro ilícito exibida em rede nacional.
Uma trajetória ladeira abaixo para adversário nenhum pôr defeito. Uma situação que não encontra semelhança em nenhuma outra agremiação do atual quadro partidário: o PMDB reinventou-se depois da Nova República e sobreviveu; o PSDB manteve presença nos grandes centros e mal ou bem sobreviveu à perda da Presidência da República.
Mesmo o PT, que em determinado momento pareceu soçobrar sob os escombros de um escândalo mais detalhado e abrangente que o vídeo que detonou Arruda, sobreviveu, reelegeu um presidente e elegeu a sucessora.
O que houve, então, com o DEM? Uma série de coisas. Um partido não tem morte súbita, definha.
No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, o ainda PFL rompeu com o governo. Na eleição presidencial seguinte lançou candidatura própria, fulminada pela exibição de fotos do dinheiro de origem (até hoje) não explicada encontrado pela Polícia Federal na empresa Lunus, de propriedade da candidata Roseana Sarney.
O partido, sempre exímio na arte de compor e articular, brigou feio com o ex-parceiro PSDB. Afastou-se de seu eixo habitual.
Antes disso havia sofrido o revés da morte do deputado Luís Eduardo Magalhães, a aposta do PFL para o futuro.
Em 2001, começa a derrocada de Antonio Carlos Magalhães, o grande morubixaba do pefelê. Em 2002, Lula se elege e a partir daí o partido inicia um processo de perda dos grotões para o PT. O PFL sempre atuou com força em estados mais dependentes dos instrumentos de governo.
Ao passar a ser oposição, perdeu os meios. Com eles, o eleitorado e um público até então relativamente cativo, o grande empresariado, que se associa ao governo do PT.
Sem poder, com as lideranças abaladas e carente de sustentação social, em 2007 o partido tenta se reinventar.
O então presidente, Jorge Bornhausen, escolheu para substituí-lo o deputado Rodrigo Maia: jovem, filho do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, representaria a renovação e ainda poderia reforçar a posição do partido, já de nome novo (Democratas), no Sudeste.
Além disso, Rodrigo nascera no Chile durante o exílio do pai ninguém poderia jamais associá-lo à ditadura, um fator que segundo o entendimento de Bornhausen pesava de forma crucial contra o partido.
Na concepção dele, Gilberto Kassab em São Paulo poderia representar a consolidação nas duas maiores cidades do país.
Para não nos alongarmos em detalhes, o resumo do fim da ópera: o PMDB tomou conta do Rio, por meio de Sérgio Cabral, Kassab foge da massa falida preocupado com o próprio futuro e Rodrigo Maia revelou-se um dirigente imaturo.
Arrumou mais brigas que alianças, tirando o partido de vez de seu eixo original. Além disso, sua principal aposta no cenário nacional era José Roberto Arruda, o responsável pelo golpe fatal e a perda total do rumo e do prumo.
A entrega do DEM a Agripino Maia, representante da antiga geração, significa que o partido dá um passo atrás para tentar retomar a caminhada e, sobretudo, o senso de direção.
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