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Um fato comporta variadas versões, adapta-se à vontade do freguês. Notadamente na política, uma ciência completamente inexata, como se sabe.

Interpretações diversas de um mesmo acontecimento estão aí mesmo para serem feitas. A convenção para escolher a nova direção do PSDB de São Paulo, no último fim de semana, deu margem a diferentes pontos de vista no noticiário.

Um jornal destacou a construção da unidade do partido ressaltada pelo governador Geraldo Alckmin; outro salientou o fato de o nome do senador Aécio Neves sequer ter sido citado, a despeito de estar prestes a tornar-se presidente do partido e de rodar o país apresentando suas credenciais para candidato a presidente.

Um terceiro veículo deu destaque à frase do ex-governador José Serra – "eu tive muitos cargos e espero ainda ter mais" – como indicativo de que está "na pista". Serra abateu-se temporariamente com as últimas derrotas, mas não desistiu de concorrer.

Tais diferenças de enfoque são normais, mas no caso chama atenção a impossibilidade de se chegar a alguma conclusão a partir dos relatos e das atitudes dos principais personagens dessa indecifrável cenografia.

O PSDB paulista – seção crucial para chance de algum sucesso na eleição presidencial – está unido? Não é o que dizem as quebras de acordo nem a derrota do nome (Andrea Matarazzo) acertado para presidir o partido na capital, por ação de três secretários de Alckmin que, segundo ele, agiram à sua revelia.

Tampouco dão notícia de unidade as insatisfações decorrentes da composição da direção estadual eleita há três dias.

O ato de indiferença total à hipótese da candidatura de Aécio Neves foi algo tido como natural em convenção estadual, cujo foco é o desempenho local do partido. Trata-se de um sofisma, pois a seção mais importante de um partido que pretenda concorrer à Presidência e já tenha um pré-candidato articulando alianças não poderia ignorar o fato. A não ser que o faça de propósito para deixar bem claro que a questão está em aberto. Considera outros planos. Mas, quais?

E aí entra a frase de Serra sobre a pretensão (legítima) de ocupar "mais cargos". Coerente com o "até breve" dado por ele em seu discurso logo após a derrota para Dilma Rousseff em 2010. Enigmática, porém.

Significaria que no PSDB ainda se trabalha com a hipótese de Aécio não vir a ser candidato e Serra disputar a Presidência ou indica a disposição dele de mudar de partido como se diz por aí?

Segundo José Serra "nada consistente" existe a respeito de possível troca de legenda. Diante do argumento de que "nada consistente" é diferente de "nada", responde que "nada consistente" é igual a "nada".

Como há óbvia divergência sobre o sentido das palavras, melhor não insistir porque nessa matéria o segredo parece ser a alma do negócio. Seja lá qual for.

Veneno caseiro

O governador Sérgio Cabral avisa que não medirá esforços e demonstra na prática que não fará cerimônia no uso da máquina para eleger o vice-governador Luiz Fernando Pezão seu sucessor no Rio.

Põe a propaganda oficial à disposição do escolhido (diga-se, contra o qual não pesam deméritos, ao contrário), deixa que ele faça os anúncios de obras e paga – com o dinheiro do estado, claro – artistas para animar atos ditos oficiais em que a estrela principal é Pezão.

Muito bem. Ou muito mal. Mas fato é que o pretendente a candidato do PT, senador Lindbergh Farias, não poderá reclamar da desigualdade de condições sem entrar em franca contradição com o que faz seu partido em âmbito nacional: usa a máquina federal sem pudor.

Se mantida a candidatura, Lindbergh experimentará veneno caseiro. A conferir se o fará silencioso ou de modo ruidoso.

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