Os empresários da indústria e da agricultura que se reuniram nas duas últimas semanas com os candidatos à Presidência da República manifestaram claramente seu desagrado com o loteamento dos cargos políticos na administração federal.
Na sabatina da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) o momento em que o candidato do PSB, Eduardo Campos, recebeu da plateia aplausos mais entusiasmados foi quando repetiu a frase que já virou uma bandeira: "Ninguém aguenta mais governar com Renan, Collor e Sarney". Respondia à indagação sobre sua disposição de acabar com o modelo de entrega dos ministérios aos partidos. Na semana seguinte, o assunto voltou a ser abordado com mais ênfase na sabatina da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Das cinco questões a que tinham direito de apresentar aos candidatos, os empresários do agronegócio escolheram o tema na conversa com Campos e com Aécio Neves. Quiseram saber especificamente se eles entregariam os ministérios do Trabalho e da Agricultura aos feudos partidários de sempre. O tucano saiu pela tangente. Fez o compromisso, mas preferiu não se alongar na história do fisiologismo e anunciou a criação do "superministério da Agricultura". Campos desenvolveu sua tese de que é possível quebrar o modelo atual engajando a sociedade na agenda política, tal como ocorreu por ocasião da luta pela redemocratização do país e pela estabilidade econômica.
O importante aqui é notar que o empresariado inclui na pauta o tema do chamado presidencialismo de coalizão como um entrave ao desenvolvimento, uma espécie de custo Brasil adicional. O setor produtivo está farto disso e começa a cobrar dos candidatos. Um debate que, se ganhar corpo, os deixará durante a campanha numa saia-justa para conciliar esses questionamentos à necessidade de apoio dos políticos para se eleger. Apoios esses diretamente relacionados com a expectativa de ocupação de cargos nos governos, caso venham a ser eleitos.
Regra clara
É verdade que as campanhas ficam mais caras porque as doações de pessoas jurídicas garantem a circulação de volumes maiores de dinheiro. Mas é verdade também que as novas normas para prestação de contas mês a mês, com a divulgação quantia e da origem do recurso significa uma evolução no quesito transparência em relação a eleições anteriores. Inibe o uso do caixa 2, pois com os dados publicados fica mais fácil confrontá-los com possíveis exorbitâncias de gastos.
Com mais de 90% do financiamento sendo garantido pelas empresas, vai ser difícil os partidos chegarem a uma solução que contemple a legalidade e ao mesmo tempo proteja o contribuinte, depois que o Supremo Tribunal Federal confirmar a proibição das doações de pessoas jurídicas para as próximas eleições. Ganharão força e argumentos os que defendem o financiamento público exclusivo.
Inadmissível
Na visão do governo brasileiro, um analista de finanças está proibido de relacionar com clareza os movimentos do mercado à tendência dos resultados eleitorais. Mas, na concepção do governo brasileiro é permitido o exercício da difamação a partir dos computadores do Palácio do Planalto. No caso do Banco Santander a presidente gritou. No episódio da alteração dos perfis dos jornalistas Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg na Wikipédia para a inclusão de desaforos e mentiras, Dilma Rousseff se calou. Consentiu, pois.
Talvez tenha acreditado preservar a liberdade de expressão em ambiente palaciano. Faltou observar que as críticas dos jornalistas são feitas às claras, assinadas, em frente às câmeras ou aos microfones e os mexericos ofensivos são clandestinos. Se a chefe da nação prefere compactuar com sujeitos ocultos, deve estar ciente de que escolhe o lado da sombra.
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