O andar da carruagem não deixa dúvida: a disputa pelo comando da Câmara dos Deputados vai repetir o clima de beligerância que marcou a eleição presidencial. Guardadas as devidas proporções e observado o reposicionamento dos personagens na arena, o PT estará de novo no centro de um embate pesado na defesa de seus espaços de poder.
A escolha do novo presidente é só em fevereiro, mas os partidos já delimitam seus terrenos, mostram suas armas e, pela primeira vez desde que se tornaram parceiros no Planalto, PT e PMDB partem para um enfrentamento direto. São as duas maiores forças com representação na Câmara.
O PMDB apresenta Eduardo Cunha, o líder da bancada, como candidato. O PT anuncia que não aceita e lançará um dos seus para combatê-lo. Faz o gesto inesperado do veto, carimba em Cunha a marca de "oposicionista" e, com isso, dá margem à interpretação de que considera declarada a guerra.
Enquanto os dois aliados polarizam, o PSDB, adversário na eleição, em princípio aposta na terceira via e pensa seriamente em lançar a candidatura do deputado Júlio Delgado (PSB). Na eleição passada ele teve 167 votos para a presidência da Câmara contra Henrique Eduardo Alves. Delgado examina a conveniência da empreitada, pois não vê sentido em entrar numa disputa apenas para marcar posição. "Ou vou para tentar ganhar e qualificar o Parlamento ou não vou."
Para "ir" ele precisa transpor dois obstáculos: a decisão do PSB sobre apoio ao governo ou à oposição e a tomada de posição dos tucanos entre sustentar realmente um nome de oposição ou preferir aderir a Eduardo Cunha no intuito de derrotar o Palácio do Planalto.
O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira, tende a achar que o melhor é a oposição não ficar a reboque do PMDB. "Não podemos perder de vista que, divergências à parte, o partido é governo." Em outros termos, de certa forma concorda com ele o deputado Lúcio Vieira Lima, do PMDB, que rechaça a pecha de candidatura "oposicionista" para Eduardo Cunha.
"Ele não é chapa branca, representa a insatisfação da Casa com a imposição de vontades do Executivo. Com essa candidatura, não queremos derrotar ninguém, mas apenas afirmar a independência do Legislativo. Se a oposição compreender isso, entenderá que é melhor vir conosco, embora tenha todo o direito de apresentar um nome, assim como o PT."
Já petistas que participaram da reunião da bancada em que foi decidido o veto a Eduardo Cunha e o lançamento de candidatura própria argumentam que não são justos os ataques que apontam para o desejo de o PT conquistar hegemonia de poder.
Ainda mais partindo do PMDB, que tem nas mãos as presidências da Câmara e do Senado, além da vice-presidência da República. "A menos que reconheçam que Michel Temer na vice-presidência não vale nada", diz um deles, lembrando que o PT tem o maior número de deputados e, assim, tem o mesmo direito de aspirar à presidência da Câmara que o PMDB de presidir o Senado, onde tem a maior bancada.
Presença vip
Além do anúncio das medidas adiadas em função das necessidades eleitorais, outra mudança é possível observar na presidente Dilma Rousseff marcando desde já o início do segundo mandato: ela está muito mais loquaz. Sociável, até.
Recebeu parlamentares, deu entrevista coletiva para os principais jornais, falou para emissoras de televisão, discursou em cerimônia oficial abordando tema político, enfim, fez o que lhe cabia "no que se refere" a não deixar a oposição tomar sozinha conta da cena.
Quanto às questões de conteúdo necessárias para refazer os malfeitos, a presidente continuou devendo maiores esclarecimentos. Tanto é assim que da longa entrevista o que se extraiu de destaque no noticiário foi a promessa de fazer "o dever de casa". Depois de quatro anos de mandato.
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