A campanha de Dilma Rousseff faz de conta que descobriu um grande escândalo: a dona da gráfica onde foram impressos panfletos que reproduzem críticas de uma seccional da CNBB à candidata do PT é irmã de um dos coordenadores da campanha de José Serra e também é filiada ao PSDB.

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"É indiscutível a relação política da proprietária da gráfica com o PSDB. Os fatos são graves e temos indícios veementes de onde vem a central de calúnias e boatos para atingir nossa candidatura", declarou em entrevista especialmente convocada, um dos coordenadores da campanha do PT, José Eduardo Martins Cardozo.

Deixemos de lado o fato de ter sido identificado o autor da encomenda à gráfica – Kelmon Luiz de Souza, presidente de uma ONG de ultradireita – e imaginemos que a tucana dona do estabelecimento tivesse mandado imprimir os panfletos por iniciativa partidária.

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Teria incorrido em ato, no mínimo, antiético ao se apropriar do texto de alguém para atingir outrem. Teria também infringido a lei no tocante a propaganda negativa.

Mas não teria nada a ver com o que realmente incomoda os correligionários de Dilma: a oposição ativa de padres, bispos e pastores.

O PT com toda razão reclama é do prejuízo provocado pelo conteúdo dos panfletos, que lembra a posição do Plano Nacional de Direitos Humanos, assinado por Dilma, em favor da descriminalização do aborto e recomenda voto "somente em candidatos contrários à descriminalização do aborto".

Portanto, essa "central de calúnias e boatos" não está localizada na gráfica, mas no Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que assina o texto, de resto distribuído no último dia 12 em Aparecida durante a celebração do dia da Padroeira do Brasil.

A briga do PT de verdade seria com a CNBB, com o Regional 1 da entidade, com padres e ditos pastores que pregam contra sua candidata aos fiéis. Isso se um partido que concorre a eleições pudesse arrumar uma briga com a Igreja; católica, protestante, pentecostal, seja qual for.

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A dona da gráfica entra nessa história como Pilatos no Credo, circunstancialmente.

Por que o PT não reage diretamente contra os autores das pregações? Porque seria pior.

Como não pode reclamar abertamente a quem de direito, o partido infla artificialmente a "gravidade dos fatos", a fim de chamar atenção para a mesma questão e ainda enquadrar a contrariedade de alguns setores religiosos (há outros satisfeitos e apaziguados) no setor de calúnias político-partidárias.

Desvia-se do foco e não atinge o alvo.

Berlinda

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A liberalidade com que os institutos de pesquisas transitam entre clientes, candidatos e vice-versa está minando a credibilidade das pesquisas. Talvez mais até que a discrepância entre os números das amostras e os resultados das urnas.

Logo ganharão voz ativa os que defendem a tese de que institutos não podem trabalhar ao mesmo tempo para campanhas e para veículos de comunicação.

Entes votantes

O deputado Chico Alencar discorda do texto de ontem sobre o "voto crítico" do PSol em Dilma Rousseff, que considerava o adjetivo vazio e dispensável.

Escreve o deputado: "Meu en­­­ten­­­dimento é outro. O voto vai além do gesto de teclar: pode significar adesão acrítica, expectativa, composição da base parlamentar e até participação na futura administração. O nosso voto ‘crítico’ sinaliza o contrário: independência total e cobrança imediata, dentro dos pontos programáticos que defendemos inclusive ética e transparência republicanas."

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Alencar aproveita para criticar a neutralidade de Marina Silva e do PV. Para ele, "declarar voto é obrigação". O caráter secreto existe, aponta Chico Alencar, para proteger o indivíduo. "Marina é ente po­­­lítico. No 2.º turno seria natural ela de­­­­clarar que votará em branco ou nulo, se for o caso. Não revelar na­­­da é estranho para quem falou tanto em ‘posições claras’ no 1.º turno."