Quando questionado sobre a nomeação de pessoas que respondem a processo na Justiça por improbidade administrativa, o governador Beto Richa (PSDB) foi categórico: "Na minha administração, serei intransigente com a corrupção." É importante que o governador tenha essa preocupação. Mas é humanamente impossível um chefe de Poder Executivo controlar e fiscalizar os atos de todos os seus auxiliares de governo. Entretanto, se tiver vontade política, ele pode ser ajudado pela sociedade nessa tarefa.

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Basta que determine a publicação de todas as bases de dados da administração na internet. Se o governo compartilhar suas bases de dados em formatos "abertos" – ou seja, em formatos que torne possível trabalhá-los em computador – a sociedade pode ajudar não somente a fiscalizar gastos públicos, como acompanhar os resultados de políticas públicas, e apresentar novos usos para as informações públicas. Assim, de posse da bases de dados relativas a licitações, contratações, despesas públicas, funcionários comissionados e salários, a população pode facilmente contribuir contra a corrupção.

No campo das finanças públicas, a Lei Complementar 131/2009 já impõe desde o ano passado aos estados e às cidades de mais de 100 mil habitantes a "liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público". Mesmo que esse dispositivo legal estivesse sendo cumprido à risca pelo governo estadual, o que até o momento não ocorre, seria necessário que os dados pudessem estar em formato aberto, facilitando a análise dessas informações.

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De outro lado, se liberadas bases de dados sobre acidentes de trânsito, criminalidade, matrículas escolares por região e indicadores econômicos, por exemplo, a própria sociedade poderia usar essas informações, retrabalhá-las, reordená-las, produzindo conteúdos novos e inovadores.

Essa é a visão realista de um governo aberto e transparente. O resto é discurso vazio.

Até porque informações públicas pertencem à sociedade. Somente uma visão deturpada do papel do Estado permitiria fazer crer que o governo faz uma "concessão" à sociedade ao tornar disponíveis informações que estão em seu poder. Dados públicos não são, nem deveriam ser, um monopólio estatal. Mesmo que em certos casos a divulgação possa causar constrangimentos, as restrições de acesso devem ser mínimas, aceitáveis, excepcionalmente, como em situações que coloquem em risco a "segurança nacional" – embora seja questionável o que poderia ser incluído em tal conceito – e aquelas que violem frontalmente o direito à intimidade das pessoas.

O custo de implantação de bases de dados abertas não é caro, mas seus benefícios, duradouros. Os governos deveriam focar sua atenção no que fazem melhor – como prestar serviços públicos – e compartilhar suas bases de dados com a sociedade, que é, no fundo, quem consegue fazer usos mais criativos e interessantes. Esse é um bom modo de transformar a vontade de combater a corrupção em uma ação efetiva. Governo aberto deveria ser uma preocupação de qualquer chefe de Executivo que pretenda ter uma gestão genuinamente transparente. Seja presidente, governador de estado ou prefeito.

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Deu o que falar a matéria publicada no sábado passado no Caderno G Ideias – "Os Desenhos de Curitiba" – sobre o planejamento urbano de capital paranaense. Dennison Oliveira considera que as condições urbanas em Curitiba estão se deteriorando e isso "irá prosseguir até a anulação dos poucos avanços históricos que se conseguiu a duras penas obter". A discussão a esse respeito está enveredando para o transporte coletivo na cidade. Na seção "Discussões" da página da coluna no Facebook também se está debatendo fiscalização do poder público, no tópico "Subserviência" e a indicação de Luiz Fux para o Supremo Tribunal Federal. Contribua você também. Basta digitar O Coro da Multidão na barra de busca do Facebook.

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