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Militâncias e escândalos 1
É incômodo perceber que pouca gente ainda fica indignada perante episódios como o do uso de avião fornecido por Alberto Youssef a André Vargas e sua família. Nem mesmos os militantes partidários, que poderiam funcionar como reserva ética das legendas, se manifestam. Pelo contrário, fazem moções de apoio como ocorreu no mensalão ou ficam em silêncio, para não desagradar seus dirigentes.
Militâncias e escândalos 2
Isso não acontece só no PT. No Paraná, ninguém viu manifestações de militantes tucanos contra a nomeação de Ezequias Moreira para o cargo de secretário especial de Cerimonial e Relações Internacionais do governo. Ezequias Moreira admitiu ter desviado recursos da Assembleia Legislativa no caso da sogra fantasma e devolveu o dinheiro aos cofres públicos. Contra ele, continua a tramitar uma ação penal no Tribunal de Justiça do Paraná.
Militâncias e escândalos 3
É muito desconfortável notar que jovens militantes não se manifestam pública e notoriamente contra desvios de conduta de agentes públicos vinculados a seus partidos. A lógica pragmática de disputa pelo poder desprovida de freios morais parece ter dominado a juventude partidária, que permanece em silêncio a cada novo escândalo. E isso não é bom para a democracia. Nesse cenário, como os militantes jovens de hoje serão os dirigentes partidários de amanhã, que tipo de renovação política será possível a sociedade esperar deles? É difícil prever que a política venha a ser exercida com mais ética e moralidade pública, enquanto os militantes permanecerem silenciosos a respeito dos desvios de condutas em suas legendas partidárias.
O discurso do vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT), em que afirma ter cometido um "equívoco" e uma "imprudência" ao viajar de férias com a família em um jato gratuitamente cedido por Alberto Youssef, é um atentado à inteligência dos cidadãos brasileiros. Vargas não cometeu equívoco nem foi imprudente ao pedir e receber favores aéreos do doleiro. A conduta do petista viola o princípio republicano que norteia a Constituição do Brasil. Em uma república, o agente público jamais deve usar cargos ou bens de Estado para favorecimento pessoal.
Vargas não é o primeiro político do país a achar que o uso de aeronaves de empresários é compatível com o exercício de um mandato público. O ex-senador Demóstenes Torres foi expulso do DEM depois de flagrado em escutas da Polícia Federal cometendo, na linguagem de Vargas, algumas "imprudências". As escutas revelaram que o contraventor Carlinhos Cachoeira tinha emprestado um jatinho para que o ex político do DEM fizesse uma viagem. Diferentemente do PT, o DEM agiu rápido para evitar danos à imagem do partido. Os petistas, de outro lado, tem preferido a negação ou minimização dos fatos.
Não somente políticos desprezam o princípio republicano. Para dar apenas um exemplo, o procurador geral de Justiça do Rio de Janeiro, Marfan Martins de Vieira, arquivou inquérito contra o então governador Sérgio Cabral (PMDB) em que investigava o uso indevido de helicóptero do estado. A investigação foi aberta depois que a revista Veja divulgou que helicópteros estatais levavam parentes e funcionários particulares para a casa de praia de Cabral. Embora o caso envolvendo o peemedebista não tenha histórias de doleiros ou contraventores, as instituições perdem muito quando um órgão de fiscalização ignora o princípio da finalidade pública, favorecendo interesses privados.
Não há inocência, imprudência ou mero equívoco em aceitar viagens custeadas por empresários, sejam eles idôneos ou de reputação duvidosa. Há uso inconstitucional da função pública. Cargos públicos devem ser exercidos com o comportamento pautado na moralidade pública, seguindo o princípio republicano que rege a Constituição. É por isso que a postura de Vargas não é condizente com o cargo de vice-presidente da Câmara. O pedido de desculpa é muito pouco.
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