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As Tubotecas de Curitiba completam um ano no fim deste mês, com a marca de 50 mil livros recebidos e colocados à disposição dos usuários de ônibus. O projeto, cujo objetivo é incentivar a leitura, é inovador. Rompe com criatividade o modelo tradicional de bibliotecas. Sem burocracia, permite acesso facilitado de obras literárias aos passageiros do sistema de transporte público em dez pontos da cidade. As estantes ficam praticamente vazias assim que os livros chegam. Só que isso não é o suficiente para ser considerado bem-sucedido.

Se o objetivo da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) for somente o de colocar à disposição dos passageiros o maior número possível de livros e ver essas obras saírem das prateleiras, as Tubotecas podem ser consideradas um sucesso. A meta está atingida e este texto não fará o menor sentido.

Mas, se o objetivo é que os livros sejam lidos, compartilhados pelos usuários de ônibus, e que o projeto desenvolva uma comunidade de leitores, a conclusão é que ainda vai ser necessário muito trabalho para se chegar lá. O projeto não tem métrica que permita concluir que é eficiente em estimular a leitura. É impossível hoje saber se as obras que deixam as estantes das Tubotecas estão sendo lidas, comercializadas ou estocadas nas casas dos passageiros. As obras pertencem ao acervo do município, mas não raras vezes podem ser encontradas à venda em sebos da cidade.

Fragilidades

Esses problemas não passam despercebidos. A coordenadora de Literatura da FCC, Mariane Torres, afirma que a dificuldade em saber o destino dados às obras é um incômodo de todos aqueles que gostam do projeto. "A Tuboteca é um projeto-piloto. A ideia agora é colocar uma caixa de devolução para que as pessoas possam entregar os livros. Assim, podemos ter uma "fotografia" mais ampliada sobre o comportamento dos leitores." Com uma estimativa de que apenas 15% das obras retornam às prateleiras, a intenção da FCC é de conscientizar os passageiros a devolver as obras.

A baixa devolução dos livros e a falta de noção de que as obras pertencem a um acervo público são os pontos frágeis do projeto. É possível trabalhar essas questões usando técnicas de gestão de projetos como as propostas no livro A Start Up Enxuta, de Eric Ries. Empreendedor do vale do Silício, Ries propõe a criação do chamado "produto minimamente viável", de baixo custo e rápida implantação, que seja passível de avaliação constante. Com um produto (ou serviço) minimamente viável disponível para os usuários, é fácil constatar erros, descobrir novas oportunidades, corrigir erros e modificá-lo para atingir o objetivo proposto.

Métricas de vaidade

Eric Ries chama a atenção para o uso de"métricas de vaidade" – indicadores usados para avaliar um projeto que dão a ilusão de sucesso, enquanto o produto está caminhando para um fracasso retumbante. Esse é um risco que corre as Tubotecas, ao estabelecer como parâmetro apenas a quantidade de obras doadas e colocadas em circulação. Essa métrica trabalha apenas em uma das pontas – o engajamento de empresas e cidadãos simpáticos ao projeto –, mas deixa de lado outros parâmetros igualmente, ou até mesmo mais, importantes.

Medidas relevantes

A gestão da start up enxuta é excelente para produzir inovação no setor privado, mas não há razão para acreditar que não serve para melhorar políticas públicas. Estabelecer métricas para medir o índice de devolução de livros e o percentual de leitura de obras ofertadas é importante se o objetivo do projeto se tornar ambicioso, como o de ser um promotor do desenvolvimento de uma comunidade de leitores. O modelo de gestão proposto por Ries permite que o serviço das Tubotecas seja aprimorado gradualmente, mas depende de se ter recursos para pesquisar a conduta do leitor-passageiro e para induzir os novos comportamentos desejados.

Inovação

As Tubotecas podem se tornar para estes tempos um serviço muito mais importantes do que os Faróis de Saber representaram à época em que foram implantados. Talvez ações como campanhas educativas, promoções culturais e ou criação de comunidades virtuais de leitores possam contribuir para a eficiência do projeto. Mas é crucial investir em pesquisas que permitam aferir métricas relevantes e norteiem mudanças graduais no projeto. A aprendizagem decorrente dessas ações pode fazer das Tubotecas um indutor de novos comportamentos, o que é realmente inovação em matéria de gestão de políticas públicas.

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