Tendências
Às claras I
Como a lei não obriga os candidatos a prefeito e a vereador a divulgarem quem são os financiadores de suas campanhas, o eleitor irá às urnas em outubro no escuro. O chato de não saber quem financia a campanha de aspirantes a cargos públicos é que o cidadão fica impedido de conhecer que grupos ou empresas estão interessados na vitória do candidato. E isso pode trazer sérios transtornos ao cidadão.
Às claras II
Imagine que um candidato a vereador recebeu elevadas somas de doações de campanha de uma empresa de transporte coletivo, de uma empresa poluidora, ou de empresas da área de segurança. O eleitor tem o direito de saber a que interesses o candidato está vinculado para então decidir seu voto.
Às claras III
A regra eleitoral é péssima para o voto consciente. Só que os políticos realmente comprometidos com a democracia e com a transparência podem fazer a sua parte para corrigir os vícios da lei. Basta divulgarem por conta própria os nomes e valores doados pelos seus financiadores de campanha. Faço aqui um desafio sugerido pelo jornalista Renan Colombo desta Gazeta: Candidatos, deixem o cinismo de lado, parem de dizer que "cumprem rigorosamente o que determina a lei", e abram suas contas de campanha desde já. Com nome de doador e valores doados. Se não fizerem isso, não afirmem serem defensores da transparência pública. Porque a transparência que estarão defendendo é de conveniência, que proporciona à sociedade apenas informações incompletas.
Discutindo Curitiba
O leitor Helvio Bertolozzi Soares enviou carta para O Coro da Multidão sugerindo que a Gazeta criasse um fórum para "a discussão dos problemas da cidade e até de capitanias hereditárias da política". A preocupação do leitor tanto é pertinente que esta coluna foi criada justamente para a discussão de políticas públicas. A ideia é usar o espaço da coluna no Facebook para isso. A dificuldade é fazer as pessoas se motivarem a debater e buscar soluções conjuntas. Da multidão podem nascer boas políticas públicas.
*Publique-se*
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O mensalão dominou os noticiários na voz dos advogados de defesa durante esta semana. Foi chamado de "uma construção mental que não tem sentido, que não se sustenta" pelo ex-ministro da Justiça e advogado de um dos réus, Márcio Thomaz Bastos. Outros chegaram a dizer que "a denúncia é fantasmagórica". É perfeitamente compreensível que advogados usem da retórica e das frases de efeito para tentar influenciar o discernimento de juízes no julgamento do mensalão. O que não se compreende é a resignação das militâncias nesse caso e em outros que vêm estremecendo o ambiente político brasileiro.
Não é só a resignação das militâncias petistas que assombra. Existiram outros escândalos que poderiam ter sido alvo de crítica de militâncias políticas. Os integrantes de partidos políticos poderiam ter se insurgido contra desvios feitos por filiados a suas legendas em casos como o mensalão tucano em Minas Gerais. As militâncias também poderiam prontamente ter se insurgido contra denúncias locais. Os escândalos da Câmara de Curitiba, por exemplo, requeriam uma postura firme de quem fez da política partidária o exercício de sua cidadania.
Mas o silêncio, por vezes constrangidos dos militantes, sugere que, ao menos parte deles, preferiu o exercício da subserviência nos cargos comissionados.
É de se questionar, e também de se lamentar, o silêncio das militâncias. São elas que podem fazer a diferença para elevar os padrões com que se faz política no Brasil. Ao que parece a estrutura exagerada de cargos comissionados se tornou uma moeda de troca eficiente para manter os militantes disciplinados. A redução de postos de confiança seria uma medida interessante para moralizar o modo pelo qual se faz política hoje. Os comissionados deveriam se restringir a um pequeno número de servidores, convocados para suprir necessidades pontuais da administração pública.
Os militantes podem voltar a fazer a diferença na política, como já fizeram nos tempos das "Diretas Já" e da redemocratização brasileira. Fingir que o mensalão é uma ilusão indigna de crédito é praticar o autoengano às últimas consequências. Às militâncias cabe o controle político de seus dirigentes. Quando não o fazem correm o risco de se tornar fantoches ou funcionários de gabinete.
Pode até ser que algumas das provas na denúncia sejam frágeis e que isso venha frustrar parte da opinião pública. Mas aceitar que o episódio do mensalão é uma ficção orquestrada por oposicionistas, mídia golpista ou qualquer outro inimigo imaginário é de uma inocência ou o seu oposto, de uma perversidade fabulosa. Espera-se das militâncias um papel de relevo na nova política. Não esse silêncio que começa a pôr em xeque o seu potencial de ser ator de relevo na vida política brasileira.
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