Tão logo o ministro da Justiça Alexandre de Moraes foi indicado pelo presidente Michel Temer para o Supremo Tribunal Federal (STF), críticas de toda a ordem foram se avolumando. “Alexandre de Moraes é político demais, vai melar a Lava Jato”, diziam uns. “Ele é incoerente, escreveu uma tese que, se levada a sério, o impede de assumir a vaga de Teori Zavascki”, falavam outros. “Moraes usou trechos de autor espanhol sem dar a devida citação”, publicou a Folha de São Paulo ontem.

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Não só o ministro da Justiça como também o processo de escolha de ministros do STF foi alvo da saraivada de críticas. “O sistema é inadequado, dá muito poder ao presidente”, disseram parlamentares no Congresso Nacional, “precisamos modificar esse modelo”, completavam.

“Onde já se viu Temer usar a indicação para salvar aliados na mira da Lava Jato”, afirmavam internautas nas redes sociais. “A sabatina no Senado é uma piada, pois os senadores querem alguém no STF que salve suas peles se forem denunciados por conta das delações premiadas”, avaliam analistas.

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Discutir a verdade cada uma dessas afirmações – separar o que é crítica legítima, os fatos relevantes, das opiniões ou julgamentos sobre eles – levaria muitas linhas e não é o objetivo desse texto. Mesmo assim é preciso dizer que quando surge o nome de um indicado para STF é saudável a participação social, em especial dos meios de comunicação e entidades fiscalizadoras.

Pois são elas que dão o tom de sabatina, na maioria das vezes pró-forma feita pelo Senado. É na mídia que se debate posicionamentos, coerência e integridade do indicado.

O que no momento é perigoso são as tentativas, sempre sob as melhores das intenções, de alterar o processo de escolha, o que certamente, se corrigir alguns problemas, conduzirá à criação de outros.

Semelhante ao modelo norte-americano, o sistema brasileiro, em tese, não é ruim. Quando há uma sociedade forte, com representantes conectados a ela dispostos a sabatinar o candidato, o processo de escolha funciona muito bem. Nos Estados Unidos a sabatina é levada a sério – em 220 anos, segundo Maurício Cardoso em artigo publicado no Conjur em 2009, 12 nomes foram barrados. George W. Bush, por exemplo, não conseguiu emplacar Harriet Miers, sua consultora jurídica.

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No Brasil, só o marechal Floriano Peixoto teve a má sorte de ver recusados cinco de seus indicados. Por aqui, a sabatina, com raras exceções, é uma peça de teatro. Para fazer justiça ao Senado, vale lembrar que a sessão do ministro Luiz Edson Fachin foi bastante rigorosa, exigindo do então indicado uma grande capacidade de articulação sobre seus pontos de vista jurídicos.

Mesmo reconhecendo-se que Alexandre de Moraes possui notório saber, é de se questionar se terá o mesmo tratamento dado a Fachin. Afinal, não é segredo que parte dos senadores teme cair nas malhas da Lava Jato. Na visão distorcida de parte dos membros do Senado, é melhor não ser muito duro com quem poderá vir a julgá-los – um ponto de vista tolo, se levar em conta que o nomeado tem o dever de honrar a toga e não deixar se abater pelas ilegítimas tratativas de “acordão nacional”, como as inesquecivelmente sugeridas pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR).

O problema não é o modelo. O que está péssimo no Brasil são as circunstâncias. Com os cidadãos atuais dominando a política do país, tentando a cada dia absolver toda uma geração de corruptos, qualquer sistema será ruim. Independentemente do modelo adotado, brechas legais e argumentos bizarros vão continuar a dar o tom da vida pública brasileira.

Então é melhor deixar de lado a ilusão da reforma do sistema, porque ela é uma promessa que não se concretiza. A mudança vai acontecer se pessoas com propósito forçarem uma mudança cultural. Pode parecer difícil, mas com tecnologias, trabalho em rede nacional de colaboração, respeito e valores democráticos a solução está mais próxima do que se imagina.