Se você acha que as manifestações de junho do ano passado foram a prova de que os jovens estão se politizando, está enganado. Convulsões sociais episódicas são fatos grandiloquentes, mas não provam que o gigante acordou. Os sintomas do despertar estão nas pequenas coisas.

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A convite do professor Daniel Medeiros, o jornalista Rogerio Galindo e este colunista fizemos um bate-papo muito interessante com cerca de 300 estudantes no Curso Positivo, sobre democracia, participação política e voto consciente, durante uma aula da disciplina Mundo Contemporâneo. Encher uma sala de aula com três centenas de interessados em conversar sobre política, parte deles sentados no chão, é interessante. Mas o mais curioso foi saber que, na sala ao lado, por meio de autofalantes, dezenas de outros alunos ouviam o debate.

A cultura da participação é alimentada de discussões como essas. No longo prazo elas são eficazes para o despertar da consciência pública. Depois de a gente discutir sobre a democracia dos gregos, das democracias representativas modernas, do idiota (no sentido grego, aquele que, mesmo podendo, não participa dos assuntos públicos), enfim, lá pelas tantas, uma estudante pergunta: qual é o principal problema da política hoje e qual a solução para ele?

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Cada cabeça vai ter uma resposta diferente para a pergunta, mas a minha foi que corrupção e patrimonialismo são os problemas institucionais que originam todos os outros. O patrimonialismo acontece quando um ocupante de cargo de Estado usa sua função ou bens públicos para favorecer interesses pessoais. A corrupção... bem, a corrupção dispensa apresentações.

A principal forma de combatê-los é ampliar a transparência pública e a participação das pessoas. Esses dois pontos estão conectados. Não basta as instituições serem transparentes se não houver cidadãos empenhados na fiscalização do sistema político. Já o protagonismo fica bastante prejudicado se as instituições públicas não adotam a transparência pública como uma política essencial para a transformação do Estado do século XXI.

Poder jovem

A grande sacada destas primeiras décadas do século é que o poder político (e até mesmo econômico) tende a se dispersar em muitas mãos, favorecendo o desenvolvimento de novas ideias, práticas, lideranças e movimentos. Os nativos em internet já começam com a vantagem competitiva de estarem conectados com uma nova cultura, em que se valoriza o compartilhamento de experiências e o conhecimento prático.

Desenvolvem aplicativos, idealizam negócios e promovem iniciativas sociais fora dos padrões tradicionais. Com um capital gera­­cional desta magnitude, esse pessoal tem de ser mui­­to incompetente mesmo para não começar uma transformação de valores, conceitos e... práticas políticas.

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Discurso do método

Mas para todo discurso há a necessidade de um método. Para quem está no início da caminhada pública, seja em partidos, como um ativista social, ou como um cidadão consciente, nunca é demais lembrar de alguns pontos para atuar perante o poder público:

1) Numa democracia não tem nada mais ultrapassado e antidemocrático que o uso da violência. O pensador Gene Sharp, em sua obra "Da Ditadura à De­­mo­­cracia", traz 198 estraté­­gias de luta não violenta. Ele fundamenta toda a ação a uma estratégia bem definida. A obra pode ser encon­­trada em http://bitly.com/1lurrcV.

2) As formas de atuação política são as mais variadas. Há experiências bem suce­­didas de fiscalização de man­­dato parlamentar, como o "Adote um Distrital", de Brasília. Há quem prefira trabalhar com petições eletrônicas, como o pessoal do Cause.com e do Avaaz.com; há quem use a tática do envio massivo de e-mails. Há também quem entenda que cartas continuam importantes, como o Greenpeace e outras organizações internacionais – o envio de correspondência em grande volume é difícil de um político ignorar.

3) Ainda não há uma rede apartidária de atuação nacional, que consiga exercer pressão decisiva e organizada no Congresso Nacional, para o fortalecimento das instituições. Mas isso não significa que, em algum mo­­­­mento no futuro, isso não seja possível. Pelo con­­trário, será necessário. Causas ambientais, combate à corrupção, ampliação da transparência, mudança de cultura educacional são temas que precisam ter regulamentação nacional nos três poderes.

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Armadilha

A oportunidade de mudança que emerge com os jovens também tem sua armadilha – a dispersão do potencial criativo. Se vão deixar a armadilha cair em cima, é uma questão aberta. Terão de decidir qual legado querem deixar.

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