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Os herdeiros I
Até as capitanias hereditárias foram invocadas para explicar (e criticar) seis filhos de políticos influentes que foram eleitos para o cargo de deputado estadual. A crítica, em princípio, é injusta. Não há crime em ter apoio de familiares políticos, assim como não há crime em ser rico e se dedicar à vida pública. Porém, será interessante observar o desempenho dos herdeiros na Assembleia Legislativa do Paraná. Será que defenderão a política do patrimonialismo e do corporativismo? Ajudarão, por exemplo, a eleger um presidente do Legislativo que assinará a previdência complementar ilegal para deputados? Ou irão defender os interesses da sociedade?
Os herdeiros II
A postura dos herdeiros no início do mandato irá nortear o juízo que deles se faz. A média de idade desses herdeiros é de 27 anos. Poderão ter uma longa vida política. Poderão também fazer jus à crítica que os envolvem já no início de mandato.
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Na tipologia política há um personagem bastante frequente o paranoico ideológico. Esse tipo político é, em síntese, um bobalhão, que trocou o cristalino dos olhos por lentes partidárias. Anda com a visão distorcida e o cérebro embrutecido. Por causa desse discernimento rudimentar para avaliar questões políticas, escândalos como o envolvendo Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e a Petrobras viram uma guerra entre partidos.
É assim que, de um lado, militantes petistas fingem que o PT nada tem a ver com o escândalo na estatal. Outros, ainda, preferem ignorar o problema, usar a retórica da vitimização e acreditar que são perseguidos. De outro lado, militantes do PSDB aproveitam o esquema de R$ 10 bilhões como propaganda antipetista. Em meio à guerra das militâncias, nem Dilma Rousseff, nem Aécio, nem seus respectivos partidos procuram esclarecer que medidas planejam tomar para impedir novos casos de corrupção se ganharem a eleição.
O país está a dez dias das eleições com uma campanha conduzida na base da retórica. Sem um plano consistente que concentre atenção à ampliação de transparência das instituições, ao fortalecimento do controle social e às medidas que acabem com a impunidade, jamais haverá a redução do problema. Um líder do século 21 deve estar preparado para lidar com o caos e a complexidade. Se for empresário, vai levar tapas do mercado na cara todos os dias, terá de enfrentar crises econômicas e concorrentes inovadores. Se for político, vai levar rasteira de corruptos a qualquer tempo, ser surpreendido por modos criativos de desviar dinheiro.
O esquema que operou dentro da Petrobras e que vai sendo desveleado a partir da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, é prova da criatividade criminosa operando em constante evolução. Bilhões foram desviados para partidos políticos por meio de contratos públicos numa engenharia social impressionante.
O ambiente hipercompetitivo vai mudar sempre mais rápido que o poder de reação dos administradores públicos e privados, vai trazer variáveis imprevisíveis, que vão precisar de soluções eficientes e rápidas. Isso não significa que um líder possa se desculpar por ter sido surpreendido em meio a crises administrativas ou políticas. É uma irresponsabilidade que governantes, em âmbito federal e estadual, não se mostrem interessados em implantar medidas corretivas de rumo. É também sinal de fraqueza e conivência com o erro.
O país está perdendo uma oportunidade de discutir o que é necessário fazer para combater a corrupção, que tanto tem fragilizado a democracia brasileira. O problema se agrava porque, como o discurso contra a corrupção dos dois partidos que disputam a presidência não é acompanhado de uma proposta clara, o debate público se degenera em uma festa de paranoicos ideológicos.
As militâncias e simpatizantes deveriam deixar a paixão pelos times partidários de lado, esquecer a irracional paranoia ideológica que cultivam e encarar o problema de frente. O foco não mais pode ser "quem desviou mais, quem investigou mais". É preciso implementar medidas corretivas, que passam por mudar as instituições e realizar reformas, ampliando a transparência e a fiscalização dos órgão de Estado, desenvolvendo mecanismos eficazes que acabem com a impunidade.
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