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Os partidos vão continuar no processo de deterioração de imagem nos próximos meses e, junto com eles, vai padecer todo o sistema político brasileiro. Não será um ano fácil para ninguém. A perda de prestígio das legendas, uma tendência internacional, será agravada no Brasil, dado o nível de descobertas nas investigações da força tarefa da Operação Lava Jato.

A avalanche de delações premiadas dos 77 executivos das Odebrecht e a possibilidade de novos acordos com candidatos a delatores de alto calibre, como o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o marqueteiro João Santana, tendem a causar enorme impacto nas grandes legendas nacionais. Assim, o pouco prestígio dos partidos irá se esvaziar como uma bolha de espuma.

A dominação das legendas por caciques regionais, o envolvimento de altas lideranças partidárias em delitos investigados na Lava Jato, e a manutenção dos suspeitos em cargos de direção, seja internamente nas siglas, seja no Congresso Nacional ou no Poder Executivo, são provas de que o ambiente político entrou num círculo vicioso.

Escândalos podem envolver alguns poucos indivíduos mas, como não há mecanismos eficazes internos de punição, contaminam toda a estrutura dos partidos. Se quiserem recuperar o prestígio perdido, reconectados à sociedade, não há outra saída – precisarão implementar reformas radicais para serem relevantes.

E quando se fala em reforma radical não está se apelando para nenhum truque de “novilíngua” orwelliano, no estilo “mudar para manter as estruturas de poder”. Está se propondo alterar profundamente a estrutura de funcionamento, a fim de democratizá-los, torná-los transparentes e pautados em valores republicanos, que, quando desrespeitados, fazem cair até mesmo os seus mais poderosos líderes. Assim como as startups abalam gigantes tradicionais com sérias dificuldades em inovar, os partidos precisam romper com o passado.

O esvaziamento dos partidos é um fenômeno global que tem levado especialistas a propor soluções para o fortalecimento das democracias. Preocupado com a desconexão entre partidos e sociedade, e com a acelerada degradação da relevância dos sistemas partidários no mundo, o pesquisador Moisés Naim sugere que as legendas se tornem mais flexíveis para se adaptar ao século XXI e para evitar que líderes carismáticos com projetos ilusórios e grandiloquentes enganem o eleitor.

“O mesmo organograma relativamente horizontal e menos hierarquizado que permite às ONGs maior flexibilidade e sintonia com as necessidades e expectativas de seus militantes, ganhar agilidade, desenvolver programas mais inovadores, propor ideias mais inspiradoras e, com um pouco de sorte, impedir que terríveis simplificadores que medram dentro e fora de suas estruturas cheguem a ter influência”, afirma Naim, na obra O Fim do Poder.

Com uma eleição presidencial no próximo ano, evitar aventureiros mentirosos, qualificar o debate e resgatar os partidos é uma tarefa crucial. Mas a reforma radical das legendas só será bem-sucedida se tiver como foco o aumento da participação política, tanto dentro quanto fora das organizações partidárias.

Elas precisam melhorar seus mecanismos de democracia interno e estabelecer canais de debate com os eleitores de forma perene. Para evitar a repulsa de parte da sociedade, necessitam também abandonar as narrativas fantasiosas de perseguição política e as desculpas esfarrapadas hoje tão comuns e regularmente aceitas.

Só assim poderão recuperar o prestígio que tiveram no século XX e que agora veem rapidamente declinar. Os partidos que resistirem em permanecer com as mesmas práticas de dominação interna, favorecendo pequenos grupos que se sucedem no poder, irão, no longo prazo, ser atropelados por estruturas mais ágeis e democráticas que certamente vão surgir.

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