Mais uma rodada de protestos contra a corrupção deve acontecer no próximo sábado, 21 de abril, quando, no Dia de Tiradentes, manifestantes organizam o "Dia do Basta" em 42 cidades do país. Em Curitiba, a manifestação está marcada para as 10 h, na Boca Maldita. Entre os objetivos do movimento estão o fim do foro privilegiado e a caracterização da corrupção como crime hediondo. Mesmo supondo que dezenas de milhares de cidadãos em todo o país estejam dispostos a sair de suas casas para participar dos protestos, por mais alto que o coro de manifestantes eleve sua voz, o evento não será mais que um recado para surdos.
As marchas contra a corrupção de 2011 foram experiências importantes ao mostrar que é preciso muito mais que sair às ruas nos feriados para coibir a cultura de corrupção no país. A eficácia das passeatas realizadas no ano passado teve apenas efeito midiático. Pouco ou quase nada mudaram a realidade do país. Sem táticas contundentes e duradouras contra os maus políticos brasileiros, essas manifestações correm o risco de tornarem-se tradições folclóricas. Ou, pior, os participantes podem se cansar de ir às ruas, achar que de nada valeu seus esforços pessoais, e retornar frustrados ao estado de apatia social.
Evidentemente, protestos periódicos como o Dia do Basta têm o seu valor. Permitem que os novos movimentos sociais em formação fortaleçam os laços entre os manifestantes, tornando-os um grupo mais coeso e entrosado e, quem sabe, de alcance nacional. Como se pressupõe que a intenção é de realizar mudanças genuínas, para melhorar a cultura política brasileira eles terão de organizar suas ações no dia a dia da discussão política do país. Podem escolher por lutar por transparência e fácil acesso da informação pública. Podem contribuir para a fiscalização das instituições. Podem, ainda, ajudar a ampliar o debate sobre o voto de qualidade.
Essa última atitude, aliás, teria melhores resultados que passeatas, até porque neste ano ocorrem eleições municipais. A fim de evitar a eleição de maus políticos e a reeleição de péssimos vereadores, poderiam fazer um belo trabalho de informação e acompanhamento da atuação da classe política. Os eleitores precisam ser lembrados do mau comportamento dos políticos para evitar que persistam no erro nas urnas. Assim, nas eleições municipais, os manifestantes podem ajudar no esclarecimento da população, explicando, por exemplo, qual é a função de vereadores e prefeitos. Podem elaborar diagnóstico da atuação dos atuais políticos eleitos no cumprimento de seus mandatos. Podem disseminar ações educativas, que permitam ao eleitor discernir quais comportamentos dos políticos fazem deles péssimos candidatos a cargos públicos. É uma excelente oportunidade para se apresentarem como força política relevante.
Os novos manifestantes são o que há de novo no cenário político brasileiro. Não foram ainda cooptados por partidos e governos, como aconteceu com diversos outros movimentos. Por esse motivo, não aceitam resignados a política do "toma lá da cá", não aceitam fichas sujas na vida pública, nem ficam passivos frente a notícias de desvios de recursos públicos. São habilidosos no mundo das redes e utilizam o seu potencial agregador o máximo que podem. Lidam com informações públicas de sites de transparência com desenvoltura. Se optarem por gastar tempo e energia também em atividades que mudem a cultura do voto, que forneçam informações sobre os atuais ocupantes de mandato e os novos pretendentes a cargos, certamente colherão melhores frutos no campo político. Ações dessa natureza são mais eficazes que tirar o sábado ou feriado para pedir que os próprios políticos façam a mudança.
Disso tudo fica uma certeza a energia criativa dos novos manifestantes pode ser o propulsor de uma nova realidade política. Entretanto, apesar de todo esse potencial, os objetivos dos protestos acabam sendo muito limitados. Pede-se que os legisladores façam todo o trabalho. Pede-se que sejam aprovadas leis que acabem com o foro privilegiado ou tornem corrupção crime hediondo. No fundo, os manifestantes querem que os políticos acabem com a corrupção. Mas a experiência tem mostrado o desinteresse de boa parte da elite política em corrigir as distorções do sistema político brasileiro.
Enquanto acreditarem que protestos esporádicos irão sensibilizar os políticos, os novos manifestantes estarão vivendo numa ilusão romântica. Se quiserem melhorar a cultura política brasileira, não precisam deixar de sair às ruas protestar. Mas terão de realizar tarefas muito mais complexas e trabalhosas que isso.
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