Durante as férias ou em um dia de folga qualquer, uma das melhores coisas a se fazer é pegar um livro ou um jornal e se sentar em um banco de praça para ler. Mas esse programa tão banal, infelizmente, não está ao alcance dos curitibanos nem dos moradores de muitas cidades brasileiras, em geral. A questão nem é tanto a respeito da segurança, ou a falta dela. O problema é que os bancos públicos são quase inexistentes. Não há lugar para se sentar.
O poder público não oferece dados estatísticos sobre o tema, mas basta passear pelas nossas praças e parques para constatar o problema. Também há quem estude o tema. Em Maringá, o pesquisador José Alcides Remolli identificou que, em 2010, um terço das praças do plano piloto da cidade não tinha bancos. As palavras dele, em dissertação de mestrado, são sábias: os bancos não são um mobiliário obrigatório, mas são fundamentais para que pessoas da terceira idade, portadores de deficiência ou gestantes frequentem os locais sem problema. Há dois meses levei a dona Leonilde, minha avó, de 94 anos, em um parque perto da casa dela. Por sorte havia um banco próximo à entrada, para ela recuperar as forças. Era o único.
Esparramar-se pela grama tem lá seu charme, mas uma política de incentivo ao turismo e de valorização do espaço público deveria levar em conta os benefícios de se instalar banquinhos por aí. No coração do Parque Moinhos de Vento, de Porto Alegre, por exemplo, há bancos públicos a cada 10 passos. Outra vantagem: grande parte do calçamento do parque é de saibro. Não há necessidade de cimentar ou asfaltar tudo, especialmente no meio das áreas arborizadas. Economiza-se de um lado e aí sobra a verba para os bancos, se esse for o problema. Mas, sinceramente, a questão é que os governantes não estão lá muito preocupados com nosso bem-estar. Querem inaugurar obras vultosas.
Em Cascavel, no Oeste do estado, boa parte da população estranhou a revitalização da popular Praça da Bíblia, cujo nome oficial é Vereador Luiz Picoli. A gestão anterior informou que gastou em torno de R$ 700 mil com construção civil e quase o mesmo valor para erguer dezenas e dezenas de postes: R$ 630 mil. Pode ser que a obra agrade aos troianos, mas, em termos de dinheiro público, há pelo menos 50 coisas mais úteis a se fazer do que gastar esses valores com um projeto extravagante de iluminação. Até há bancos para se sentar. Mas eles ficam sob o sol implacável, sem nenhuma sombra. Talvez por isso seja difícil ver alguém sentado por ali.
O mais comum, entretanto, é o outro extremo: praças e parques com grande número de visitantes e nenhum banco. Em Curitiba temos vários exemplos negativos: o Jardim Botânico, o Parque São Lourenço, a Praça Garibaldi, o Bosque Alemão... Não é exagero dizer que são proibitivos aos idosos.
Há quem teme que desocupados se apropriem dos bancos e dos espaços públicos. Mas isso só ocorre quando os cidadãos e a vizinhança realmente não se interessam pelo local. Uma iniciativa que parece interessante é a academia ao ar livre, utilizada em muitas cidades. Os equipamentos de ginástica conseguiram atrair um grande público. No Passeio Público, que fica na região central de Curitiba e há tempos é considerado inseguro por muita gente, o cantinho da ginástica vivia às moscas até o momento em que os aparelhos novos foram instalados.
O investimento nessas academias não é baixo: edital da prefeitura de Curitiba de 2010 previa o pagamento de R$ 6 milhões por 100 academias, incluindo aí a manutenção dos espaços por cinco anos. Nem todas estão prontas, mas o ganho social obtido até agora parece compensar a despesa.
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Quem não conhece os locais mencionados nesse texto pode matar a curiosidade usando a internet. Os mapas e imagens por satélites do buscador Google ajudam bastante.
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