O tempo passa, o tempo voa, e os planejadores da Copa no Brasil continuam à toa. Não temos ações concretas e os projetos ainda engatinham. Com tanto atraso, o governo federal já mudou seu discurso. As obras de mobilidade, que seriam um grande legado aos brasileiros, podem ficar para depois, ou sei lá quando.
Nesta semana, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, já deu sinais de que não se preocupa muito com isso. "Mobilidade urbana é um legado para as cidades, mas não são [investimentos] essenciais para a operacionalização da Copa do Mundo." Ela falou isso após dizer que nos dias de jogos podem ser decretados feriados, para não haver caos no trânsito.
A mudança no discurso do Planalto ocorre pouco mais de cinco meses após o ministro do Esporte, Orlando Silva, garantir que o país podia "confiar" no governo. "Os preparativos para a organização do mundial de futebol aumentam o ritmo a cada dia. Trabalhamos para organizar a melhor Copa da história, um evento que deixe um legado que orgulhe os brasileiros", escreveu ele em um artigo de 2 de abril.
Não se sabe sobre qual ritmo o ministro falava. Atualmente, o governo comemora o avanço de ampliações em alguns aeroportos, como o de Curitiba. Mas as obras de mobilidade urbana sob a tutela do Ministério das Cidades, por exemplo, não andaram nada. São R$ 650 milhões previstos para este ano. Mas, até quinta-feira passada, apenas alguns "trocados" tinham sido utilizados: R$ 113 mil, ou 0,02%.
No próprio Ministério do Esporte as coisas não estão muito melhores. Pela previsão orçamentária deste ano, a pasta tem direito a uma verba de R$ 2,4 bilhões. Mas, desse total, apenas R$ 163,6 milhões (6,6%) foram efetivamente pagos. Será que esse ritmo está ao gosto do ministro Orlando Silva?
Oposição
O pior é que os erros não se restringem ao governo federal. A mesma oposição que bombardeia a presidente Dilma Rousseff com críticas sobre a organização da Copa de 2014 aplaude governantes tucanos e de outros partidos que se valem de práticas tão ruins ou piores do que as utilizadas pelo Planalto.
Na quinta-feira, a Câmara de Vereadores de Curitiba promoveu uma audiência pública para discutir o andamento das obras da Arena da Baixada. Em uma palavra: frustração. O presidente da Comissão da Copa do Atlético, Mario Celso Petraglia, nada esclareceu. Pelo contrário. Disse que as obras no local começam em 3 de outubro. "Com qual recurso, com dinheiro de onde, ainda não sabemos." Como assim?
Os repórteres do caderno de Esportes aqui da Gazeta do Povo estão há dias tentando montar o quebra-cabeça da engenharia financeira que o Atlético usará, mas as pessoas responsáveis não dão as respostas de forma clara, não atendem ao telefone. Na Câmara de Vereadores, onde a cobrança oficial poderia ser incisiva, nada.
O que se sabe é que a Arena da Baixada, por ser de propriedade privada, não poderia receber dinheiro público. O mesmo ocorre com o Beira-Rio, em Porto Alegre, e com o Itaquerão, do Corinthians. Curiosamente, esses três estádios são os que estão com a situação mais problemática entre os 12 que abrigarão o Mundial. Você acredita que a norma será respeitada?
Jornalistas que cobriram de perto os eventos da Fifa contam que mesmo em países ricos, como Alemanha e Japão, houve problemas de organização. Estádios inacabados receberam jogos e faltava qualificação de mão de obra taxistas não falavam inglês, por exemplo. No Brasil não será diferente, e os estrangeiros provavelmente vão encontrar muitas falhas. Nada muito grave, pois eles irão embora. Pior para os brasileiros, que correm o risco de receber como legado da Copa do Mundo apenas caixas-pretas.
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