Se você pegou a BR-101 e foi até Santa Catarina no feriado desta semana como eu e mais um punhado de curitibanos , provavelmente se chateou com tanta chuva. Mas é sempre bom passear ainda que com tempo ruim e, para quem quisesse, bastava tomar o caminho de volta para casa. Coisa que milhares de catarinenses desabrigados ou desalojados não puderam fazer nos últimos dias.
Ontem pela manhã, quem voltou de Santa Catarina pela BR-101 não enfrentou grandes problemas, mas foi necessário pulso firme para desviar de imensos buracos na rodovia, principalmente no trecho entre Balneário Camboriú e Itajaí. Muitos carros tiveram de parar no acostamento para trocar os pneus furados. À tarde, já de volta ao trabalho, fico sabendo de bloqueios na BR-101 e em várias outras rodovias. O site da Gazeta mostra as fotos e o número de atingidos. As imagens são fortes, mas tristeza maior é olhar alguns dados oficiais, que comprovam que o poder público praticamente não age para evitar novas tragédias.
Desde 2008 o governo federal aplica grandes somas de dinheiro para socorrer as cidades atingidas por desastres naturais. Naquele ano, as fortes chuvas que caíram sobre Santa Catarina provocaram a morte de pelo menos 120 pessoas.
De lá para cá a situação só piorou. Houve alagamentos em Alagoas, Roraima, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e aqui no Paraná. Quando há cidades decretando situação de emergência ou calamidade, o governo federal age rápido no papel. Entre janeiro de 2008 e quinta-feira passada, o montante previsto para ser usado na reconstrução após desastres chegava a R$ 7 bilhões. Mas, desse total, R$ 4 bilhões foram efetivamente pagos pelo poder público.
Com tantas ocorrências, era de se esperar que o governo federal destinasse mais dinheiro para evitar que novas tragédias se repetissem. Infelizmente, isso não foi feito. A verba prevista para os programas de prevenção era de R$ 1,9 bilhão. Mas apenas R$ 124,8 milhões (menos de um décimo do valor programado) foram realmente desembolsados.
É claro que é preciso socorrer os locais atingidos pelos temporais. Mas é preciso reverter essa lógica perversa de o poder público só atuar depois, porque senão a cada ano os valores destinados a recuperar o que foi destruído só aumentarão, assim como o número de mortos e prejudicados.
Centro de monitoramento
O governo federal sinaliza que a situação pode mudar. Em 1.º de julho foi criado o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que atuará no planejamento e na elaboração de alertas e estudos para minimizar os efeitos dos eventos climáticos. O pessoal técnico já está sendo contratado e a expectativa é que o órgão, que será instalado no interior de São Paulo (Cachoeira Paulista), comece a atuar em novembro. Em quatro anos, devem ser investidos R$ 250 milhões. Não é muito, mas prevenir custa menos do que remediar.
Paraná
O Paraná não usa a mesma contabilidade que a União, mas dá para ver que a tragédia no litoral paranaense em março forçou investimentos extras na Defesa Civil do estado. De janeiro até o fim de agosto, o governo desembolsou R$ 117,5 mil para pagar material destinado ao órgão. No mesmo período do ano passado, o montante pago foi de R$ 59,7 mil.
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