Sim, em quase toda a Europa mulheres e homens se aposentam com a mesma idade, próximo aos 65 anos, com tendência de alta para as próximas décadas. Então, o Brasil precisa do mesmo remédio amargo? Poderíamos então discutir outras medidas que causariam provavelmente equivalente economia de recursos públicos. O salário de um deputado em Portugal, por exemplo, é de 3,6 mil euros, com mais 370 euros para despesas de representação.
Então, um deputado federal padrão, que não participa do colégio de líderes ou de cargos diretivos, recebe 4 mil dinheiros em Portugal. É apenas o dobro do salário médio no país, aponta estudo divulgado pelo portal Swissinfo. Na maioria dos países europeus, é essa a realidade. Na Alemanha, os deputados recebem cerca de 9 mil euros ao mês, o equivalente a 2,8 vezes o salário médio dos trabalhadores.
No Brasil, já sabemos, os parlamentares estão no topo da elite, junto a outras categorias “diferenciadas”. Um parlamentar recebe um salário de R$ 33,7 mil, mais R$ 1,6 mil de auxílio-moradia, mais R$ 1,4 mil de ajuda de custo, além de outros reembolsos para poder engan, ops, prestar contas do mandado parlamentar.
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Um deputado no Brasil recebe aproximadamente dez vezes a renda média do trabalhador, aponta o levantamento da Swissinfo, antiga Rádio Suíça Internacional.
Dez vezes.
E agora discutimos se a idade mínima para aposentadoria das mulheres será elevada em dez anos.
Qual dez você prefere?
Concordo que 55 anos é uma idade muito reduzida, e que precisamos equilibrar as contas públicas.
Mas como é possível discutir isso em meio a tantas desigualdades do Brasil? Querem que a mulher se aposente com 65 anos, como nos países europeus, mas nos apresentam esse número assim, como se não houvesse todo um sistema que garante qualidade de vida, que permite às senhoras da Alemanha chegarem à terceira idade em situação melhor do que as senhoras brasileiras.
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Na Alemanha mulheres e homens se aposentam aos 65 anos. Na Alemanha, a expectativa de vida ao nascer é de 81 anos. Dos alemães entre 25 e 64 anos, 87% concluíram o ensino médio. O PIB per capita é de US$ 44 mil. O Better Life Index da OCDE, que forneceu os dados, indica ainda que 5% dos alemães trabalhavam mais de 50 horas por semana.
No Brasil, discute-se nova idade para aposentadoria. No Brasil, a expectativa de vida ao nascer é de 75 anos. Dos brasileiros com 25 a 64 anos, apenas 46% concluíram o ensino médio. O PIB per capita é de US$ 11 mil. Segundo a OCDE, 9,5% dos brasileiros têm jornadas semanais acima de 50 horas.
Podemos continuar infinitamente, sobre temas os mais variados: Quanto imposto foi sonegado na Alemanha em 2016? Quantos deputados foram alvo de investigações nos tribunais superiores por suspeita de desvio público e corrupção?
A Alemanha não é o paraíso, certamente. Nem tem um sistema de saúde público (SUS) como o Brasil. Mas é este o ponto: a rede de bem-estar social de cada nação é muito diferente. Precisamos discutir amplamente que tipo de benefícios e regalias estamos dispostos a manter no nosso país e de qual abriríamos mão. Isso não está acontecendo
Então temos que elevar a idade da aposentadoria? Aparentemente sim, considerando a mudança na pirâmide etária brasileira. Mais idosos e menos jovens. Além disso, temos expectativa de vida maior. Mas de qual Brasil estamos falando? Daquele dos ricos funcionários públicos de Brasília, que usam o carro do ano para ir trabalhar, ou daquele das ruas esburacadas da periferia, onde um cidadão acorda às 5 horas para ser conduzido em forma de enlatado até o trabalho?
Recuo
Dado o recuo do presidente Michel Temer em pontos cruciais da reforma da Previdência, bem que as entidades empresariais e industriais, que tanto esperavam pelo ajuste, poderiam retirar o apoio ao peemedebista. O Congresso se prepara para votar uma PEC retalhada. É isso o que o “mercado” quer? Não parece. Os trabalhadores tampouco. A quem servirá uma reforma mal- feita?