Para alegria geral da nação, a presidente Dilma Rousseff anunciou, há quase um ano, a redução na tarifa de energia elétrica. Agora, sem a ajuda de São Pedro, estamos novamente correndo riscos de desabastecimento o governo nega, mas não deixa de ser curioso que as quedas de luz ocorram justamente no verão, em momentos de pico de consumo nacional. Foi assim na semana que passou; ocorreu o mesmo em dezembro de 2012 e em fevereiro de 2011, para nos concentrarmos apenas nos anos recentes.
Os apagões não faziam parte das promessas de Dilma quando do anúncio do corte nas tarifas. Em pronunciamento na televisão em 23 de janeiro de 2013, ela afirmou que as perspectivas eram as melhores possíveis para o setor energético. A presidente destacou que a queda de 18% na tarifa do consumidor residencial, e de 32% para os demais, acontecia ao mesmo tempo em que ocorriam investimentos inéditos no setor.
"Isso significa que o Brasil vai ter energia cada vez melhor e mais barata, significa que o Brasil tem e terá energia mais que suficiente para o presente e para o futuro, sem nenhum risco de racionamento ou de qualquer tipo de estrangulamento no curto, no médio ou no longo prazo", disse Dilma na ocasião.
A gestão do PT de fato corrigiu falhas graves no sistema elétrico, que haviam levado ao grande apagão de 2001, ocorrido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Fez isso, mas também está adotando medidas temerárias, que colocam em risco o abastecimento atual e futuro.
O calor e a estiagem que diminuíram o nível dos reservatórios das hidrelétricas recentemente suscitaram algumas reportagens sobre os gargalos atuais do sistema elétrico brasileiro. O governo reage e diz que as críticas são de oposicionistas interessados em desgastar a presidente Dilma no ano em que ela tentará a reeleição. Errado. As falhas no sistema energético brasileiro são conhecidas há tempos e vêm sendo apontadas independentemente do período eleitoral.
Em fevereiro de 2013, por exemplo, a Gazeta do Povo publicou a reportagem "Uso eficiente de energia pode adiar desembolso de R$ 55 bi", que mostrava os ganhos econômicos que o país poderia ter se reduzisse o consumo. Por exemplo: se reduzisse o consumo em 10%, o Brasil poderia esperar ou até abdicar da construção da usina de Belo Monte, que irá produzir em torno de 11 mil megawatts, com custo em torno de R$ 37 bilhões. Se a queda no consumo atingisse 15%, poderia economizar os R$ 55 bilhões.
O problema é que o governo não faz nenhum esforço para melhorarmos nossa eficiência energética. A reportagem mostrava que os programas oficiais contribuíram para uma queda no consumo de apenas 1,5% no período de cinco anos. Sem ação específica e com a redução no preço da tarifa, especialistas apontaram para o risco de estímulo ao desperdício.
Reportagem anterior da Gazeta do Povo, publicada em novembro de 2012, alertava para outro erro no planejamento federal: 52% do total dos recursos dos programas de eficiência energética foram usados para a compra de geladeiras para a população carente um investimento de R$ 1,8 bilhão. "As famílias de baixa renda têm um consumo energético de apenas 2% do total do país. Mas, ao mesmo tempo, o nosso governo assistencialista decidiu que é preciso aplicar mais de 50% dos investimentos de eficiência energética em projetos para essas famílias. Para chamar isso de eficiência falta muito", explicou, na época, o professor Luiz Augusto Nogueira, do Centro de Excelência em Eficiência Energética.
São observações pertinentes que, no entanto, não encontram eco no governo federal. Talvez a presidente Dilma Rousseff as considere "previsões alarmistas", como disse no pronunciamento de janeiro de 2013. "Por termos vencido o pessimismo e os pessimistas, estamos vivendo um dos melhores momentos da nossa história", declarou para toda a nação. Um recado à presidente Dilma: não se trata de um embate entre otimistas e pessimistas, mas sim da análise da situação atual do Brasil. Se alguém disser que o setor energético do Brasil é eficiente, será preciso alterar o Aurélio, para modificar o sentido da palavra.
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