Era uma vez, num reino não tão distante, um monarca que gostava de brincar com o dinheiro do povo. Ele não temia nada, nem a ninguém. Até havia fiscalização dos gastos do castelo, mas tudo era aprovado, mesmo as coisas mais absurdas.

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O rei gostava de cultura popular e folclore. Certo dia começou a cantarolar todas as cantigas de roda que conhecia. Depois de cantar Nesta Rua, gritou "heureca!" e chamou os conselheiros do reino. Pediu que todos prestassem bastante atenção na letra da cantiga. "Se esta rua, se esta rua fosse minha, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas bem brilhantes para o meu amor passar." Depois o monarca anunciou: "Bom, como todas as ruas do reino são minhas, vou mandar ladrilhar com pedrinhas brilhantes".

Os conselheiros eram verdadeiros puxa-sacos, e todos concordaram. O bobo da corte, que era bem ingênuo, estava ali por perto e resolveu falar: "Vossa majestade, será ótimo, o povo vai adorar. Vão poder catar as pedrinhas brilhantes e comprar pão e batatas. Ninguém mais passará fome". O monarca não queria que ninguém tirasse as pedrinhas brilhantes, então decidiu usar placas de mármore bem grandes e pesadas, pois assim ninguém conseguiria roubá-las. Assim foi feito.

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Mas chegou ao ouvido do povo que o monarca iria gastar uma fortuna para colocar mármore em seu quarteirão. Algumas pessoas se revoltaram e decidiram protestar, queriam saber quanto o reino tinha gasto no mármore. Para não serem reconhecidos, começaram a usar máscaras e se intitularam "Anônimos".

Apesar da revolta, o rei não desistiu da pavimentação de mármore. Já estava tudo comprado, afinal. Decidiu que faria uma obra especialmente para agradar a plebe. Chamou o bobo da corte, e quis saber do que o povo mais gostava. "Se vossa majestade quer agradar, faça um grande teatro, onde as pessoas possam ver belos espetáculos." O monarca chamou os conselheiros. "Faremos agora um grande teatro. Mas desta vez quero ver o povo satisfeito. Então, adotaremos o procedimento de transparência total na obra! Não se esqueçam disso!"

O conselheiro responsável pelas edificações fez exatamente o que o monarca pediu. Fez uma obra completamente transparente. Tão transparente que era constrangedor: o banheiro tinha paredes de vidro, e da rua dava para ver tudo o que acontecia lá dentro.

O rei virou piada em todo o reino. Ficou furioso, mas decidiu fazer uma grande festa de carnaval. Todos se ocupariam com as fantasias e os preparativos por um bom tempo. Depois, ficariam cansados e com ressaca, e o deixariam em paz por várias semanas. Prometeu recursos para todas as agremiações que quisessem desfilar. Foi até o Banco do Reino, sacou os recursos e os colocou no cofre do castelo.

Entretanto, na hora em que o monarca foi pegar o dinheiro para distribuir para as agremiações, não encontrou um tostão. Todo o dinheiro do cofre havia desaparecido! Convocou os conselheiros para uma reunião extraordinária. Queria saber o que tinha acontecido.

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"Majestade, foi uma medida necessária para fecharmos o balanço do ano passado. Havíamos prometido para a Casa da Moeda que teríamos um superávit nas nossas contas equivalente a 3,1% do nosso PIB, mas estava difícil chegar a esse valor. Então juntamos todas as moedas que estavam dando sopa por aí e levamos nas carruagens até a Casa da Moeda, para mostrar que cumprimos a meta!", explicou o conselheiro das finanças.

O rei não gostou da explicação. "Como assim, mas nós não economizamos esse dinheiro! Ele já está comprometido e será usado no carnaval. Não era melhor dizer à Casa da Moeda que não conseguimos economizar o que foi prometido porque oferecemos muitos benefícios ao povo no ano passado e cobramos menos impostos?" O conselheiro das finanças disse que isso não seria possível. "Majestade, veja bem, nós ficamos prometendo um superávit de 3,1% ao longo do ano inteiro. Ia pegar mal se a gente não cumprisse."

"Mas todo mundo vai saber que não cumprimos e todos vão ficar falando mal do reino, não é?", questionou o monarca. "Apenas até aparecer outro assunto, majestade."

Ficção

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos reais terá sido mera infelicidade do monarca responsável, pois poderá ser responsabilizado por desperdício e mau uso de dinheiro público.

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