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A presidente Dilma Rousseff garante que a inflação de 2013 ficará dentro da meta. Isso é importante para as finanças brasileiras, certamente, mas o que eu queria mesmo é que o aumento dos preços coubesse no meu bolso. Dificilmente isso vai acontecer.

A meta da inflação para este ano é de 4,5%, com tolerância para uma variação de dois pontos porcentuais para mais ou menos. O governo tem instrumentos para segurar o aumento dos preços, mas precisa ser sábio para usá-los. O Brasil, infelizmente, ainda não atingiu esse grau de sabedoria. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a principal preocupação era manter a estabilidade do real, e para isso as taxas de juros permaneceram elevadas, estimulando a ciranda financeira e prejudicando os investimentos na produção. Sem investimentos, as empresas não contratavam, e o mercado de trabalho ficou estagnado. Sem emprego, não havia expansão do consumo.

Luiz Inácio Lula da Silva apostou nas políticas de transferência de renda e, mais tarde, na desoneração de alguns produtos. Com mais dinheiro na mão, todos passaram a consumir mais, e as empresas aumentaram a produção, mas sem elevar a produtividade. O aumento do salário mínimo – que era fundamental, mas que foi feito de maneira atabalhoada – acabou onerando os custos das empresas. Com dificuldade para contratação de mão de obra qualificada, altos impostos e os eternos problemas de infraestrutura, as empresas optaram por elevar seus preços. Com Dilma, estamos trilhando esse mesmo caminho.

Para esclarecer melhor o impacto da inflação no nosso bolso, vale a pena fazer um exercício de imaginação. Digamos que uma curitibana chamada Sissi tem uma vida bem simples, tranquila e repetitiva. Todos os dias, pela manhã, ela toma café preto em casa, sem açúcar, e come um pão francês simples. As demais refeições são feitas fora de casa. Ela aluga um apartamento e tem ainda os gastos fixos de taxa de condomínio, energia elétrica, água e esgoto, gás encanado e um pacote de internet com telefone. Usa produtos básicos de limpeza e de higiene pessoal. Como não tem automóvel, utiliza o transporte público todos os dias.

Sissi tem plano de saúde e eventualmente compra algum analgésico ou um antigripal. Ela é vaidosa, mas sem luxo: duas vezes por mês vai à manicure e uma vez ao mês faz a pedicure e corta o cabelo. De vez em quando compra uma peça de roupa ou um sapato, e a única diversão é o cinema, duas vezes por mês. Para manter a forma, frequenta a academia. Sissi já tem diploma universitário, e atualmente faz uma pós-graduação e curso de inglês para melhorar sua qualificação e ter um emprego melhor no futuro.

Para ter essa vida relativamente confortável, Sissi gastou R$ 2.629,00 em dezembro de 2012. O maior gasto foi com a residência, por causa do aluguel e das despesas fixas. Considerando a meta de inflação de 5,5%, Sissi teria um incremento de R$ 144 nas despesas em dezembro de 2013. Mas, para isso ocorrer, é preciso uma grande reviravolta nos preços.

Considerando a inflação acumulada em Curitiba entre janeiro e setembro, os gastos de Sissi já aumentaram R$ 214 em relação a dezembro de 2012 – ou seja, 8% a mais. No período, apenas dois itens tiveram redução de preço: café moído e energia elétrica.

Descontentamento

Se a inflação ficar dentro da meta de fato, o Brasil cumpre seu dever básico e agrada ao mercado e aos investidores. Mas não será de se estranhar se, mesmo assim, os trabalhadores brasileiros, que têm gastos crescentes com alimentação e serviços, ficarem descontentes.

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