Os nobres deputados estaduais do Paraná criaram um monstrengo metropolitano. Na quinta-feira, aprovaram a redação final do projeto que inclui mais três municípios na já inchada Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O texto segue para sanção do governador Beto Richa (PSDB), que ainda tem a chance de vetá-lo.
A RMC já tem 26 cidades, chegará a 29 se o projeto for sancionado. Há outras regiões com um número maior, mas nenhuma delas é tão extensa. A região de São Paulo, por exemplo, tem 39 municípios, mas sua área corresponde a 70% do território do conglomerado curitibano. Pelo projeto aprovado pela Assembleia Legislativa, a área da RMC terá 21,3 mil quilômetros quadrados, o triplo da região metropolitana de São Paulo.
Os atuais parlamentares não podem ser responsabilizados pelos erros do passado, dentre os quais o inchaço da RMC. Mas poderiam evitar a repetição de tais equívocos. Os dados disponíveis mostram que o desenvolvimento humano dos municípios da Região Metropolitana de Curitiba deixa a desejar.
No ranking brasileiro, temos apenas o 8.º lugar. Em dez anos, a evolução no índice até que foi razoável, de 8%, suficiente apenas para ficar dentro da média das regiões metropolitanas. Mas ficou abaixo da variação do IDH do Paraná, que subiu 11% no período.
Uma das justificativas de incluir mais três municípios na RMC Rio Negro, Piên e Campo do Tenente é de facilitar o acesso deles a linhas de crédito, como o do programa Minha Casa Minha Vida, destinado, principalmente, para cidades com mais de 50 mil habitantes. A inclusão de cidades em regiões metropolitanas abre a possibilidade de abocanhar esses recursos. Mas será que os nobres deputados vão querer usar essa brecha para todas as 367 cidades paranaenses que têm menos de 50 mil habitantes? Na verdade, o Minha Casa Minha Vida também tem linhas para localidades menores, desde que tenham passado por um crescimento populacional acelerado.
Outro argumento para a inclusão dos novos municípios é reduzir o custo do transporte para a capital. Atualmente, o custo para o trajeto entre Rio Negro, Piên ou Campo do Tenente até Curitiba é por volta de R$ 40. Com a inclusão na RMC, os deputados estão alardeando que os usuários dessas cidades terão a chance de pagar a tarifa da Rede Integrada de Transporte, que é de R$ 2,50. Em outras palavras: os parlamentares acham justo que os moradores de Rio Negro, distantes 112 quilômetros do centro de Curitiba, paguem o mesmo que eu pago para ir para minha casa, que fica a 3 quilômetros aqui do centro.
Está certo que o poder público precisa criar tarifas sociais e subsidiar custos para ajudar pessoas e regiões menos desenvolvidas. Mas esse sistema de integração de transporte não é viável e opera no vermelho há tempo. Para cobrir todos os custos, a tarifa atual deveria ser de R$ 2,68. Dúvida: não seria mais justo cobrar conforme a distância? A passagem não precisa ser muito cara não, é apenas para viabilizar o transporte público. Cobrando um pouco (repita-se: pouco) a mais em trajetos longos, não seria possível aplicar uma tarifa menor para trajetos curtos? Isso não incentivaria as pessoas a deixarem os carros em casa? A única opção disponível em Curitiba é o Circular Centro, um micro-ônibus cuja tarifa é de R$ 1,50.
Peço desculpas aos moradores das outras cidades que estão contentes com a entrada na RMC. Mas, neste caso, não há almoço grátis. O governador Beto Richa vai ter que escolher se oferece uma refeição completa a menos gente, ou se vai presentear milhares apenas com migalhas.
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