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Imagino que a síndrome dos tiques azuis no WhatsApp atinja 9 entre 10 usuários. Você manda uma mensagem para uma pessoa; ao lado, aparecem os dois tiques azuis, indicando que ela já leu a mensagem. Já leu, e já deu tempo para reler. E a pessoa ainda não respondeu! Que frustração, que ansiedade.

Estamos em ritmo acelerado na vida privada e na vida corporativa. Somos encontrados em todos os lugares, encontramos os outros, tudo em tempo real. A vida virou um instantâneo.

Quando não encontramos essa mesma agilidade na vida pública, vem a grande frustração. O pior dos infernos urbanos parece ser mesmo o trânsito e os congestionamentos. Quanto tempo perdido!

Chama a atenção o desprezo de muitos motoristas com as ações de controle de velocidade nas vias. Limitar a velocidade em algumas ruas centrais de Curitiba a 40 km/h parece ter sido fatal para o prefeito Gustavo Fruet (PDT), que nem avançou para o segundo turno na disputa pela reeleição. O mesmo ocorreu em São Paulo, com o prefeito Fernando Haddad (PT).

Em São Paulo, a luta no trânsito é mais feroz, e a velocidade nas marginais, dogma paulistano. Haddad promoveu a redução de 90 km/h para 70 km/h na pista expressa, de 70 km/h para 60 km/h na central e de 70 km/h para 50 km/h na pista local.

O novo prefeito, vencedor em primeiro turno João Doria (PSDB), prometeu retomar os patamares anteriores. Aqui em Curitiba a situação, como muita coisa na disputa, ainda não está clara.

Mesmo quem apoia Doria sabe que a redução da velocidade é incontestavelmente importante para a redução das mortes no trânsito. O engenheiro Rogerio Chequer, uma liderança do movimento Vem pra Rua, é um deles. Em entrevista à Folha de S. Paulo, observou que, se a velocidade máxima fosse de 10 km/h, não haveria mais nenhum atropelamento. Claro. Mas ele disse que isso é inviável para o funcionamento da cidade.

De fato, 10 km/h é inviável. Mas 70 km/h? Ou 40 km/h em algumas ruas do Centro de Curitiba? Os números não são definidos à escolha do gestor, há estudos que sustentam a limitação. A partir de 40 km/h, por exemplo, a chance de um atropelado morrer cresce de forma exponencial.

Em dias de semana, em que trafego na Rua André de Barros por volta das 18h30, não consigo andar nem a 20 km/h. Retirar a restrição nada afeta o trânsito no horário do rush.

Se é de madrugada, porém, andar a 40 km/h é um suplício. Nos fins de semana, mesma coisa. O ideal seria anistiar as multas nesses horários? Mas se o propósito é que os motoristas dirijam mais devagar, qual a justificativa para abrir brechas?

A única justificativa é a síndrome dos tiques azuis do WhatsApp. Não conseguimos esperar um minuto que seja, parece uma eternidade. O poder público, porém, não pode sucumbir à urgência desmedida de motoristas que querem ganhar poucos minutos.

Os defensores do controle da velocidade fazem as contas e torcem pelo bom senso dos demais. Se você trafega por uma distância de 5 quilômetros na Área Calma, a diferença de tempo de trafegar a 40 km/h ou 60 km/h é de 2 minutos e 30 segundos! Isso se você tiver a sorte de pegar um momento na área central sem trânsito. Na verdade, é difícil fazer o circuito todo da Área Calma. Normalmente, a passagem por uma via com restrição de velocidade é mais rápida.

Por exemplo: um motorista sai da Escola Dom Pedro II no Batel, em direção ao Alto da XV, na Rua Souza Naves esquina com a Almirante Tamandaré. Vai percorrer um total de 5 km, se for pela Avenida do Batel, que depois vira André de Barros e tal. O motorista vai atravessar 1,4 km dentro da Área Calma.

Digamos que não haja trânsito, que seja possível andar a 60 km/h durante todo o caminho, e reduzir a 40 km/h apenas neste trecho. Não vai levar nem 1 minuto a mais do que se trafegasse no trecho todo a 60 km/h.

Por 1 minuto, vale a pena rever o limite de velocidade, jogar fora o conceito de educação no trânsito e colocar em risco a redução no número de mortes?

Não, a síndrome do WhatsApp não pode ditar as políticas públicas.

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