O governo estadual comemora, com razão, a atração de novas indústrias ao Paraná. De forma geral, é uma boa notícia para todos os paranaenses. Mas, observando alguns detalhes, surge o temor de que isso seja benéfico só para os mais ricos. No caso, os municípios mais ricos e desenvolvidos. As regiões mais pobres e deprimidas parecem fadadas ao descaso do poder público.
O governador Beto Richa (PSDB), em entrevista à Gazeta do Povo em dezembro, confirmou que há muita dificuldade para levar empresas para o interior do Paraná. A maioria delas quer ficar próxima da capital paranaense e do Porto de Paranaguá. Resultado: concentração na Região Metropolitana de Curitiba e em Ponta Grossa, cidade que vem recebendo um boom de investimentos.
O problema é que a riqueza do Paraná já é extremamente concentrada. A mesorregião metropolitana de Curitiba (que inclui o Litoral) tem 34% da população estadual, mas responde por 47% do PIB. Além disso, das dez mesorregiões, seis têm participação no PIB em porcentuais inferiores a 4%. No Rio Grande do Sul, por exemplo, das sete mesorregiões, apenas uma tem desempenho tão baixo.
Isso nem é novidade, e vem ocorrendo no Paraná desde 1970, época em que nenhuma mesorregião tinha participação no PIB menor que 4%. Os perigos da concentração da riqueza já foram alvo de vários estudos acadêmicos e, veja só, até estão nas metas de governo de Beto Richa para o período 2011-2014. Está lá na página 25: "Trata-se, em última instância, de atingir um maior índice médio de desenvolvimento humano (IDH médio) e, para isso, direcionar o estado para políticas voltadas para a desconcentração do desenvolvimento. A diversificação das regiões aptas aos investimentos deve, portanto, ser uma das prioridades".
Então, chegamos ao ponto: o governo está dando prioridade à desconcentração do desenvolvimento? Será que daqui a cinco, ou dez anos, a riqueza do Paraná continuará ao alcance de poucos? Ou será distribuída de forma mais igualitária?
Como o próprio governador reconheceu a dificuldade de levar empresas ao interior, dá para partir do pressuposto que essa alternativa foi apresentada aos investidores. Mas será que não é hora de inovar na política de atração das indústrias, para o governo realmente chegar aos objetivos declarados em campanha?
Claro, os empresários querem o porto e boas estradas por perto, e por isso não querem ir além dos Campos Gerais. Mas isso não pode ser obstáculo para que o interior se desenvolva. A comparação pode ajudar: o principal canal de comércio exterior do Rio Grande do Sul é o Porto de Rio Grande, no extremo sul. Para chegar até lá, os produtores enfrentam o mesmo que no Paraná: algumas estradas boas, mas com tarifas de pedágio bem caras, e muitas estradas ruins. Isso não foi motivo para barrar um desenvolvimento mais homogêneo das mesorregiões ao longo das últimas décadas.
Não é o caso de transformar o estado inteiro em uma linha de produção. Nem todas as regiões precisam de grandes fábricas; algumas cidades, aliás, não devem ter nenhuma, para preservar determinados recursos naturais. Mas é preciso dinamizar a economia do interior e das cidades menores de algum modo, e ainda não sabemos quais são as vocações de cada região. As gestões passadas falharam em fazer o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) de todo o estado, fundamental para conciliar crescimento e sustentabilidade. Um ano já se passou, e mudar a situação de décadas não é fácil, é preciso agilidade.
Futuro
Nem precisa ser dito, mas aqui vai, por garantia: ao analisar a situação do estado, da cidade ou do país, o objetivo da coluna não é o de depreciar os feitos de nenhum governante. O que se pretende é fazer alertas para que o futuro seja melhor que o passado. Por isso, mesmo um pouco atrasado, vai o desejo de que 2012 seja melhor que 2011.
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