Tive de deixar meu apartamento, e agora estou em busca de outro para morar. Isto aqui não é um balcão de negócios, mas é importante explicar algumas coisas: estou procurando aqui em Curitiba, de preferência em um bairro próximo ao Centro, para não ter de mudar muito minha rotina. Pois bem. Além das dezenas de preocupações que envolvem a negociação de um imóvel, há outra que começou a me afligir bastante: o acesso ao transporte público e quanto isso custará.

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Por ter morado muitos anos na região central, fiquei mal acostumada com a grande oferta de linhas disponíveis. Andando apenas algumas quadras é possível ir para qualquer canto da cidade com facilidade.

Mas as opções de imóveis na área central não são muitas e, com os preços do jeito que estão, é preciso procurar bastante. E aí vem a angústia. Está realmente difícil achar um local que satisfaça as necessidades de habitação e locomoção ao mesmo tempo.

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Conheço bem o transporte de Curitiba. Na infância, a partir de 8 anos, andava de ônibus sozinha, pois era seguro – eram outros tempos. Depois, na adolescência, tive experiências pelas quais todo planejador e administrador municipal deveria passar, entre elas andar de Inter 2, em horário de pico, com o empurra-empurra dentro do tubo.

Além disso, como jornalista, conversei com muitos usuários e especialistas sobre os problemas do transporte urbano. Visitando bairros distantes é possível ver porque a compra de uma moto, ou do carro (ou os dois), foi a salvação de muitas famílias: o ônibus é lotado, sempre atrasado e o ponto fica a léguas de distância.

Mesmo com essa vasta experiência, digamos assim, ainda me espanto com algumas coisas. Parece inacreditável, mas para chegar a algumas localidades bem próximas ao Centro sem ter que pegar mais de uma condução ou andar várias quadras é preciso recorrer a uma linha metropolitana. Explicando melhor: para ir a uma avenida que fica a 4,3 quilômetros do Centro, as opções são: 1) pegar um ônibus convencional e caminhar de 900 metros a 1,3 quilômetro; 2) pegar um ônibus até um terminal e dali pegar um segundo ônibus; ou 3) pegar um ônibus metropolitano.

Infelizmente, as ruas brasileiras são inseguras, e ali não há igualdade de gênero. Como mulher, não posso caminhar 900 metros tranquilamente. Para chegar mais perto do meu destino, poderia então usar dois ônibus, mas isso não é prático. Se fosse para ir a um bairro mais distante, estaria disposta a usar ônibus alimentadores. Teria o ônus de morar distante do Centro, mas também haveria algum bônus, como imóveis mais baratos, ruas mais tranquilas, menos poluídas etc.

Só que estou falando de uma distância de 4,3 quilômetros, que em carro é feita em nove minutos. Usando um ônibus e caminhando 900 metros, eu demoraria, com sorte, 35 minutos. Se chegasse um minuto atrasada ao ponto, o tempo total da espera, da viagem e da caminhada seria 55 minutos. Utilizando dois ônibus, também dependeria da tabela de horários para fazer o percurso em 40 minutos ou uma hora.

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Então resta a linha metropolitana. A frequência é grande, assim como a demanda pela linha. Digamos que eu aceite pegar o ônibus lotado e viajar em pé, apenas para fazer o percurso mais rápido. Como a linha faz parte da Rede Integrada de Transporte (RIT), eu pagaria o mesmo valor pela tarifa, R$ 2,70. Mas até quando?

Hoje a tarifa das linhas metropolitanas integradas é de R$ 2,70 porque o governo estadual, depois de muita divagação, atendeu ao pedido da prefeitura de Curitiba e irá subsidiar a RIT com R$ 5 milhões mensais. A operação do sistema exige R$ 7 milhões mensais, e o restante é bancado pelos cofres da capital paranaense.

Curitiba não quer arcar com o custo de transporte das outras cidades. Justo. Mas a cidade tem que oferecer linhas suficientes para seus moradores. Certamente, a falta de segurança que limita as opções de usuários de ônibus e pedestres não é responsabilidade exclusiva do município – a ineficiência do governo federal e do governo estadual também estão por trás disso.

Mas, e se a RIT chegasse ao fim, e a tarifa do ônibus metropolitano subisse? Muitos curitibanos seriam prejudicados, e a responsabilidade maior recairia sobre a prefeitura de Curitiba.

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