Um dos personagens centrais do escândalo envolvendo a publicidade da Câmara Municipal de Curitiba decidiu romper o silêncio. Depois de quase um ano da primeira denúncia de suspeita de irregularidade nos contratos de publicidade, a empresária Cláudia Queiroz, dona da Oficina da Notícia, deu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Povo e à RPC TV. Em entrevista gravada na sexta-feira passada, ela negou qualquer irregularidade, afirmou que não tinha nenhum relacionamento com o ex-marido João Cláudio Derosso na época em que participou da licitação da Câmara e disse ser inocente.
Acompanhada pelo advogado Marcello Lombardi, Cláudia Queiroz não fugiu de nenhuma pergunta sobre a execução do contrato com a Câmara, mas evitou falar sobre a vida pessoal.
Por que a sra. resolveu falar?
Eu esperei que todas as investigações viessem à tona para que minha empresa, ao final de todo esse processo, pudesse mostrar que ela não tinha nenhum tipo de irregularidade.
Como reagiu às ações do Ministério Público (MP)?
O Ministério Público tem de investigar mesmo onde é aplicado o dinheiro público. Mas, cinco anos depois da licitação, mesmo com as contas aprovadas no Tribunal de Contas, o MP veio questionar. Acho estranho isso.
A sra. é inocente?
Sem dúvida alguma. Eu fui injustiçada, sou inocente sim. Cumpri um contrato, a Câmara foi um dos clientes da minha empresa. Eu reajo com muita indignação a tudo que foi falado e que foi feito com relação à Oficina da Notícia.
Como soube da licitação?
Eu soube pelo Diário Popular. Foi a primeira vez que eu participei de uma licitação e foi uma surpresa ter sido uma das empresas escolhidas.
Na época em que você se candidatou a essa licitação existia um relacionamento com o Derosso?
Não. Não existia e é bom deixar bem claro: eu não tinha absolutamente nada com ele no momento da licitação.
Isso surgiu depois quando você já estava com o contrato ativo?
Sim.
Quando os contratos foram renovados vocês estavam juntos?
Os aditivos se deram naturalmente, pela qualidade do serviço prestado pela empresa. Em momento algum poderia soar como irregular. Nas renovações não houve alteração de valor, só houve renovação de tempo de serviço, não houve aumento de valor e trabalho.
Na sua opinião, não houve nenhum favorecimento?
De forma alguma.
A sra. se perguntou em algum momento se era legal ou ilegal participar de uma licitação na Câmara, onde era funcionária?
Eu não sou obrigada a saber que por eu ser funcionária eu não posso participar de uma licitação. Eu sabia que depois de ganhar a licitação eu não poderia exercer um cargo na Câmara.
Em algum momento, durante a execução do contrato, a sra. percebeu alguma situação de ilegalidade na relação com a Câmara?
Não.
Nem relacionada às empresas subcontratadas?
Eu tive o comprovante de todos os serviços prestados. Eu não tinha como pensar que alguma delas ia ter qualquer irregularidade.
Como era feita a escolha das empresas que receberam da Oficina da Notícia?
A escolha era feita em duas vias. Como agência, orientamos em vários momentos quais são os melhores veículos para divulgação de determinados assuntos para atingir o público específico de interesse da Câmara Municipal.
Por que a Oficina da Notícia pagou e emitiu recibos para pessoas estranhas às empresas?
Eu não tenho bola de cristal. A pessoa que chegava para receber muitas vezes era um motoboy. Para mim o importante era chegar com a nota fiscal, com o trabalho que foi desenvolvido. O pagamento era feito pelo financeiro da minha empresa, não por mim.
Por que a sra. abriu a Editora Túnel durante a vigência do contrato de publicidade?
Não é questão de eu abrir a Túnel. Como existem vários jornais, o meu pai montou um jornal em inglês dentro de um perfil de público que tinha essa carência em Curitiba e como uma ferramenta de negócio internacional. Como a empresa é limitada eu sou sócia da empresa e do jornal dele. Mas não teve nenhum benefício. O jornal Curitiba In English, que recebeu recursos da Câmara, realmente publicou as informações da Câmara, por um valor compatível com o público que ele atingia.
A sra. tinha conhecimento de que funcionários da própria Câmara ou de vereadores tinham ligação com essas empresas?
Eu não tenho como saber esse tipo de coisa. O que eu tenho de saber é que o veículo vai publicar aquilo que eu estou divulgando.
Vereadores sugeriram veículos de comunicação para fazer divulgação?
Eu não tinha contato com vereadores. Nunca na vida vereador me ligou pedindo para ajudar veículo tal ou para receber, ou para ajudar.
Nem do ex-presidente?
Nem do ex-presidente. Era critério técnico de uma agência de publicidade, não de amizade.
O jornal Câmara em Ação existia?
Não fui eu que fiz, não posso responder por ele.
A dona de uma das empresas que recebeu da Oficina, a Sirotti Vídeo, diz que nunca prestou serviço para Câmara e mesmo assim existe recibo de pagamento.
Se houve pessoas que compraram notas e fizeram alguma coisa eu não posso responder de onde eles foram buscar. O serviço foi prestado. Eu não tenho que fiscalizar nota dos outros.
Havia alguma empresa que vendia nota, como o vereador Algaci Túlio falou?
Aí é um problema dele. Eu não sei.
Algaci disse que os vereadores radialistas sabiam que havia uma verba disponível. A sra. teve conhecimento disso?
O que acontece é que vários vereadores são ou já eram comunicadores e os veículos onde eles atuam receberam algum recurso de publicidade. Não foi irregular porque eles prestaram aquele serviço.
Documentos mostram que o conteúdo veiculado era uma cópia dos textos feitos pela assessoria da Câmara. A sua agência não produzia?
O site da Câmara não deixa de ser uma referência de pesquisa para quem tem esses veículos. Mas nós produzimos material, que era publicado para os veículos que a gente atendia.
Alguns dos conteúdos veiculados caracterizam promoção pessoal do vereador. Isso era de interesse da Câmara?
Claro que é. Os vereadores apresentaram o projeto, eles desenvolveram o trabalho, fizeram serviços nos bairros. Como você vai divulgar a Câmara só como instituição, sem valorizar os vereadores? Isso faz parte.
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