Contrários ao projeto de fusão com o Democratas (DEM), adiado para setembro, deputados do PTB na Câmara estudam fazer um movimento drástico: ameaçam uma debandada para o Solidariedade caso o diálogo com a Executiva Nacional não melhore. O deputado Jovair Arantes (GO), líder do partido na Casa, conversou na semana passada com o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, sobre a possibilidade de abrir as portas para 23 dos 25 integrantes da bancada petebista. Se as negociações avançarem, o Solidariedade, que faz oposição ao governo Dilma Rousseff, ficaria com a quinta maior bancada da Câmara, com 39 deputados, atrás apenas de PMDB, PT, PSDB e PP. Fiéis ao PTB, restariam a presidente nacional do partido, Cristiane Brasil (RJ), e seu antecessor, o deputado Benito Gama (BA).

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— Se saírem (os 23 deputados), é uma coisa inédita. Não vejo inteligência numa fusão no cabresto. O interesse é o fundo partidário? Fica uma coisa fisiológica — criticou o deputado Luiz Carlos Busato (PTB-RS), ressaltando, no entanto, que prezará inicialmente por uma atitude “conciliadora”.

O clima no PTB ficou ainda mais tenso na última terça-feira, quando a Executiva Nacional do partido baixou uma resolução reforçando a posição de independência com relação ao governo federal e orientando a bancada a votar contra as Medidas Provisórias do ajuste fiscal.

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— Essa medida de que temos que votar contra o ajuste fiscal causou um mal-estar muito grande.E não queremos um partido que venha obrigar posicionamento de oposição.o partido tem que ter parcimônia. Ditadura nós não queremos — disse Busato.

Na semana passada, membros das bancadas do PTB na Câmara e Senado rejeitaram temporariamente a fusão. Em uma reunião tensa, com direito a discussões acaloradas e dedos em riste voltados para Cristiane Brasil, a maioria do partido defendeu a permanência no governo e a manutenção dos cargos. Da junção, nasceria uma legenda com posição mais independente, já que o DEM possui fortes lideranças de oposição.

Coincidência

Unidos pelo interesse de um maior protagonismo no cenário político, com planos de uma candidatura a presidente em 2018, PTB e DEM chegariam, juntos, à quarta maior bancada da Câmara, com 37 deputados, e do Senado, com oito senadores.

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A presidente nacional do partido contou ao GLOBO que as conversas sobre fusão com o DEM começaram por uma “coincidência do destino”, quando conheceu o deputado Felipe Maia (DEM-RN) no ano passado. Ela citou quadros do Democratas como possíveis candidatos à Presidência, entre eles o senador Ronaldo Caiado (GO), o deputado Mendonça Filho (PE) e ACM Neto, prefeito de Salvador, e disse que os dois partidos não aceitarão mais ser “acessório” de PT, PSDB ou PMDB.

— É uma comunhão de interesses. Esse projeto nos torna a quarta maior bancada, coloca nossas lideranças num patamar nacional para, num futuro próximo, disputar a Presidência. Não queremos mais ser partido acessório do PT, PSDB, PMDB ou qualquer que seja o partido. Temos lideranças capazes de concorrer — afirmou, acrescentando que conversará com o líder do partido na Câmara para diminuir o “climão” dentro da legenda.

Sobre a posição ideológica do novo partido, que deve continuar com o nome PTB, é categórica:

— De jeito nenhum governo.É independente.

Ainda que o diálogo seja retomado e a fusão ocorra de forma relativamente tranquila, é dado como certo entre os petebistas a saída da bancada de Pernambuco, que tem quatro deputados federais. O deputado Jorge Côrte Real (PE) critica a possibilidade de fusão, mas diz que só cogitará mudar de partido “em última instância”:

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— A gente não vê com simpatia essa junção. No início, na base, não fomos ouvidos. Era preciso uma ampla consulta. Nada contra o DEM, mas é uma composição programática e pragmática conflitante com a nossa, a gente não vê como juntar. E fundamentalmente nos estados não seria compatível. A gente apoia o governo, tem uma posição. No meu estado é o contrário, o PTB é oposição e o DEM, situação. Ainda têm muitas arestas a serem aparadas.