O ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso entrou em contradição nesta quarta-feira, em depoimento à CPI dos Sanguessugas, sobre a negociação do dossiê contra políticos tucanos . Segundo Veloso, a família Vedoin, acusada de chefiar a máfia das ambulâncias , tentou vender, inicialmente, o documento por R$ 20 milhões, mas a orientação de Jorge Lorenzetti, ex-coordenador da campanha do presidente Lula, era não envolver dinheiro na negociação. Veloso não soube explicar, no entanto, por que Gedimar Passos - preso com Valdebran Padilha em São Paulo com R$ 1,7 milhão - estava com o dinheiro, se o combinado era não pagar pelo dossiê. Ele afirmou ainda que Valdebran teria dito nas reuniões que assumiria do próprio bolso o pagamento de R$ 1 millhão pelos documentos. Pressionado, deu explicações inusitadas.
- Eram apenas conversas monólogas. Eu apenas ouvi o que eles diziam. Não poderia impedir que eles falassem de dinheiro.
Para esclarecer as contradições, o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann, propôs uma acareação entre Veloso, Gedimar e Valdebran.
O combinado, de acordo com Veloso, foi dar apoio jurídico para que os Vedoin não perdessem o benefício da delação premiada - redução da pena em troca de colaboração com a investigação. O ex-diretor do BB afirmou que o papel dele na discussão sobre o dossiê era apenas analisar o que era oferecido pela família Vedoin. Seriam, segundo ele, "documentos que mostravam como a Planam pagou restos da campanha do Serra de 2002".
- Considerando-se que sou bancário, fui solicitado por Jorge Lorenzetti para que fosse a Cuiabá analisar os documentos. Era um conjunto de 15 cheques e comprovantes de 20 transferências bancárias, que somavam em torno de R$ 900 mil. Os cheques totalizavam um pouco mais de R$ 600 mil. Havia fotos e foi mostrado um DVD que retratava uma entrega de ambulâncias e ônibus na cidade de Cuiabá. A festa teria sido patrocinada pela Planam - descreveu Veloso.
Festa paga pela Planam
O ex-diretor do BB disse ainda que a festa de entrega de ambulâncias com políticos tucanos, que aparece num DVD divulgado publicamente após a prisão dos petistas "`foi paga pela Planam''. De qualquer modo, ressaltou, "a parte mais importante do dossiê não é o DVD e sim os cheques''.
O deputado tucano Carlos Sampaio (SP) reagiu com indignação às declarações.
- Ele está sendo criminoso, mentiroso, contraditório e não petista'', disse Sampaio a jornalistas. - Não ligo a figura do PT à inverdade, à mentira... mas ele, Expedito, está mentindo, sendo contraditório, criando teses e, portanto, está desqualificando o seu depoimento.
Sampaio lembrou que "em momento algum ele falou isso à Polícia Federal'', referindo-se à existência dos cheques e das transferências bancárias. ``Essa tese foi criada aqui.''
Veloso, por sua vez, disse ainda que os cheques foram repassados a Abel Pereira, empresário de Piracicaba (SP), ligado ao ex-ministro da Saúde Barjas Negri, no governo Fernando Henrique Cardoso. O ex-diretor do BB afirmou que Abel Pereira "estava em Cuiabá na mesma época que nós estávamos e tive informações de que ele tentava comprar o silêncio dos Vedoin''.
Chamado de aloprado
Durante o depoimento, Veloso não quis comentar a declaração de Lula de que os envolvidos no episódio do dossiê seriam "aloprados".
- Isso ocorreu no calor da campanha. Minha história, me orgulho dela, pessoal, profissional e familiar.
Ainda nesta quarta-feira, a CPI vai ouvir Osvaldo Bargas, que negociou a divulgação do dossiê pela imprensa.
Depoimentos contraditórios
Num depoimento também contraditório , na terça-feira, Valdebran responsabilizou Gedimar e Expedito pela negociação:
- Eu não contei o dinheiro, não o movimentei. Não negociei nada. Apenas recebi deles (Expedito e Gedimar) disse Valdebran aos parlamentares da CPI dos Sanguessugas.
Lorenzetti, por sua vez, afirmou que não negociou diretamente o dossiê com os Vedoin. Segundo ele, os contatos eram feitos sempre por intermédio de Expedito, Gedimar, Bargas e Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante.
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