O contrato da BR Distribuidora que pode ter rendido R$ 3 milhões de propina ao senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PTB-AL) foi fechado com regras desvantajosas para a estatal e é alvo de uma auditoria da companhia.
O doleiro Alberto Youssef, nos depoimentos que prestou aos procuradores da Operação Lava Jato, diz que o senador recebeu o pagamento da vantagem indevida. O senador, que nesta terça-feira (14) foi alvo de buscas e apreensão da PF, nega ter recebido propina.
O negócio, realizado em 2011, selou a adesão de uma rede de postos à bandeira da BR. De acordo com documentos a que a reportagem teve acesso, o acordo incluiu pontos de venda que se mostravam pouco ou nada lucrativos – motivo pelo qual foram fechados ou deixaram de ter a bandeira da distribuidora.
Outro lado
Tanto a DVBR quanto o senador alagoano negam ter pago ou recebido valores ilícitos no contrato.
Em nota divulgada em fevereiro, o senador disse que as afirmações do doleiro sobre o caso “padecem de absoluta falta de veracidade e credibilidade”. “Ainda mais quando recolhidas e vazadas de depoimentos tomados em circunstâncias que beiram a tortura de um notório contraventor da lei”, dizia o texto.
Nesta terça, Collor criticou a operação que apreendeu veículos e documentos em suas residências e empresas, chamando-a de “invasiva e arbitrária”, e voltou a negar as suspeitas.
Procurada, a BR Distribuidora não quis se manifestar.
Em nota divulgada em fevereiro, a estatal declarou que o contrato pretendia aumentar a rede da BR em São Paulo, e que já havia feito notificações administrativas sobre a frustração do negócio.
Levantamento da reportagem mostra que pelo menos 52 dos 118 postos englobados no negócio já fecharam ou não são mais exclusivos da BR. É algo absolutamente incomum: em situação normal, todos eles permaneceriam com a bandeira da BR até o fim do contrato, em 2019.
Com isso, a estatal está deixando de vender mensalmente pelo menos 12 milhões de litros de combustível. A estimativa é baseada no volume médio de vendas aferido nos postos em 2010, ano anterior ao do contrato.
Quem conduziu e assinou as tratativas do negócio foi Luis Alves de Lima Filho, ex-diretor da Rede de Postos da BR Distribuidora que também foi alvo de mandado de busca e apreensão na terça-feira. Ele foi indicado ao cargo por Collor.
A outra parte foi a DVBR (Derivados do Brasil S.A.), para quem o negócio rendeu R$ 122 milhões somente em bônus. A empresa é uma sociedade entre a BTG Pactual Participações e a Setee Participações, hoje desfeita.
Projeções otimistas foram incluídas no negócio. O volume de vendas estimado anualmente nos postos, por exemplo, é cerca de 25% maior do que o aferido pela BR no ano imediatamente anterior ao contrato.
O número foi projetado com base numa expectativa de crescimento das vendas. Parte dos postos, porém, segundo já admitiu a BR Distribuidora, não está comprando a quantidade prevista, o que traz desequilíbrios ao contrato.
Comissão
Foi do bônus milionário concedido à DVBR que saíram os R$ 3 milhões de propina, de acordo com a versão de Youssef. Segundo ele, a operação foi intermediada por um emissário de Collor, o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos. PP, como Ramos é conhecido, é amigo do senador desde a juventude, e foi ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos no governo Collor.
Nessa ocasião, segundo Youssef, Ramos trabalhou como um operador do esquema, intermediando o pagamento de suborno. O empresário nega.
O valor de R$ 3 milhões, segundo Youssef, foi arrecadado nos postos, em dinheiro vivo, em três parcelas de R$ 1 milhão, e depois repassado a Leoni. O dinheiro era destinado a Collor, diz o doleiro.
A informação foi confirmada pelo funcionário de Youssef Rafael Angulo Lopez, que também fez acordo de delação premiada e afirma ter feito várias entregas de dinheiro para Collor, em São Paulo e em Maceió.
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