Os senadores que moram no bloco G da quadra 309 foram acordados pelo ronco de um helicóptero sobrevoando o prédio. Os motoristas e moradores se alvoroçaram com a chegada da Polícia Federal cobrindo todos os flancos do bloco. Logo descobriram que algo impensável acontecia: senadores da República eram alvo de mandados de busca e apreensão pelo envolvimento na Operação Lava Jato. Quando a notícia se espalhou, o clima de receio se alastrou pelo Congresso.
“Eu estava saindo para o pilates e dei de cara com uma tropa de ninjas indo para a casa do Collor. Um baixo-astral!”, contou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Collor usa o apartamento funcional no prédio, mas não estava ali. Dormia com a mulher na Casa da Dinda, mansão no Lago Norte. Ainda estava de pijama quando a PF chegou. Collor ficou indignado. Mais tarde, relatou a colegas que os agentes levaram até cópia de seu testamento.
Carros de luxo de Collor não foram declarados à Justiça Eleitoral
Os três carros de luxo apreendidos pela Polícia Federal na terça-feira (14) na Casa da Dinda, residência do senador Fernando Collor (PTB-AL) em Brasília, não estão na declaração de bens que ele entregou à Justiça Eleitoral em 2014.
Leia a matéria completaCollor disse que mostrou notas fiscais dos carros e do Imposto de Renda, mas que o policial fez um telefonema e recebeu a ordem de “levar tudo”. Um agente filmava toda a operação na Casa da Dinda. No apartamento do Senado, como Collor não estava, a porta foi aberta com a ajuda de um chaveiro.
Apesar de o assunto ser o principal tema do dia, nenhum partido saiu em defesa de Collor ou fez discurso contra ação policial.
Na Câmara, onde, ao todo, 22 deputados respondem a inquéritos, o assunto estava nas rodas de conversa. Não houve discursos na tribuna, mas o clima entre os envolvidos no escândalo era de receio e perplexidade. Nas conversas com a reportagem, alguns desses deputados, na condição de anonimato, criticaram s decisões dos ministros do STF que autorizaram as buscas. Os que concordaram em dar alguma declaração, a fizeram com cautela. O primeiro vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), investigado no STF, foi econômico:
“Espero que a PF saiba o que está fazendo. Está tudo em segredo de Justiça. Não quero falar mais”, disse Maranhão, que foi apontado pelo doleiro Alberto Youssef como beneficiário do esquema na Petrobras.
Também respondendo a inquérito, Nelson Meurer (PP-PR) acompanhava no computador à sua frente o noticiário sobre o assunto. Foi outro que não quis se estender no assunto: “Não tenho nada a dizer”.
Jerônimo Goergen (PP-RS) comentou sobre o assunto com reservas. Ele aparece na lista de deputados do PP que, segundo Youssef, receberam entre R$ 30 mil a R$ 150 mil: “Já fiz minha parte. Fui o primeiro a entregar minha defesa”.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também alvo de investigação do STF, não quis comentar a ação da PF. E desdenhou ao ser perguntado sobre o clima de apreensão: [Clima?] Não sei, não senti. Não vi ninguém falar de clima. Está sol”.
Um parlamentar investigado, que pediu anonimato, comparou sua situação com a de Collor. “Olha isso! O Collor tá envolvido, esses carrões! Quem sou eu perto disso tudo? Só um deputadozinho”, afirmou. “ Movimentado o Planalto Central hoje né? Está um pandemônio”, disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
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