A sessão pública da Comissão da Verdade iniciou na manhã de ontem com depoimento do ex-servidor do DOI-Codi de São Paulo o ex-sargento Marival Chaves, que assegurou que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, então capitão, comandava as torturas na repressão. Marival afirmou que Ustra era "senhor da vida e da morte", escolhia quem iria viver ou morrer.
"Um capitão era naquela ocasião senhor da vida e da morte. Não tenho dúvida que ele torturava, porque ele circulava pela área de interrogatório, especialmente quando tinha presos importantes sendo interrogados. Vi ele lá, por exemplo, na antessala do interrogatório, aguardando o momento de serem chamados o Wladimir Herzog e Paulo Markun [jornalista]", disse.
O ex-sargento também contou que os corpos de militantes políticos assassinados em centros de tortura eram exibidos depois para os agentes no DOI-Codi. Ele se recorda da exibição dos corpos do casal Antônio Carlos Bicalho Lana e de sua companheira Sônia Maria Moraes, em 1973. "Eram exibidos como troféu, ainda com sangue jorrando", disse.
Marival trabalhava na análise de documentos do DOI-Codi. Ele contou que fez curso onde aprendeu técnicas de tortura como o pau de arara. Ele contou que saiu do Exército porque não aguentou conviver com as cenas de atrocidades e negou que tenha sido por denúncias de extorsão.
Antes de iniciar seu depoimento, Marival Chaves entregou cartas com conteúdo de ameaças de morte que recebeu por ter denunciado atos de tortura no DOI-Codi. Marival trabalhou no DOI durante cinco meses entre 1973 e 1974. O ex-sargento disse também que ocorreram muitas mortes na unidade, mas que é "difícil de mensurar quantas", e que corpos foram jogados no Rio Avaré, em São Paulo.