O corpo do deputado federal Clodovil Hernandes (PR-SP) foi sepultado às 17h desta quarta-feira (18) no cemitério do Morumbi, Zona Sul de São Paulo, ao lado da mãe, Izabel Sanches Hernandes, no jazigo da família.
O velório do deputado, que morreu na terça (17) em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), foi realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo. O caixão foi fechado sob aplausos. A presença mais marcante no enterro era de amigos e funcionários de Clodovil. Entre os políticos, estavam o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) e o vereador Agnaldo Timóteo (PR-SP).
O velório começou por volta das 11h40, no Hall Monumental da Casa, apenas para os amigos. Cerca de 30 minutos depois, as portas foram abertas ao público. Políticos, amigos e fãs prestaram as últimas homenagens ao parlamentar, que foi estilista e apresentador de TV.
O padre Juarez de Castro, da arquidiocese de São Paulo, deu a última benção a Clodovil, rezando o salmo 23 da Bíblia. "A moda perde o humor e a TV, sua irreverência", disse o religioso.
"Barrado"
No velório, o presidente do PTC (Partido Trabalhista Cristão), Ciro Moura, foi impedido pela advogada de Clodovil, Maria Hebe Pereira de Queiroz, e por amigos do parlamentar de se aproximar do caixão.
O PTC, partido pelo qual Clodovil foi eleito deputado federal por São Paulo, com 493.951 mil votos, tentou reaver o mandato por infidelidade partidária depois que ele trocou o partido pelo PR. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) acabou absolvendo Clodovil da acusação, por 7 votos a 0, na última quinta (12).
Amigos do deputado chamaram Moura de "hipócrita" e disseram que Clodovil o odiava. Ciro Moura reagiu. "Eu vim como Ciro Moura, não como membro do partido, me despedir de um amigo. No tribunal, nos tratamos como sempre, com carinho. Quem me abraça, me beija e me chama para jantar está chateado comigo?", questionou.
Políticos prestam homenagem
Clodovil foi velado com uma roupa que ele mesmo desenhou. Durante a manhã, populares formaram uma fila para entrar no velório, que teve cerca de 20 coroas. Entre os remetentes, estavam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PR, partido de Clodovil, o PT, o DEM, o Senado, a Câmara, a senadora Roseana Sarney (PMDB), e o vice-prefeito de São Bernardo do Campo, Frank Aguiar.
Entre os amigos presentes estava Mauricio Petiz, chefe de gabinete e amigo há 20 anos.
Petiz trabalhava com Clodovil há dez anos, desde que o deputado assumiu o mandato, e morava com ele no apartamento funcional.
"Ele era sempre intenso. Eu sinto um vazio por essa trajetória linda de vida que nos deixa", disse Petiz.
O vice-prefeito de São Bernardo do Campo, Frank Aguiar, foi ao velório por volta das 13h. Ele destacou a personalidade do deputado. "A personalidade do Clodovil era muito importante. As pessoas não podem ter mais de uma cara, e isso era uma das principais qualidades do Clodovil", disse.
Frank, que foi deputado pelo PTB, lembrou mais de 30 projetos de Clodovil e disse que foi relator de um que tratava de dubladores de filmes. O projeto exige que créditos sejam adicionados em filme e em qualquer apresentação dublada. A polêmica também foi lembrada pelo presidente da Câmara, Michel Temer. "Ele deixou uma marca porque a polêmica também faz parte da democracia. Então, foi um democrata", disse Temer. "Teremos saudades."
Para o deputado deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), Clodovil mudou o discurso do partido. "O Clodovil queria um partido que entendesse suas idéias. Com seu jeito polêmico, o debate mudou dentro do partido. Ele falou que ia mudar Brasília e estava se preparando para isso." O cantor e vereador Agnaldo Timóteo, que já foi deputado e pertence ao mais recente partido de Clodovil (o PR) foi até o caixão e cantou a música religiosa "Noites traiçoeiras", do repertório de Padre Marcelo Rossi.
"Eu não posso me comparar com o Clodovil porque eu sou um analfabeto e ele falava cinco línguas diferentes. Ele é um homem que não cometeu os mesmos que eu na vida pública", afirmou o cantor.
O enterro está programado para as 17h, no Cemitério do Morumbi, também na Zona Sul.
O corpo de Clodovil chegou a São Paulo nesta manhã. Ele viajou em avião da FAB, havia deixado a base área de Brasília às 9h20 em direção ao aeroporto de Congonhas, na Zona Sul da capital paulista, onde chegou às 11h16.
Morte
O parlamentar sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e foi encontrado caído ao lado da cama na segunda-feira (16). Na terça-feira (17), ele passou por exames, e às 15h45 morte cerebral foi constatada pelos médicos.
Mesmo assim, ele foi mantido vivo por equipamentos e medicamentos para que fosse avaliada a possibilidade de doação de órgãos. Entretanto, às 18h50, de terça, ele teve uma parada cardíaca e morreu. Nenhum órgão pôde ser doado.
Carreira política
O deputado, que estava em seu primeiro mandato, ingressou no PR em setembro de 2007, quando deixou o PTC. Ele foi acusado de infidelidade partidária e absolvido, na última quinta-feira (12) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em votação unânime, os ministros entenderam que o parlamentar não desrespeitou a legislação eleitoral ao deixar o PTC.
Em 2006, ele foi eleito deputado federal por 493.951 votos, terceira maior votação do estado de São Paulo, para a legislatura de 2007 a 2011.
Biografia
Nascido em 17 de junho de 1937, em Elisário, cidade a 402 km de São Paulo, Clodovil foi adotado por um casal de origem espanhola, Domingos Hernandes e Izabel Sanches Hernandes. Não conheceu seus pais verdadeiros e estudou em colégio interno. Homossexual assumido, não casou e nem teve filhos.
Antes de ingressar na política, Clodovil foi professor primário, fez teatro, construiu longa carreira na televisão e foi estilista de sucesso.
Um de seus primeiros trabalhos na televisão foi no início da década de 80, quando apresentou o "TV Mulher", da TV Globo, voltado para o público feminino. Na época, dava dicas de moda e desenhava modelos ao vivo. Ele dividiu o cenário com a jornalista Marília Gabriela e com a sexóloga Marta Suplicy, que também ainda não tinha entrado para a política.
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