Dilma decreta luto oficial de sete dias
A presidente Dilma Rousseff decretou luto oficial de sete dias no país pela morte do ex-presidente e senador Itamar Franco. Dilma divulgou neste sábado (2) nota oficial lamentando a morte e confirmou presença no velório em Juiz de Fora
Políticos lamentam a morte de Itamar Franco
"O senador e ex-presidente Itamar Franco foi um grande democrata, com uma vida pública dedicada ao Brasil. Mesmo nos momentos de divergência política mantivemos uma relação de profundo respeito e diálogo", disse Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República.
"Itamar tinha uma notável capacidade de se indignar com os desvios éticos. Era linha dura na defesa dos interesses públicos. O Brasil perdeu um homem público exemplar que deixa relevantes contribuições para o país e lições para nós brasileiros", afirmou Beto Richa, governador do Paraná.
PPS e o Brasil estão de luto
O Partido Popular Socialista (PPS) divulgou nota de pesar pelo falecimento do ex-presidente da República e senador Itamar Franco, que era vice-presidente da legenda. "O PPS e o Brasil estão de luto", diz a nota. O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), que foi líder do governo de Itamar Franco, afirma, na nota que o Brasil perde um dos políticos mais honrados de sua história.
O corpo do ex-presidente e senador Itamar Franco (PPS-MG) será velado e cremado em Minas Gerais. Internado desde o dia 21 de maio para tratar de leucemia, Itamar morreu na manhã deste sábado (2), aos 81 anos, em São Paulo.
Itamar estava licenciado de suas atividades no Senado. Nos últimos dias, o ex-presidente apresentou um quadro de pneumonia grave e precisou ser transferido para a UTI do hospital.
Confira detalhes da trajetória de Itamar Franco
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O Hospital Albert Einstein divulgou nota, por volta das 12h, informando que Itamar sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) durante a madrugada e morreu às 10h15. Ele estava internando na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, em decorrência de uma pneumonia, contraída durante tratamento contra leucemia.
O estado de saúde de Itamar piorou nesta sexta-feira (1º) quando ele passou a respirar com a ajuda de aparelhos. O senador passou o aniversário de 81 anos, completados em 28 de junho, na UTI do hospital.
O corpo deve deixar o Hospital Albert Einstein no domingo (3), por volta das 7h30, e seguirá para o aeroporto de Congonhas, onde será embarcado com destino a Juiz de Fora. Segundo a assessoria do ex-presidente, o velório deve começar por voltas das 10 horas na Câmara Municipal de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Na segunda-feira (4), por volta das 8 horas, o corpo seguirá para Belo Horizonte, onde também será velado no Palácio da Liberdade. O corpo será cremado em Contagem, na mesma segunda-feira.
A presidenta Dilma Rousseff ofereceu à família do ex-presidente o Palácio do Planalto para realização do velório. Segundo fontes da Presidência da República, Dilma telefonou para Henrique Hargreaves, que foi chefe da Casa Civil no governo Itamar Franco, oferecendo o palácio para que a família velasse o corpo do ex-presidente. Porém, Hargreaves informou que Itamar havia instruído a família para que seu corpo fosse velado em Juiz de Fora e cremado em Belo Horizonte.
A leucemia é um tipo de câncer que atinge os glóbulos brancos, parte do sistema de defesa do organismo, na medula óssea. A doença impede ou prejudica a formação de glóbulos vermelhos e brancos e de plaquetas, causando anemia e abrindo espaço para infecções e hemorragias.
Baiano no registro civil, Itamar se tornou um dos mais destacados e comentados políticos mineiros das últimas décadas. Para o País, surgiu na eleição presidencial de 1989, como candidato a vice de Fernando Collor de Mello. Terminou por assumir a Presidência da República após o impeachment do ex-governador alagoano. Mesmo entre os mais críticos, Itamar costumava ser reconhecido pela retidão ética. Igual reconhecimento ele sempre cobrou em relação ao legado da estabilidade do País: econômica, com o lançamento do Plano Real durante seu governo; e política, com a transição após o desastroso desfecho da gestão Collor.
Itamar nasceu em 28 junho de 1930 a bordo de um navio de cabotagem, no mar entre o Rio de Janeiro e Salvador. A mãe, dona Itália Cautier, havia ficado viúva de Augusto César Stiebler Franco pouco antes do nascimento do filho e o registrou na capital baiana, onde morava um tio. Mas Itamar cresceu e tomou gosto pela política em Juiz de Fora (MG), origem de sua família.
Engenheiro civil, formou-se em 1955 e naquele mesmo ano estreou na política se filiando ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em vão, tentou se eleger vereador em 1958 e vice-prefeito, em 1962. Alcançou o primeiro cargo público - a prefeitura da cidade - cinco anos depois, já filiado ao antigo MDB após o golpe militar de 1964 e o estabelecimento do bipartidarismo. Ficou no Executivo municipal até 1971. No ano seguinte, conquistou um novo mandado na prefeitura, mas em 1974 renunciou e foi eleito senador por Minas Gerais.
Já no PMDB, após o restabelecimento do pluripartidarismo, Itamar foi reeleito para mais um mandato de senador em 1982, na chapa que levou Tancredo Neves ao governo de Minas. Em 1986, deixou o PMDB e filiou-se ao PL para disputar o governo de Minas. Acabou derrotado justamente pelo peemedebista Newton Cardoso, que havia lhe fechado as portas no antigo partido.
Itamar voltou ao Senado, participou dos trabalhos da Assembleia Constituinte, mas antes de encerrar o mandato aceitou o convite do então jovem governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, para compor como vice a chapa vitoriosa na campanha presidencial de 1989. O senador por Minas deixou então o PL para ingressar no obscuro Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Mas rusgas com Collor começaram ainda na campanha. Tanto que o presidenciável teria solicitado uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber se poderia trocar seu candidato a vice.
Com o impeachment de Collor, Itamar assumiu formalmente a Presidência em dezembro de 1992. Já havia se desligado do PRN e procurava cada vez mais acentuar as diferenças com o ex-presidente, acossado por uma sucessão de denúncias de corrupção. No cargo, Itamar propôs uma política de entendimento nacional, mas sua gestão derrapava na escolha do primeiro escalão, para onde tinha levado antigos companheiros de Juiz de Fora. Por isso, seu governo passou a ser conhecido como a "república do pão de queijo".
Para cientistas políticos, o momento crucial do governo Itamar, porém, se dá mesmo com a chegada de Fernando Henrique Cardoso ao Ministério da Fazenda, quando começa a implantação do Plano Real que resulta na estabilidade econômica do País. "Itamar foi um personagem errático, seu acerto foi chamar o Fernando Henrique Cardoso", avalia o professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Ranulfo. á para Rubem Barboza Filho, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Itamar demonstrou nesse episódio "enorme cálculo político". "Uma aposta que só um político audacioso poderia fazer", observou.
O sucesso do plano econômico impulsionaria a eleição de FHC naquele ano e Itamar ganhou como prêmio as embaixadas brasileiras em Portugal e na Organização dos Estados Americanos (OEA). Mas seu sonho era voltar ao Palácio do Planalto. Ele se sentiu traído quando o Congresso aprovou a reeleição e rompeu relações políticas com seu ex-ministro em 1998. Itamar acusou Fernando Henrique de interferir na convenção extraordinária do PMDB, que lhe tirou a chance de disputar a Presidência naquele ano.
Depois de passar pelo governo de Minas Gerais, Itamar continuou ativo na política nacional e, filiado ao PPS, ele foi eleito senador no ano passado, numa campanha que contou com forte presença de Aécio Neves.
Itamar foi o vigésimo quarto presidente brasileiro e fez uma administração peculiar. Saiu da Presidência com altos índices de aprovação e elegendo o sucessor (Fernando Henrique), o que não acontecia desde o governo de Arthur Bernardes, que governou entre 1922 e 1926. Além de abrir caminho para a estabilização política e econômica, Itamar cumpriu uma exigência da Constituição Federal de 1988 e realizou um plebiscito para a população escolher o sistema político brasileiro. O regime de República presidencialista foi confirmado na época pela maioria dos votantes. A administração de Itamar foi relativamente curta: dois anos, três meses e 29 dias. Porém, neste período o governo dele conseguiu fazer a transição de um país recém-saído de uma ditadura militar de 21 anos e que viu o primeiro presidente eleito democraticamente renunciar acusado de corrupção para um país estável politicamente e entusiasmado com o controle da inflação.
Isso não livrou o presidente de enfrentar "turbulências" ao longo da administração. A mais pitoresca delas é conhecida como "crise da calcinha". No carnaval de 1994, Itamar Franco foi fotografado ao lado da modelo Lilian Ramos em um camarote durante os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. A moça não usava sutiã nem calcinha. A foto deixava à mostra o órgão sexual feminino e a história virou escândalo. Autoridades religiosas chegaram a pedir a renúncia de Itamar. Como o longo topete usado por Itamar, a história virou piada.