Numa sessão movimentada, os parlamentares que compõem a CPI da Bancoop na Assembleia Legislativa de São Paulo aprovaram nesta terça-feira (11) a convocação do tesoureiro do PT João Vaccari Neto para prestar esclarecimentos sobre o suposto esquema de desvio de dinheiro da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) para campanhas do PT, na época que era presidente da cooperativa. Após sucessivos pedidos de vista dos governistas, embargo que se estendeu por um mês, os deputados estaduais aprovaram o requerimento de convocação, o primeiro a ser protocolado na CPI e que chama também o promotor de Justiça José Carlos Blat a ser ouvido pela comissão.
Ao todo, os parlamentares aprovaram na sessão desta terça-feira (11) 11 dos 12 requerimentos que aguardavam deliberação na pauta de votação. Entre os pedidos que receberam a chancela dos deputados, há o que autoriza o depoimento de nove cooperados que dizem ter sido prejudicados pela cooperativa. Foi também aprovado convite para que Valter Picazio Júnior, advogado de 18 grupos de cooperados, seja ouvido pela CPI e pedido para que a Bancoop envie à comissão cópias de escrituras de compra e venda dos empreendimentos da cooperativa.
Na próxima reunião da CPI, na terça-feira (18), os deputados irão definir o calendário de deliberação da comissão e devem ouvir o testemunho de mais cooperados que dizem ter sido prejudicados pela cooperativa. Ainda em maio, são aguardados os depoimentos do ex-funcionário da cooperativa Hélio Malheiro, do empresário Freud Godoy, cuja empresa de segurança prestou serviços para a Bancoop, e do doleiro Lúcio Bolonha Funaro. Também devem ser ouvido Ricardo Secco. Vaccari e Blat prestarão depoimento apenas em agosto.
O promotor acusa a Bancoop de ter desviado cerca de R$ 100 milhões para um suposto caixa dois do PT. O presidente da CPI, Samuel Moreira (PSDB), pretende encerrar a primeira etapa dos depoimentos em junho. "Queremos ter um diagnóstico da situação da cooperativa antes de ouvirmos os acusados", explicou.
Depoimento
Ausente na última reunião da comissão, no dia 4, a cooperada Yara Regina Ferreira foi ouvida na sessão de hoje da CPI da Bancoop. No depoimento de cerca de uma hora, a ex-bancária relatou que, em 2001, comprou um apartamento na região da Casa Verde, por meio de financiamento da cooperativa, em parcelas mensais, segundo ela, no valor de R$ 600 reais. Em 2006, Yara foi informada de que tinha de arcar, além das parcelas, com um resíduo de cerca de R$ 48 mil, valor adicional cobrado para a conclusão de obras.
Emocionada, a cooperada disse no depoimento que não tinha como quitar a dívida. Ficou sem pagar parcelas do apartamento e pediu um empréstimo bancário. Em 2008, juntou a quantia suficiente para pagar a dívida, mas o apartamento já havia sido revendido para outra pessoa. Ao todo, a ex-bancária desembolsou R$ 150 mil na compra do imóvel, segundo a própria. "O estresse que tive com tudo isso colaborou com o fim do meu casamento", afirmou.
Procurada, a assessoria de imprensa da Bancoop ressaltou que uma das cláusulas dos contratos firmados com os cooperados prevê a cobrança de um valor adicional para alterações nos valores aferidos no lançamento do empreendimento. A Bancoop ressalta ainda que a entidade deixa claro no contrato de financiamento que o não pagamento das parcelas do imóvel por três meses consecutivos implica no desligamento do cooperado e, logo, permite que o apartamento seja revendido.
Na semana passada, outros cinco cooperados prestaram depoimento à comissão. O microempresário paulista Laurindo Belice contou que em 2004 comprou um apartamento na região do Brooklin, por meio de financiamento da cooperativa. Segundo o mutuário, ele pagou R$ 62 mil pelo imóvel, que não lhe foi entregue. Também convocado, o escritor Ignácio de Loyola Brandão relatou que sua esposa pagou R$ 100 mil por um apartamento na região da Bela Vista, na capital paulista. De acordo com o escritor, o prédio não saiu do sétimo piso.
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