A doleira Nelma Kodama foi a primeira a depor no segundo dia de audiências da CPI da Petrobras em Curitiba, nesta terça-feira (12). Com aparência bem diferente de quando foi presa – mais magra e com os cabelos raspados –, Nelma afirmou que está em um processo de negociação para colaborar com a Justiça. Ela respondeu a maioria das perguntas dos parlamentares, mas, em alguns momentos, ela permaneceu em silêncio.
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Por diversas vezes, Nelma foi perguntada sobre a existência de um “comandante” dos doleiros, mas ela preferiu não responder de quem se trata. A doleira culpou principalmente “o sistema” pela lavagem de dinheiro no Brasil. “Tudo que o senhor está falando tem a participação do Banco Central e das instituições financeiras. Se não encontrarem as brechas, a corrupção nunca vai acabar”, declarou Nelma a um dos deputados.
Perguntada sobre seu relacionamento com o doleiro Alberto Youssef, a doleira revelou que manteve uma “relação marital” com ele entre 2000 e 2009. O momento da revelação foi marcado por descontração: Nelma começou a cantar um trecho da música “Amada Amante”, de Roberto Carlos. Outra situação engraçada ocorreu quando a doleira negou ter sido presa com 200 mil euros na calcinha. “Na verdade, foi nos bolsos de trás da calça”, disse.
Nelma confirmou que teve uma briga com Youssef na carceragem da Polícia Federal, onde ambos estão presos. A discussão girou em torno de uma dívida de R$ 12 milhões atribuída a ela pela Receita Federal por operações com a corretora Bonus-Banval, envolvida no escândalo do mensalão. Segundo Nelma, foi o doleiro o responsável pelas operações.
A depoente negou qualquer envolvimento com partidos ou agentes políticos e não quis citar quem eram seus clientes em operações de câmbio. “Diante do que eu estou vendo hoje, eu sou um grão de areia, então eu não me considero a maior doleira do Brasil”, disse. Ela negou ainda que tivesse operado a favor do tráfico de drogas, mas confirmou que trabalhava no mercado negro de câmbio por importações fraudulentas.
No segundo depoimento do dia, o operador René Luiz Pereira, condenado a 14 anos de prisão e multa de R$ 632 mil pelos crimes de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, permaneceu em silêncio para a maior parte dos questionamentos dos parlamentares. Ele protagonizou uma breve discussão com o deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA), que afirmou que o depoente estava desacatando os membros da CPI. Antes, ele declarou apenas que não conhecia nenhum dos presos da operação e que frequentava o Posto da Torre, em Brasília - primeiro alvo da Lava Jato -, apenas para abastecer seu carro.
Já o ex-deputado Luiz Argôlo (SDD-BA), terceiro a ser ouvido nesta terça-feira, praticamente não respondeu aos questionamentos dos membros da CPI. “Estou preso há 33 dias e fui o único dos ex-parlamentares presos que prestou depoimento na Polícia Federal. Mesmo assim, tive meu habeas corpus negado, ou seja, não vejo nenhum progresso nesse sentido, por isso prefiro permanecer calado”, disse logo no início da oitiva.
Em algum momento, ele resolveu falar apenas sobre seu relacionamento com o doleiro Alberto Youssef. “Fui apresentado a ele como empresário que tinha investimento no estado da Bahia”, disse. Ele afirmou que quem o apresentou ao doleiro foram o ex-ministro das Cidades, Mario Negromonte (PP-BA) e João Leal. Ao final, Argôlo declarou que terá “oportunidade de mostrar que não tenho nada a ver com a operação Lava Jato”.
O ex-deputado federal Anddré Vargas (sem partido) optou pelo silêncio em sua oitiva na CPi da Petrobras nesta terça-feira (12). O fato foi ironizado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM). “Eu sinceramente esperava que o depoente utilizasse esse espaço na CPI para falar. Até porque o senhor André Vargas enquanto exerceu seu mandato era um falastrão. Hoje, ele é um caladão. Se cala, porque se falar, se enrola”, afirma, disse.
Os deputados da CPI insistiram no fato de que André Vargas teria sido abandonado pelo Partido dos Trabalhadores, tentando sensibilizar Vargas para que respondesse aos questionamentos. O deputado Izalci (PSDB) relembrou o placar que definiu a cassação de Vargas na Câmara Federal. Foram 359 votos favoráveis pela cassação e somente um contrário, além de seis abstenções.
O deputado Delegado Waldir (PSDB) pergunta se alguém do PT foi até a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde o ex-deputado está preso, para visitar Vargas e “levar iogurte ou chocolate”. Vargas rebateu dizendo que na carceragem da PF é permitida apenas a visita de familiares. “Toda a minha família é filiada ao PT”, provocou Vargas.
André Vargas justificou a opção pelo silêncio afirmando que ainda não tem o conhecimento do teor das denúncias que pesam contra ele. Em suas considerações finais, Vargas defendeu o PT, dizendo que foi ele quem preferiu se desfiliar. “Em relação ao placar [da cassação], apenas um comentário. Estamos vivendo um tempo novo em relação à cassação parlamentar, em que a votação é aberta”, justifica.
Primeiro dia
Nesta segunda-feira (11), o doleiro Alberto Youssef voltou a afirmar, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, em Curitiba, que o Planalto sabia do esquema de corrupção na estatal. Questionado pelos deputados se confirmava um depoimento anterior no qual citou nomes como o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da presidente Dilma Rousseff (PT), ele confirmou.
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