O deputado Jorge Bittar (PT-RJ) está preparando um relatório paralelo para tentar derrubar o do relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), apresentado quarta-feira e que pediu o indiciamento de petistas. Como não há sinal de acordo entre oposição e governo, a comissão pode ser concluída sem aprovação de um relatório final, como ocorreu com a CPI do Banestado.

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O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), já avisou que, se o governo insistir no relatório paralelo, a oposição vai pedir o indiciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), respondeu dizendo que a iniciativa do PSDB só provará "o golpismo com que vem agindo nos últimos tempos".

O líder do PT não concorda, por exemplo, com a afirmação de Serraglio de que o mensalão existiu e insiste na tese do caixa dois, pelo qual a base já pediu desculpas. Segundo ele, o relator tentou superdimensionar um crime e usou critérios diferentes para pedir os indiciamentos, como nos casos do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e os petistas.

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- Não concordamos que houve mensalão, concordamos que houve caixa dois, o repasse ilegal de recursos para os partidos. Já nos desculpamos por isso, até agora não tem nenhuma prova de mensalão - afirmou.

O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), disse que há muitos equívocos no parecer de Serraglio, citando especificamente o caso de Daniel Dantas, do banco Opportunity.

- Esse caso do Daniel Dantas é emblemático. Como o relatório diz que tem financiamento público e privado e não enquadra Danial Dantas, que teria abastecido o valerioduto? - indagou.

O deputado Luiz Sergio (PT-RJ) disse que no relatório paralelo será definido um critério para recomendar o indiciamento dos envolvidos, o que não teria sido feito por Serraglio.

- Dentro desse critério, o substitutivo vai enquadrar todo mundo, doa a quem doar - disse o petista, afirmando que o relatório de Serraglio é "um simples clipping de tudo o que saiu na imprensa".

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O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) disse que vai tentar negociar um acordo em torno do relatório de Serraglio até o último minuto, mas admite que a CPI pode ficar sem relatório final. Segundo ele, o confronto pode ser ser inevitável e acabar jogando "todo o trabalho da CPI no lixo."

- Neste momento a situação está muito extremada. Temo que o embate político leve à inviabilização de um relatório. Hoje, não ter um relatório é a verdadeira pizza. Vou negociar até a morte - disse o petista.

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-RJ), reuniu os líderes da base aliada em seu gabinete para saber se eles aprovariam um relatório paralelo, mas o líder do PL, Luciano Castro (RR), alertou que não há consenso na base e propôs uma solução alternativa, como fazer destaques no relatório de Serraglio na parte que não tem a concordância do governo. Ele disse que há um entendimento de que o relatório de Serraglio é constestável, mas afirmou que a falta de consenso sobre o substitutivo pode rachar a base.

Já o presidente do Senado, Renan Calheiros, elogiou nesta quinta-feira o relatório da CPI dos Correios e disse que vê com vê preocupação a possibilidade de o PT lançar um relatório paralelo. Segundo ele, isso pode prejudicar a imagem do Congresso, como ocorreu no caso da CPI do Banestado, que não aprovou relatório final.

- O que está em jogo é a imagem do Congresso. Só pelas respostas que o relatório tenta dar é que nós poderemos resgatar a credibilidade do Congresso. Temo que haja a repetição do que aconteceu com a CPI do Banestado, o que prejuducou em muito a imagem do Congresso. Qualquer imprecisão, seja em qual direção for, pode ser corrigida - disse Renan.

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Perguntado se o PMDB vai ajudar a aprovar o relatório, Renan disse que não há como o partido "não levar tudo isso em consideração". Segundo ele, o documento define responsabilidades e aponta o caminho de futuras investigações.

- Acho que o relatório é conclusivo, define responsabilidades e aponta para as investigações que deverão ser prosseguidas na Polícia e no Judiciário. Não vejo como não parabenizar o relator e o presidente da CPI. Ajudamos a reforçar o poder da investigação, contratamos uma consultoria, o que garantiu a independência dos trabalhos - disse.