Com papel considerado crucial para a aprovação do impeachment, o chamado “centrão” da Câmara dos Deputados - bloco formado por PP, PR e PSD - vai ter papel decisivo também no processo que discute a cassação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No entanto, o comportamento desse grupo de parlamentares, que, somados ao PMDB, conta com 190 dos 513 votos no plenário, ainda é incerto.
Cunha é alvo de processo no Conselho de Ética por ter mentido à CPI da Petrobras sobre suas contas na Suiça – além de ser réu em processo de corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF). Depois de aprovado no conselho, para a cassação, é necessário maioria simples no plenário, ao contrário dos dois terços que foram exigidos para a admissão do processo de impeachment contra Dilma. No entanto, apesar dessa aparente desvantagem, o peemedebista pode ser “premiado” por sua condução do impedimento da presidente da República.
Confira estatísticas de como votaram os deputados no impeachment
Anistia já é discutida abertamente por aliados de Cunha na Câmara
A celeridade que Cunha imprimiu ao processo de impeachment de Dilma já dá força à tese de anistia ao presidente da Câmara.
Um dos defensores dessa posição é o deputado Paulinho da Força (SD-SP), um dos mais aguerridos defensores de Cunha .
“Todo mundo sabe que sem Eduardo Cunha não haveria processo de impeachment, graças ao trabalho dele foi possível tirar o PT do poder”, diz Paulinho, quando questionado se Cunha teria uma espécie de “anistia” pelos adversários de Dilma.
Aliados de Cunha dizem já ter maioria no conselho para salvá-lo. Hoje, têm o apoio de PR, PP, PTB, PRB, PSD, PSC, SD e parte do DEM para blindá-lo na Casa. Há uma avaliação entre os apoiadores do presidente da Câmara de que ele manterá o apoio do grupo.
No cenário geral, o grupo de partidos contrários a Cunha não se limita aos favoráveis a Dilma. Além dos votos do PT, PCdoB, PDT e PSol, parlamentares do PPS e do PSB também têm se mantidos firmes contra o presidente da Câmara. PSDB e DEM também têm se posicionado publicamente contra Cunha, mas ainda é cedo para dizer se a bancada votará unida nesta questão. Somados todos esses partidos, são 215 votos contra o presidente – de 257 necessários.
No resto da Câmara, há deputados se posicionando pela cassação do seu mandato. Entretanto, um número considerável de parlamentares tem se mostrado favorável ao presidente da Casa – inclusive no próprio Conselho de Ética, onde o processo contra ele atualmente tramita.
Maioria no Conselho
Desde que o relatório preliminar da denúncia contra Cunha foi aprovado, o presidente da Câmara tem executado manobras para dificultar sua condenação. Inicialmente, ele tentou aprovar um projeto de resolução que permite a troca de três membros do conselho – para tentar colocar deputados mais amigáveis. Essa proposta não avançou.
Uma segunda manobra, porém, surtiu efeito. O deputado Fausto Pinato (PP-SP), que chegou a apresentar relatório contrário ao peemedebista, renunciou à sua vaga no Conselho – e, em seu lugar, foi nomeada Tia Eron (PRB-BA), aliada do presidente. Com isso, em tese, a correlação de forças passa a favorecer o réu – que perdeu por um voto a votação do relatório preliminar.
Presidido pelo deputado José Carlos Araújo (PR-BA), o Conselho de Ética tem até 19 de maio para concluir a instrução e até 2 de junho para votar o parecer do relator Marcos Rogério (DEM-RO). Com as recentes mudanças na composição do colegiado, há sinais de que Cunha pode ter mudado a correlação de forças no grupo. Isso lhe permitirá enterrar eventual recomendação para cassação de mandato ou negociar uma punição mais branda.
“Centrão” também já cobra Temer por apoio ao impeachment
Aprovado o impeachment na Câmara, partidos do “centrão” que votaram majoritariamente a favor do impedimento no domingo (17) começaram a emitir sinais de cobrança ao vice-presidente Michel Temer, beneficiário do cargo de presidente caso Dilma sofra impeachment.
Em discursos ainda tímidos, lideranças do PP e PR e que trabalharam a favor do afastamento ressaltaram na segunda-feira (18) a importância dos votos que “deram a Temer”, classificados pela maioria deles como decisivos, e cobraram reconhecimento. Outro partido que já faz cobranças é o PTB.
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