O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta quinta-feira (12) que só voltará a se pronunciar na Justiça sobre suas contas no exterior, evitando esclarecer contradições existentes entre suas declarações sobre o assunto e os documentos enviados pela Suíça ao Brasil.
Como a Folha S.Paulo revelou, os extratos encaminhados pelas autoridades suíças à Procuradoria-Geral da República contrariam a versão do deputado de que ele nunca movimentou o dinheiro depositado em uma de suas contas por um lobista investigado na Operação Lava Jato.
Os documentos mostram que os recursos foram movimentados duas vezes no ano passado. Uma parte foi aplicada em ações da Petrobras e o restante foi transferido para uma conta de uma empresa de Cingapura que tem o próprio Cunha como beneficiário.
“Me cobram um documento ou a resposta daquilo que eu já respondi”, disse Cunha, referindo-se a entrevistas a veículos de imprensa na semana passada. “Não vou ficar comentando, porque todo dia tem uma especulação.”
Ele afirmou ter entregue à Folha de S.Paulo documentos que comprovariam sua versão sobre o dinheiro. Na verdade, os papéis apenas comprovam sua ligação com as contas que movimentaram seu dinheiro no exterior. As contas são controladas por empresas e “trusts”, dos quais ele é o principal beneficiário.
“Conversem com os advogados”, disse Cunha. “Vou apresentar juridicamente quando tiver que apresentar. Não vou ficar respondendo cada detalhe que publicar. Infelizmente, fui correto apresentando a documentação, mas parece que não adianta. Já que não adianta, vou reservar a representação para ser feita nos fóruns competentes.”
Em junho de 2011, o lobista João Augusto Henriques depositou 1,3 milhão de francos suíços (o equivalente a R$ 4,8 milhões hoje) numa conta de Cunha após intermediar a venda de um campo de petróleo na África para a Petrobras.
Em suas entrevistas à Folha de S.Paulo e outros veículos na semana passada, Cunha disse que os administradores da conta o informaram da transferência em 2012 e ele os orientou a manter o dinheiro intocado até que alguém o reclamasse.
Os extratos contam outra história. O dinheiro depositado Henriques ficou parado na conta Orion até janeiro do ano passado, quando 328 mil francos suíços foram convertidos em dólares para cobrir um investimento em ações da Petrobras na Bolsa de Nova York, no valor de US$ 362 mil.
A conta Orion era administrada por um “trust”, uma entidade criada para administrar o dinheiro em benefício de Cunha. A conta possuía valores em francos suíços, euros e dólares. Em abril de 2014, pouco depois das primeiras prisões da Operação Lava Jato, a conta foi fechada.
O saldo de 970 mil francos suíços foi transferido então para outra conta na Suíça que tem Cunha como beneficiário, controlada pela Netherton Investments, uma empresa sediada em Cingapura.
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