O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse na noite na note desta segunda-feira (21), em entrevista à TV Câmara, que o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff estará resolvido até março de 2016. Ele disse que o governo da presidente Dilma está vivendo um “momento de constestação” e que hoje ele não tem mais do que 200 votos de apoio na Câmara. Cunha afirmou que nunca um presidente foi alvo de tantos pedidos de impeachment e que “PT e PMDB já deram o que tinham que dar juntos numa aliança”. Ele disse que o presidente da Câmara não pode ser “empregado” do Executivo e avisou que a Casa continuará sendo uma “trava” ao aumento de impostos.
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“O ano de 2015 teve uma coisa atípica, que foi a aceitação do pedido de impeachment. E não vamos fechar os olhos, mas isso vai se resolver até março de 2016. Será um ano que terá muitas mudanças. O ano de 2015 não é um ano médio, da política. De tédio, nenhum de vocês morreu esse ano. O debate mais relevante de 2015 é que mudamos o conceito de que a Câmara tem que ser um anexo do Palácio do Planalto. O governo não tem mais do que 200 votos (de 513), não tem a maioria da Câmara; pode ter maioria no Senado. O governo acha que o deputado vai votar por causa de um empreguinho ou um cargo. Continuam na velha política”, disse Cunha, no programa “Conversa com o presidente”, acrescentando: “Se depender de mim, o PMDB e o PT já deram o que tinham que dar juntos. O PT queria submissão”.
Investigado na Operação Lava Jato por ter contas no exterior, Cunha procurou demonstrar tranquilidade diante do pedido de seu afastamento do cargo e ainda culpou o PT pelo esquema de corrupção na Petrobras. Ele disse que a Operação da Polícia Federal mostrou que o PT controlava o processo e acrescentou que a “corrupção custa caro” e tornou a Petrobras praticamente “insolvente”.
“A Operação Lava Jato teve o condão de mostrar como um partido se apropriou do poder. A culpa na corrupção da Petrobras é do PT. Um grupo que atua de forma quase criminosa. A corrupção custa caro. A Petrobras ficou praticamente insolvente”, disse Cunha.
Pressionado a deixar o cargo, Cunha disse que continuará se defendendo no Conselho de Ética contra o pedido do seu afastamento do cargo, afirmando que não se “contrange” por usar as regras do Regimento Interno para isso. Ele disse que, se necessário, recorrerá novamente ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Não vou me constranger ao exercer meu direito de defesa por acharem que é manobra. O que não dá é para atropelar o meu direito. E isso não vou permitir. Sou vítima se um processo eminentemente político — disse Cunha, defendendo que seu processo no Conselho tem que voltar à etapa da inicial com a escolha de um novo relator”.
No caso do Supremo, Cunha disse que ainda não dá para dizer se a Corte interferiu ou não no funcionamento interno da Câmara. Ele disse que só afirmará se houve “interferência ou não depois de o Supremo “clarear” suas decisões sobre o rito de um processo de impeachment na Câmara e no Senado. O STF contestou a eleição secreta realizada na Câmara para a escolha da comissão que analisaria o pedido do processo de impeachment.
Nesta terça-feira, Cunha pretende se reunir com o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, para tratar do assunto. Ele apresentará recurso ao Supremo, chamado de embargos. “Não queria dizer que houve uma interferência. Vamos embargar para clarear essa situação”, avisou Cunha.
Ele disse que 2015 foi um ano tenso e atípico e disse que o governo Dilma só teria uma recuperação se o cenário econômico mudar. Mas, para Cunha, 2016 será um ano muito difícil na economia. “É um momento de contestação do governo. Se o cenário continuar degradado, o governo vai perder mais credibilidade”, disse ele.
Além da turbulência na economia, Cunha disse que as eleições municipais serão “o caos” por causa das decisões sobre proibição de doações, por exemplo. Para ele, o processo foi “judicializado”. “Para 2016 ,será o caos [as eleições]”, disse ele.
Cunha disse que o governo Dilma é incompetente na gestão e distribui cargos. Para ele, ao não cortar despesas, gerou o caos na economia. “O governo me parece incompetente na gestão e procura distribuição de benesses. E ambos estão dando errado: a gestão e a manipulação política”.
Ele disse ser favorável ao parlamentarismo, mas disse que falar nisso nesse momento “cheiraria a golpe”.
Quanto à polêmica sobre a liderança do PMDB na Câmara, Cunha disse que não se pode mudar o líder a cada semana. O líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ) conseguiu retomar a vaga numa disputa com o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG). “Não gostaria que esse tempo voltasse [de troca de líder toda semana]. A melhor maneira talvez seja uma eleição, mas não pode ser uma eleição artificial. Também venci numa disputa apertada. O problema é que, depois que venci, busquei ser porta-voz da bancada. O líder não lidera nada quando não funciona como a voz da maioria”, disse ele, numa crítica a Picciani.
O programa durou uma hora, e Cunha foi perguntado sobre seu processo e sobre a questão do impeachment, entre outros assuntos.