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O vice-presidente Michel Temer: rejeitando o papel de “coordenador de RH” do Planalto. | Ueslei Marcelino/Reuters
O vice-presidente Michel Temer: rejeitando o papel de “coordenador de RH” do Planalto.| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Liderada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ala do PMDB que prega o rompimento definitivo com o governo ganhou corpo com a decisão do vice-presidente Michel Temer de deixar o “varejo” da articulação política da gestão Dilma Rousseff. Cunha defendeu que o partido adiante o congresso nacional de novembro e antecipe a decisão sobre o possível afastamento total. Para o parlamentar, Temer foi “sabotado” durante o período em que assumiu as negociações políticas.

O vice-presidente era responsável, desde 10 de abril, pelas tarefas da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República. O órgão tem status de ministério e cuida do relacionamento do governo com parlamentares. Defende as propostas consideradas prioritárias para o governo no Legislativo, mas concentra as demandas por liberação de recursos e cargos feitas pelos congressistas.

Dilma sofre com sucessão do “ministério que ninguém quer”

  • Brasília

Responsável pelo diálogo do governo com os parlamentares, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) virou um dos raros ministérios pouco cobiçados da Esplanada durante a gestão Dilma Rousseff. Primeiro a ocupar o cargo, Luiz Sérgio (PT-RJ), foi apelidado de “garçom” – anotava as demandas dos parlamentares, mas ficava sempre à mercê das decisões tomadas pela “cozinha” gerida com mão de ferro por Dilma. Com menos de um ano no cargo, foi substituído por Ideli Salvatti (PT-SC), que ficou entre 2011 e 2014, também sem força política.

Em janeiro de 2015, Dilma nomeou o deputado federal Pepe Vargas (PT-RS). O petista também foi rechaçado pela base aliada no Congresso devido ao fracasso nas negociações da campanha de Arlindo Chinaglia (PT-SP) contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na disputa pela presidência da Câmara, em fevereiro. Apelidado de “Pepe Legal”, foi substituído por Temer, que nunca chegou a assumir o ministério de fato.

Quem passou a trabalhar no comando do dia a dia da pasta foi o paranaense Rodrigo Rocha Loures, nomeado por Temer para a chefia de gabinete. “Caberá a Dilma definir o novo ministro. Por enquanto, continuamos ajudando”, relatou Rocha Loures. Se depender do vice-presidente, há chances de ele ser promovido.

Outro que vai deixar em setembro as tarefas relacionadas à SRI é o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha. Em abril, antes de Temer, ele foi convidado pela presidente para assumir em definitivo o ministério de articulação, mas não aceitou. (AG)

“A saída dele [Temer] da articulação é um bom sinal. E eu estou defendendo que o congresso do PMDB seja adiantado, para a gente discutir a possível saída do PMDB do governo”, disse Cunha ao jornal Folha de S.Paulo, após visita à Assembleia Legislativa de São Paulo. Antes dele, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já havia criticado o papel exercido pelo vice-presidente – declarou em maio que o PMDB não poderia ser transformado em “coordenador de RH” do Planalto. Há três semanas, no entanto, Renan iniciou um processo de reaproximação de Dilma.

Cunha rompeu com o governo há um mês, após divulgação do depoimento do ex-consultor da empresa Toyo Setal, Júlio Camargo, que acusou o presidente da Câmara de receber US$ 5 milhões em propina desviada da Petrobras. Na semana passada, foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

“É um erro achar que essa história de deixar o governo é só do Eduardo, por problemas dele. Logo depois da notícia da saída do Temer, vários colegas comemoraram e disseram que esse era o primeiro passo para um rompimento definitivo do partido com a gestão Dilma”, descreveu o coordenador da bancada federal do Paraná, João Arruda (PMDB). Outros dois peemedebistas paranaenses, Sérgio Souza e Osmar Serraglio, confirmaram a ascensão do grupo contrário à presidente.

“Fica difícil para o PMDB dar sustentação a um governo impopular se ele não é nem tratado como parte desse governo”, defendeu Serraglio. “Aconteceu num momento conturbado, mas já era esperado. O Temer indicava que estava cansado desse trabalho”, declarou Souza.

O vice-presidente se afastou da SRI, mas se dispôs a continuar sendo o articulador do governo em questões macropolíticas. A tendência é que ele se dedique apenas à relação entre poderes, mas permaneça fora de todas as negociações político-partidárias do cotidiano do Congresso. “Quem leu a decisão de ontem como um rompimento está enganado, o trabalho continua sendo feito, mas em outras esferas”, avaliou o chefe de gabinete da SRI e presidente do PMDB-PR, Rodrigo Rocha Loures.

Opinião: Quando Hermes se torna mais poderoso do que Zeus

Michel Temer está em vias de se afastar da posição de articulador político do Planalto. São vários os motivos: a) falta de autonomia para estabelecer negociações; b) rusgas com o ministro Joaquim Levy; c) desconfianças por parte do PT.

Surgem as perguntas: a) o PMDB abandonará, totalmente, o governo? b) o governo encontrará alguém para costurar a estabilidade política?

Embora parte do PMDB tenha debandado com Eduardo Cunha, outra, aparentemente, está sob a batuta de Temer. Não porque ele tenha o mesmo tipo de mando que Cunha, mas porque sua capacidade de negociação e moderação une opositores, ainda que circunstancialmente.

Temer é fruto da crise política e econômica e o tamanho do seu poder deve ser medido em razão do tamanho da crise.

A crise econômica se arrastará para 2016, restando ao governo amainar os ânimos na política para terminar o mandato e manter alguma influência do PT no cenário nacional. Temer teria esta tarefa.

Quanto custa a salvação do governo?

O custo, além da troca de cadeiras nos ministérios e nos escalões inferiores, é significativo, porque o governo estará diante de um dilema: ou salva o (seu poder no) presente para sacrificar o futuro, ou, arrisca tudo para ter os dois, sob o risco de não ter nenhum deles.

Se Temer não for demovido da ideia, será necessário criar uma nova base de apoio, em meio à desconfiança generalizada, criada pelo próprio governo.

Quem seria a pessoa capaz de restabelecer a confiança perdida, que não fosse do desgastado PT e que estivesse a ele submisso?

Antevendo a catástrofe, alguns interlocutores do PT se apressaram para convencer Temer a permanecer no posto de “Hermes”.

Caso Temer suplante a mágoa, o governo será forçado a tomar uma posição clara: terá que sacrificar o projeto de poder do seu partido para manter-se, minimamente, até 2018. Estará assim, à mercê de Temer e de seus aliados.

É difícil imaginar que, pela primeira vez, o PMDB passe a ser oposição.

Se Temer ficar poderá exigir mais do governo. Se afastar-se, o fará sem romper com o Executivo. Pregará moderação, sem empreender esforços neste sentido. Permanecerá o status quo à espera da bonança. Nesta situação será o governo quem deverá tomar as iniciativas para fazer com que seu maior articulador se mova.

Em qualquer hipótese, o mensageiro mostra-se mais forte que Zeus, seja por ação, seja por omissão.

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