De férias com a família no interior de São Paulo, Ratinho Jr. (PSD) pode retomar seus últimos meses de trabalho à frente da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (Sedu) a partir da próxima segunda-feira (16). Aliados próximos do deputado estadual licenciado afirmam que são reais as chances de ele deixar o governo em março ou abril. Tomada de olho na corrida pelo Palácio Iguaçu em 2018, a saída – se vier a ocorrer – terá como principal motivador um decreto editado pelo governador Beto Richa (PSDB) em novembro do ano passado retirando da Sedu a autonomia para firmar convênios com os municípios do estado.
A relação entre Ratinho e Richa começou a azedar no segundo turno da eleição para a prefeitura de Curitiba. Principal apoiador de Rafael Greca (PMN), o tucano foi duramente atacado por Ney Leprevost (PSD) na reta final da disputa. “Não posso aceitar que meus aliados, secretários de estado como o Ratinho e o [Eduardo] Sciarra, permitam uma campanha difamatória como a que o Ney tem feito em relação a mim. Se houve rompimento, que tenham a dignidade de me avisar”, disse o governador dias antes do pleito.
Tentativa de minimizar os danos
Se decidir retornar à Assembleia Legislativa, Ratinho Jr. (PSD) ficará numa posição no mínimo desconfortável. A saída do governo poderia passar uma imagem de rompimento com o governador Beto Richa (PSDB), o que, ao menos na teoria, o levaria para a oposição ao tucano na Casa. No entanto, além de Ratinho não ter esse perfil, uma mudança repentina de posição poderia ser mal interpretada pelo eleitor. Por isso, uma “solução salomônica” seria passar o comando da Sedu para as mãos de João Carlos Ortega, braço direito de Ratinho e atual diretor-geral da pasta.
“Seria algo na linha ‘não vamos quebrar os potes’, e o Ratinho vai cuidar da vida dele”, avalia um deputado do grupo PSD-PSC. Para ele, esse caminho seria o ideal inclusive para Richa, que já está tendo que lidar com outros nomes para sucedê-lo dentro da base aliada: a vice-governadora Cida Borghetti (PP) e o chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni (PSDB), além das especulações em torno do ex-senador Osmar Dias (PDT).
A gota d’água, porém, se deu quatro dias após a vitória de Greca. Num decreto de sete artigos, publicado em 3 de novembro, Richa criou o Comitê de Investimento do Sistema de Financiamento de Ações nos Municípios do Estado do Paraná. Pelo texto, cabe ao grupo – e não mais a Sedu – autorizar a celebração de convênios com os 399 municípios paranaenses. Apesar de formalmente o comitê ser presidido por Ratinho, na prática a última palavra nesses casos passou às mãos do governador, cujo representante direto no grupo é o chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni (PSDB).
“O Ratinho entendeu que o decreto foi dirigido para ele. Ele perdeu a autonomia que tinha no cargo e se desencantou com o governo”, afirma um deputado da bancada de 14 parlamentares do PSD e do PSC, que é liderada por Ratinho. “Eu, no lugar dele, teria uma conversa franca com o governador. Diria que a situação não está confortável, que, quando ele entrou no governo, as coisas não eram assim, que ele precisa de uma margem de manobra para trabalhar. E, se o Beto não tomar nenhuma atitude, o negócio é cair fora [da Sedu].”
Outro parlamentar da base governista garante que Richa e Ratinho tiveram uma conversa às vésperas do Natal em relação ao decreto e a situação teria se acalmado. Apesar de as arestas terem sido aparadas, no entanto, ele classifica como uma incógnita os próximos passos do até agora secretário do Desenvolvimento Urbano. “Pode ter parecido retaliação, quatro dias depois da eleição. Mas o decreto vale para a Fernanda Richa, para o Pepe Richa, para todos os secretários. O Beto explicou isso numa conversa amigável e eles se entenderam”, revela. “Segunda-feira ele [Ratinho] retorna de férias, e o governo entende que tudo segue normalmente. Mas, se houver indisposição, vamos saber na semana que vem. De fato há gente dizendo que ele vai sair [do governo].”
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