A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de restringir as coligações para as eleições de outubro pegou todos os partidos de surpresa às vésperas das convenções para homologação de candidaturas.

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Na terça-feira, o TSE determinou que partido que não tem candidato a presidente só poderá se coligar nos estados com outro partido que não tenha candidato próprio ao Planalto nem seja coligado com outro que tenha candidato a presidente.

A medida atinge em cheio o PMDB - que não teria candidato próprio a presidente para ficar livre para se coligar nos estados - e partidos pequenos, que contam com alianças regionais para superar a cláusula de barreira, pela qual só terá direito a funcionamento parlamentar o partido que , obtenha o mínimo de 5% dos votos no país. O presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP), afirmou à Rádio CBN, q ue é possível, inclusive, que o PMDB lance candidato próprio a presidente da República.

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O presidente do TSE, Marco Aurélio , recorreu a uma alegoria para explicar o casamento entre os partidos:

- Isso resulta em casamento único e a relação subseqüente no estado ser tomada como concubinato. E o concubinato é condenável - disse.

Segundo Marco Aurélio, o TSE não fez nova interpretação, apenas esclareceu a regra da verticalização. Perguntado se o TSE pode mudar a interpretação, Marco Aurélio disse que é possível, mas não acredita que isso ocorra.

Por esta regra, se PFL e PSDB mantiverem a aliança nacional, o PFL não poderá apoiar a candidatura de Denise Frossard (PPS) no Rio, por exemplo, como está negociando o prefeito Cesar Maia (PFL). Nesse caso, PFL e PSDB terão que encontrar um candidato comum no Rio. O PSDB já tem o deputado federal Eduardo Paes como pré-candidato.

No caso do Distrito Federal, se mantida a aliança nacional PFL e PSDB, não será possível o lançamento de duas candidaturas como está sendo negociado, da governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB) e de José Roberto Arruda (PFL).

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- Não, nós não temos a posssibilidade de entender viável o antagonismo contrariando uma união verificada a nível nacional, o antagonismo no estado. Não é aceitável, pelo menos sob o meu ângulo, que partidos coligados - considerada a Presidência da República - sejam partidos antagônicos na disputa em qualquer dos estados brasileiros.

Em entrevista ao site de Miriam Leitão, Marco Aurélio deu mais exemplos de como a regra nos estados ficou mais dura. Clique e leia mais aqui.

A decisão causou perplexidade e gerou diferentes interpretações sobre o impacto do novo rigor da verticalização - regra pela qual os partidos são obrigados a reproduzir nos estados as alianças feitas para disputar a eleição presidencial - levando as legendas a se reunirem para tentar entender a orientação do TSE e assim, decidir sobre as alianças regionais e nacional.

- É possível que mude o quadro. Aqueles que não queriam a candidatura própria, não queriam para fazer as alianças como bem entendessem nos estados. Agora, se estão proibidos é claro que perde relevância ter ou não ter candidato à Presidência da República. Já achava que não era mais possível. Mas de ontem à noite pra cá, comecei a perceber uma movimentação, no sentido de que, é melhor ter candidato - afirmou Temer à CBN.

Ao menos um partido, o PPS, já decidiu adiar a convenção, do dia 16 para o dia 29 de junho. O PFL pode fazer o mesmo e transferir a sua convenção, de quarta-feira da semana que vem para o dia 21 de junho. Já o PSDB manteve a convenção no domingo, mas segundo o presidente do partido, Tasso Jereissati, o partido deve delegar para Executiva Nacional a decisão final sobre a indicação do vice da chapa de Geraldo Alckmin e sobre as alianças regionais.

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Dois pedidos de consulta sobre a decisão de terça-feira já chegaram ao TSE. O PFL pediu ao tribunal que a decisão seja publicada no Diário Oficial da União, para que o partido possa fazer um pedido de reconsideração. As dúvidas entre os políticos são muitas e eles têm pressa em resolvê-las, já que as convenções regionais começam no dia 10 de junho.

O presidente do PMDB afirmou que é possível que haja um retrocesso na política de alianças.

- Vamos ver qual é a reação dos estados. Eles que vão se manifestar durante o dia de hoje (quarta). Tenho a impressão que vai modificar toda a equação do jogo. Alguns estados trabalharam para não ter candidato tendo em vista as alianças que estavam sendo feitas lá, se essas alianças estão impedidas, talvez o lançamento à presidência da República pode até ajudar o candidato a governador.

A medida terá também impacto direto na formação das bancadas federais, já que mudará a composição de forças. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) acha que a decisão causa insegurança no meio político e traz prejuízos a algumas candidaturas:

- A decisão do TSE criou uma insegurança grande entre os políticos porque toda a preparação da aliança estava baseada na campanha de 2002. Eram possíveis acordos estaduais, mas a decisão muda as regras do jogo e foram implodidas candidaturas, como a de Denise Frossard no Rio, que só se manterá se o PFL sair da candidatura Alckmin - disse.

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Na opinião de Gabeira, o maior atingido pela decisão é o PMDB, que fez toda sua estratégia com base nas eleições regionais. Com a restrição, os peemedebistas não poderão fazer acordos nos estados com partidos que tenham candidato à Presidência.

- Sempre é necessário manter a segurança jurídica. Uma decisão como essa tem para a política o mesmo impacto de se mudarem as regras da economia. Ela é problemática - disse Gabeira.

Já o deputado e ex-ministro Eunício Oliveira (PMDB-PE) discorda da análise de que seu partido seja o maior prejudicado pela decisão. Segundo ele, o partido já vinha convivendo com a verticalização e não haverá mudança significativa com a decisão do TSE. Eunício criticou a verticalização, afirmando que ela tenta criar os partidos nacionais, quando no Brasil eles são formados nos estados. Na opinião dele, um dos efeitos imediatos da decisão de ontem do TSE é acabar com o palanque duplo, em que um político apóia o presidente Lula, por exemplo, mas sobe no palanque de um tucano nos estados.

- Para mim, a verticalização em si é uma regra ruim, mas o PMDB já estava convivendo com ela. Ela cria o desejo de partido nacional quando na prática os partidos são regionais, mas essa é a lei e vamos cumpri-la. O TSE não fez nada mais do que pôr em prática a verticalização. A lei diz que os casados têm que se manter casados e não podem trair e que solteiros podem coligar com solteiros. Os partidos vão começar a pensar nas alianças nacionais - disse.